sábado, 28 de julho de 2007

Jornalismo colaborativo

A jornalista Ana Maria Brambilla escreveu um artigo sobre jornalismo colaborativo, onde ela discute a eficácia e os erros da participação de não-jornalistas nas notícias.

Depois que o UOL publicou uma fotomontagem sobre o acidente do avião da TAM, muitos críticos do jornalismo colaborativo aproveitaram a oportunidade para reiterar que não é possível fazer jornalismo colaborativo. Ana Maria diz exatamente o contrário: para ela, o jornalismo colaborativo funciona.

O artigo está disponível no site Jornalistas da Web.

segunda-feira, 23 de julho de 2007

Observações para o OBSERVATORIO PARA LA CIBERSOCIEDAD

Bruno Espinoza
Juliana Sayuri Ogassawara




Podemos avaliar as possibilidades de comunicação via internet no âmbito de estudos acadêmicos no Congreso Online do Observatorio para la CiberSociedad. O congresso online, essa ferramenta utilizada para a interação entre os pesquisadores, corrobora para reproduzir a comunicação unilateral entre academias no advento da internet? Além disso, a intenção do compartilhamento da informação do evento, de fato, colabora para a formação de uma sociedade “livre”, tendo em vista o fator da exclusão digital?



O CONGRESSO

Um espaço plural é a idéia-mestra a guiar o Observatório para la CiberSociedad (OCS). O observatório quer aprimorar-se como “um lugar onde todos os discursos possam se encontrar e estabelecer um diálogo ao redor de um ambiente que, cremos firmemente, lhes é o mais adequado: O próprio ciberespaço” [i]. De 20 de novembro a 3 de dezembro de 2006, realizou-se o III Congreso Online del Observatório para la CiberSociedad: Conocimiento abierto, Sociedad libre, a mais recente edição deste congresso internacional.


No presente artigo, focaliza-se a linha editorial do OCS, considerando que ao propor “conhecimento aberto e sociedade livre” para a atual cibercultura articulam-se interrogações acerca do contexto de globalização contemporânea, do modelo de hipertexto e da perspectiva da internet como memória. É preciso ainda pôr em relevo a exclusão digital como obstáculo para que se confirme uma sociedade “livre”, mais igualitária e autônoma.


Apesar da questão de acesso ao universo digital continuar como um tópico primordial para o OCS, os pontos “para quê?” e “para quem?” protagonizaram o último congresso realizado. Tendo em vista que a cibersociedade se expande constantemente, perfila-se o foco: “Qual é a cibersociedade que queremos?” [ii]. Diante do acúmulo de questões abertas a partir deste núcleo, o OCS pretende possibilitar um espaço para o diálogo: “El ciberespacio no es un lugar limitado, sino por el contrario, un espacio en movimiento constante para la interrelación, la interconexión, la sinergia y, por que no, también la confusión” [iii].


Na dimensão teórica, vale destacar que se analisa a Internet de acordo com o viés de Steven Johnson. A metáfora do “tumor cerebral” se ajusta às controvérsias do fenômeno da internet: um campo organizado, genialmente conectado, como um cérebro humano e, simultaneamente, um abscesso crítico e anárquico [iv].

[i] cibersociedad
[ii] Ibid.
[iii] Ibid.
[iv] JOHNSON, p. 86-91.



O CONTEXTO

É imprescindível ao debate sobre um congresso on-line, isto é, sobre um evento que se apóia na comunicação via rede mundial de computadores, constatar quais predisposições técnicas, econômicas e sócio-culturais favoreceram a sua implementação. Como bem observou Maria Clara Aquino, apoiada nas elaborações de Castells, as novas ferramentas propulsoras da cibercultura se desenvolveram na intensificação de um processo histórico que é designado por um termo já desgastado pelo uso, mas ainda constante: a globalização.


