O assunto de hoje não é jornalismo digital. Abro espaço para lembrar a trajetória de Otto Maria Carpeaux (1900-1978), um jornalista e crítico literário que tem muito a dizer a todos os que trabalham com texto e com cultura.
Morreu há trinta anos, em 3 de fevereiro, no Rio de Janeiro. Para as novas gerações, o nome deste austríaco-brasileiro talvez não represente muita coisa. No entanto, para muitos dos que estão hoje na casa dos 40 anos ou mais, o nome de Carpeaux certamente diz muito.
Durante quase quatro décadas, entre os anos 1940-70, Otto Maria Carpeaux escreveu e publicou centenas de artigos em periódicos, num ritmo quase semanal. Tamanha capacidade de trabalho gerou obras de referência ainda hoje valorizadas, como a História da Literatura Ocidental e a Nova História da Música, e o transformou num dos mais influentes críticos do país.
Nascido em Viena, Otto Karpfen (seu nome de família), viveu na juventude a agonia do império austro-húngaro e a turbulência que se seguiu à profunda crise política e de identidade vivida por seu país. Quando chegou ao Brasil, em setembro de 1939, vindo de Antuérpia, na Bélgica, onde se refugiara desde abril de 1938, após uma fuga desesperada da capital austríaca em 15 de março daquele ano, quando as tropas de Hitler entraram triunfantes na capital do ex-império austro-húngaro, o judeu convertido ao catolicismo Otto Maria Karpfen decidiu dar um tom francês ao sobrenome e passou a assinar Otto Maria Carpeaux.
Após um período de dificuldades financeiras (chegou a vender parte de sua biblioteca para sobreviver) e de adaptação (chegou a morar numa fazenda no interior do Paraná), Carpeaux instalou-se no Rio de Janeiro, onde trabalhou durante muitos anos como bibliotecário da Fundação Getúlio Vargas e colaborador fixo do Correio da Manhã, na época um importante jornal, e mais tarde para diversas publicações do país.
Aos poucos, foi revelando suas habilidades e exercendo influência marcante no ambiente literário brasileiro. Sua formação européia e o amor pela cultura e pela literatura o transformaram num de nossos primeiros e mais significativos mediadores culturais.
Erudito e ao mesmo tempo eclético, Carpeaux escreveu roteiros para o rádio e redigiu verbetes para as enciclopédias Barsa, Delta Larrousse. É também lembrado por seus artigos políticos e por seu engajamento nos anos 60, que lhe rendeu a reputação de defensor das liberdades civis. Uma vida dedicada à cultura e à formação do leitor não pode ficar no esquecimento.
Prof. Mauro