Entende-se que tal intensificação se examina com a franca ascensão das inter-relações em âmbitos que se conectam (sociais, cultuais, econômicos) concretizadas por diversos atores sociais (Estado, sociedade, mercados). Porém, o aspecto que mais nos importa é a alternância histórica do alicerce do sistema produtivo que, se outrora correspondia ao acúmulo do excedente produzido, atualmente se embasa na valorização de um produto pouco palpável. “A economia mundial guia-se sob as rédeas de uma nova mercadoria: a informação; e a comunicação medida por computador, além de influenciar o andamento do mercado mundial, possibilita a entrada nesta nova morfologia social” [i].


Essa “nova morfologia social” foi possibilitada por uma revolução tecnológica que “concentrada nas tecnologias da informação começou a remodelar a base material da sociedade em ritmo acelerado” [ii]. Indo além, diríamos que o ritmo acelerado dessa remodelação atingiu não somente a mercadoria na nova economia global. Na esteira da interferência histórica do sistema produtivo – que não é outro, senão o capitalista - nas relações sociais, a revolução tecnológica que celebra o processamento da informação infiltrou-se nas esferas mais particulares da sociedade, levando Maria Clara Aquino, na crença da coletividade privilegiada pela “sociedade da informação”, entusiasmar-se com a própria ascensão da Web:


"A Web é cada vez mais o espaço de representação de coletividade, na medida em que abriga as mais diversas manifestações de cooperação entre os usuários: sites de relacionamento, fóruns de discussão, chats, comunidades virtuais, blogs, fotologs, são apenas alguns dos exemplos que atestam o caráter de cooperação presente na Web. Movimentos como o do cyberpunk, o do software livre, a questão da música eletrônica e a difusão do mp3, jornalismo open source, etc, etc, etc" [iii].


Em contrapartida, se a Web fomenta o “espaço de representação da coletividade”, a partir das “manifestações de cooperação entre usuários”, a relação entre a rede, um instrumentalismo universal abstrato, e o ser, identidade particularista historicamente, não é vista com tanto entusiasmo por Manuel Castells:


"Nesta condição de esquizofrenia estrutural entre a função e o significado, os padrões de comunicação social ficam sob tensão crescente. Quando a comunicação se rompe, quando já não existe comunicação nem mesmo de forma conflituosa (como seria o caso de lutas sociais ou oposição política), surge uma alienação entre os grupos sociais e indivíduos que passa a considerar o outro um estranho, finalmente uma ameaça. Nesse processo, a fragmentação social se propaga, à medida em que as identidades se tornam mais específicas e cada vez mais difíceis de compartilhar" [iv].


Esta é a primeira contradição do movimento histórico guiado pela sociedade da informação: de um lado, a possibilidade de cooperação entre os usuários; de outro, a vasta possibilidade de identidades no ciberespaço que modelam seres, ou usuários, incomunicáveis.


Outro aspecto da ampliação da rede é a difusão das ferramentas informacionais. Fundamentados em números de acessos e aumento da interatividade on-line, entusiastas da democratização do conhecimento através do processamento da informação afirmam que:


"Levando em conta que no cenário da sociedade contemporânea ou na cibercultura as TICs já alcançaram um alto grau de difusão, a fase de adaptação e familiaridade em relação aos dispositivos e às diferentes formas de se publicar e acessar conteúdos por meio da internet foi vencida, encontrando-se num estágio consolidado para boa parte dos usuários" [v].

Interessa destacar “estágio consolidado para boa parte dos usuários”. Como se afirmou anteriormente, o sistema produtivo capitalista se projetou ao deslocar o privilégio do excedente para a primazia da informação. Um deslocamento, vale ressaltar, que também visa agregar valor a informação, originando o chamado capital-informação. Este projeto, se pretendia democracia,


"[...] poderá morrer, na medida em que as redes, crescentemente interativas, sirvam fundamentalmente ao transporte da informação que interesse à acumulação capitalista. A interatividade, então, longe de vir a ser uma prática real de democracia, não passará de um ato de escolha plebiscitária entre as opções oferecidas pelo “mercado”, logo valorizadas pelo capital" [vi].


Tendo em vista o percurso de natureza excludente da antiga produtividade calcada no excedente produtivo, não é de se estranhar que o acúmulo do capital-informação acentuará não somente a tensão entre a rede e o ser de Castells, mas também a tão em voga exclusão digital. Afinal, a formulação de estratégias empresariais lucrativas na Web, ou simplesmente a reprodução destas estratégias “não buscam, de fato, a propriedade física das redes. Basta-lhes poder controlá-las logicamente” [vii], o que fundamenta a lógica do capital-informação. Apesar das inovações da microeletrônica, as infovias ou redes digitais, os espaços abertos não estão abertas para todos.


[i] AQUINO, 2006.
[ii] CASTELLS, 2002, p. 39.
[iii] AQUINO, op cit.
[iv] CASTELLS, op. cit., p. 41.
[v] BARBOSA, 2004, p. 3.
[vi] DANTAS, 1995, p. 54-55.
[vii] Id., p. 45-46.



OS NÓS DO Observatorio para la CiberSociedad

O marco inicial desta experiência em rede data de setembro de 2002, com o I Congreso Online del Observatório para la CiberSociedad: Cultura y Política @ Ciberespacio. A temática da cibersociedade reunira cerca de setecentos participantes de todos os países que têm o espanhol como língua oficial. Após o encontro na internet, restaram aos participantes os compromissos em difundir esse pensamento a propósito de uma cibersociedade em um Manifiesto por el ejercicio de uma ciberciudadanía activa, responsable y comprometida.


"Debido al éxito obtenido en aquel primer Congreso y al reconocimiento institucional y académico conseguido con estos logros, el OCS percibió la necesidad del propio medio por tener un espacio permanente de estas características" [i].


A continuidade desse pensamento se dera em novembro de 2004, com o II Congreso Online: ¿Hacia qué sociedad del Conocimiento? Desta vez, quatro mil participantes compareceram à edição do encontro, entre acadêmicos, empresários e autônomos, instituições e entidades públicas. A partir daí inicia-se “a idéia de consolidação do OCS como catalisador no fomento e dinamização do estudo e da reflexão ativa sobre a cibersociedade” [ii].


Considerando o contexto de “midiamorfose”, no qual as tecnologias de informação e comunicação (TICs) alcançaram um nível considerado como “ordinário” devido à ampla utilização na vida cotidiana [iii], no ano passado, o III Congreso Online: Conocimiento abierto, Sociedad libre apresentou como proposta editorial:


"Se trata de algo transversal y estratégico. Las TIC son herramientas, medios y espacios de capacitación, por lo que no constituyen un bien o un objetivo en sí mismas, sino un potente acelerador social y económico/laboral; individual y colectivo. Por ello, el interés generalizado en la universalización del uso de estas tecnologías nace del presupuesto de que si contamos con un conocimiento abierto, o un acceso al conocimiento sin restricciones ni obstáculos, quizá alcancemos unas sociedades más igualitarias, autónomas y capacitadas. En definitiva, una sociedad más libre" [iv].


Uma particularidade deste congresso bianual está em seu caráter “colaborativo”, de acordo com o qual, o OCS convida a todos – indivíduos, grupos, entidades, universidades e empresas – que queiram participar deste debate em rede. Os interessados puderam participar como congressistas, apresentar artigos acadêmicos como comunicante, auxiliar mediante o Comitê de organização ou atuar como coordenador de um grupo de trabalho (GT). As inscrições foram gratuitas e permitiam aos participantes de todos os níveis intervir nos fóruns e acessar todos as matérias. Os visitantes, por sua vez, podiam – e ainda podem – visitar as páginas livremente, apesar de não poderem usar as ferramentas destinadas à interação. Também podemos sublinhar o patrocínio indicado na home do OCS: Diputació de Barcelona [v], Xunta de Galícia [vi], Ajuntament de Cornella de Llobregat [vii], Secretaria de Telecomunicación Societat de la Información [viii] e Plan Avanza [ix].


A temática do congresso enfocou cinco grandes eixos temáticos, a saber: Política e mudança social; Identidade e grupos sociais; Comunicação e cultura; Educação e aprendizado; Crítica e inovação. Para sua estrutura técnica, o congresso contou com uma base similar a de demais encontros cibernéticos, constando ferramentas como perfis, fóruns, listas de discussão, notícias, chats, grupos etc. Os eixos temáticos são os principais vínculos estruturados pelo OCS, a espinha dorsal desse hiperdocumento. Apesar da ordem devidamente segmentada no sítio OCS, há lacunas para uma “desordem” de nós que nos possibilita designá-lo como um hipertexto, visto que:


"Tecnicamente, um hipertexto é um conjunto de nós ligados por conexões. Os nós podem ser palavras, páginas, imagens, gráficos ou partes de gráficos, seqüências sonoras, documentos complexos que podem eles mesmos ser hipertextos. [...] Navegar em um hipertexto significa portanto desenhar um percurso em uma rede que pode ser tão complicada quanto possível. Porque cada nó pode, por sua vez, conter uma rede inteira" [x].

Há possibilidades mil para se traçar um caminho no “labirinto” do OCS. Um artigo acadêmico pode se relacionar com artigos de diferentes GTs, encaminhando o leitor a um amplo leque de possibilidades de texto. Além disso, a plataforma do Observatorio também autoriza o feedback para o autor do texto. Destarte, o formato deste hipertexto, de acordo com as classes propostas por Alex Primo [xi], seria o de hipertexto cooperativo:


"Este tipo de hipertexto [...] remete à questão da construção coletiva, pois o hipertexto é construído através do debate entre autor e usuário da página. Assim, a discussão contínua é responsável por modificar a trilha de associações a medida em que é construída, tanto por usuário quanto por programador" [xii].


Predomina, portanto, o caráter interativo no hipertexto. Esta é uma característica que reitera as pretensões editoriais do congresso: ser um espaço plural, aberto ao diálogo e em movimento constante para a inter-relação e a sinergia. Nesse campo, o leitor atua como um editor potencial uma vez que pode ler, adicionar notas e republicar um documento, respeitando, porém e sempre, os direitos autorais do congressista.


O arquivo de documentos acadêmicos em formato Hypertext Markup Language (HTML) confirma uma tendência em armazenamento de informação, visto que em 2001 dois terços das revistas científicas migraram para o formato digital. As novas revistas criaram formas alternativas para publicação, como “é o modelo de disseminação do conhecimento em acesso aberto, isto é, o fluxo livre da informação científica” [xiii]. O formato digital proporciona benefícios como custos reduzidos, maior acessibilidade ao commons científico, maior visibilidade para os artigos, maior velocidade na dinâmica de descobertas científicas e:


"Ao redor desse novo modelo, tem se intensificado o movimento social de Acesso Aberto. Sua mola propulsora não foi apenas a Internet, mas também o desejo dos cientistas de fazerem uso das possibilidades novas de disseminação do seu trabalho através das tecnologias oferecidas pelo advento e desenvolvimento da Internet" [xiv].


Sob esse prisma, a internet como memória assume um papel importantíssimo. Além de armazenar conhecimentos adquiridos, ela amplia a comunicação entre informações e indivíduos, o que facilita, cada vez mais, a produção de novos saberes. Manuel Castells assinala que na sociedade em rede,


"No novo modo informacional de desenvolvimento, a fonte de produtividade acha-se na tecnologia de geração de conhecimentos, de processamento da informação e de comunicação de símbolos. Na verdade, conhecimento e informação são elementos cruciais em todos os modos de desenvolvimento, visto que o processo produtivo sempre se baseia em algum grau de conhecimento e no processamento da informação" [xv].


[i] www.cibersociedad.net
[ii] Ibid.
[iii] GRAHAM, 2004; HERRING, 2004; LIEVROUW, 2004 apud BARBOSA, op cit., p. 2-3.
[iv] www.cibersociedad.net.
[v] diba
[vi] conselleriaiei
[vii]
cornellaweb
[viii] gencat
[ix] planavanza
[x] AQUINO, 2006.
[xi] PRIMO, 2002.
[xii] Id.
[xiii] EVELYN, 2007.
[xiv] Ibid.
[xv] CASTELLS, 2002, p. 53.



PONTUAÇÕES

Nesse cenário, é válido pôr em tela o OCS (suas características, contradições, críticas) na cibersociedade analisada sob a perspectiva teórica exposta. Nesta análise, examinam-se duas questões problemáticas.


O primeiro ponto se situa em formular uma crítica à faceta restritiva do congresso, visto que as portas estão abertas, mas nem tanto. Visitantes comuns podem espiar os textos, até copiá-los e recomendá-los a amigos. Entretanto, apenas os participantes devidamente inscritos possuem o direito de opinar no site, de publicar comentários e respostas. A área continua restrita por portas que pedem login e senhas. Em seguida, e ainda nesta linha de raciocínio, é válido lembrar que a rede, inicialmente em 1969, se destinava tão-só para interligar laboratórios, centros de pesquisa e universidades. O uso comercial fora liberado só a partir de 1987 nos Estados Unidos [i]. Todavia, será que o domínio da rede para fins como o visado pelo OCS continua acantonado à academia? Isso não contraria o estandarte de conhecimento aberto para todos? Logo, como poderia conciliar a teoria do OCS à pragmática da net? Afinal, enquanto laboratório intelectual, o OCS deveria expandir seus saberes à imensidão da rede?


[i] Cf. BRETON, 1991 e NEGROPONTE, 1995.



Como diz o Observatorio para la CiberSociedad, “o ápice da participação democrática se dá quando o conhecimento é adquirível, isto é, quando se cumpre com o ideal da sociedade da informação” [i]. Tal como idealizava o marxista Bertold Brecht “que propunha aproveitar as tecnologias de informação como infra-estrutura da esfera pública democrática” [ii]. À época de Brecht, esse ideário fracassou principalmente porque os Estados Unidos liberaram os monopólios de telecomunicações. E na atualidade?


Os otimistas da cibercultura vibram com o surgimento das ferramentas que procuram possibilitar a participação ativa do usuário na construção do conhecimento. Os mais pessimistas ainda temem uma entropia de informações, um caos informático e uma ausência de certeza quanto à veracidade dos que é vinculado na rede [iii].


Oposto às aspirações do Observatorio para la CiberSociedad, a perspectiva para o futuro que predomina aqui é a acreditada por De Landa: No futuro próximo da Web, a disputa se acirrará entre poderosas forças hierárquicas, Aol Time Warner, Yahoo!, Estados etc, e as forças descentralizadas, nós [iv].
[ii] DANTAS, 1995, p. 54.
[iii] AQUINO, op. cit.
[iv] JOHNSON, 2003, p. 204-205.



AQUINO, Maria Clara. “Um resgate histórico do hipertexto”. In: Revista da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação. São Leopoldo: Universidade do Vale do Rio dos Sinos, UNIrevista, vol. 1, n.° 3, julho de 2006. Disponível on-line em: http://www.unirevista.unisinos.br/_pdf/UNIrev_Aquino.PDF.
BARBOSA, Suzana. “Bancos de dados: Agentes para um webjornalismo inteligente?”. In: V Congreso IberoAmericano de Periodismo en Internet, novembro de 2004. Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia. Disponível on-line em: http://www.facom.ufba.br/jol/pdf/2004_barbosa_agentes_inteligentes.pdf.
BRETON, Phillippe. História da informática. São Paulo: Editora Unesp, 1991.
CANAVILHAS, João Messias. “A internet como memória”. In: Biblioteca On-line de Ciências da Comunicação. Disponível on-line em:
http://www.bocc.ubi.pt/pag/_texto.php3?html2=canavilhas-joao-internet-como-memoria.html
CASTELLS, Manuel. “Prólogo: A rede e o ser”. In: A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 2002, p. 39-66.
CORDEIRO, Andréia. “O que é o hipertexto electrónico?”. In: Digilitweb. Disponível on-line em: http://www.uc.pt/diglit
DANTAS, Marcos. “A lógica do capital informação: Fragmentação dos monopólios e monopolização dos fragmentos num mundo de comunicações globais”. In: Comunicação & Política, v. 3, n. 1, 1995, p. 34-57.
PINTO, Cristina Evelyn. “Acesso aberto”. In: Open Archives Inititative, março de 2007. Disponível on-line em: http://clube-oai.incubadora.fapesp.br/portal/bibdig/openaccess
JOHNSON, Steven. Emergência: As vidas conectadas de formigas, cérebros, cidades e softwares. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003.
NEGROPONTE, Nicholas. Vida digital. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
Observatorio para la Cibersociedad. Site oficial: http://www.cibersocietat.net/
PRIMO, Alex Fernando Teixeira. “Quão interativo é o hipertexto?”. In: Encontro da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação, Compós, 2002. Disponível em: http://www.comunica.unisinos.br/tics/?page=textos2002.

sábado, 21 de julho de 2007

Nova Era

A Internet, nos últimos tempos, entrou em uma ascendente que cresce de forma assustadora. Cada vez mais, os lares possuem um micro computador, e as famílias acessam com mais profundidade a grande rede. Paralelamente, a Web vem se estabelecendo como a nova mídia, despontando no cenário jornalístico junto aos meios tradicionais, como o rádio, a televisão e os jornais impressos. Não somente se fixando como um espaço sólido no mercado midiático, a Web extrapola os limites da produção jornalística, modificando os padrões conhecidos da notícia, citados por Beatriz Ribas, “quais sejam, hipertextualidade, interatividade, multimidialidade, personalização, memória e atualização contínua”.

Desde a década de 70, com o primeiro e grande vislumbre de informatização da notícia com a experiência do conhecido jornal The New York Times, a prática jornalística na Web tem sido adaptada e remodelada. Na década de 80, Anthony Smith já fazia considerações acerca dos serviços de telefonia e sua relação fundamental com as empresas jornalísticas. “O serviço telefônico desempenha um papel direto e útil na construção das notícias” (SMITH, 1980).

Produzir jornalismo na Web implica em compreender, inicialmente, o meio em que se está inserido. Quando na Internet, o usuário tem acesso a vários portais simultaneamente, pois tem uma gama de opções bastante extensa. Por ser inserida num ambiente tão multifacetado, a Web notícia deve atender a alguns princípios básicos, como rapidez, interatividade e interconexão entre temas. Os links atuam como verdadeiras portas de entrada e saída desses temas, interligando-os entre si conforme for mais conveniente. É o que Ribas define como o “mosaico de informações”, que possibilita ao internauta atingir diferentes posições a respeito de um mesmo assunto, ou conhecer mais sobre algum tópico relacionado, mas brevemente citado em uma determinada reportagem.

O hipertexto e os estágios do webjornalismo

Para entender o conceito básico de hipertexto, poder-se-ia imaginar um usuário acessando o website de notícias de sua preferência. Logo no topo da página, ele visualiza uma notícia sobre uma nova reforma ministerial no Governo Federal. Ao ler o texto, ele encontra uma série de elementos componentes, que não podem ser explicados no momento, pois, se assim fosse feito dentro daquele texto, sua proposta inicial e o tema principal seriam deixados de lado.

Para solucionar esse tipo de entrave, o internauta, curioso acerca de mais informações sobre determinado aspecto da notícia (uma palavra que remete à discussão do aborto, inserida num trecho da notícia que trate sobre o Ministério da Saúde, por exemplo), e se assim o website o possibilitar, pode clicar em links relacionados à matéria em questão. Assim, ele irá acessar um outro documento, mais explicativo sobre, no caso exemplificado, o aborto e sua polêmica discussão e recentes desdobramentos sobre o debate.

Em outras palavras, um texto na Web pode oferecer inúmeras facetas ao usuário, como notícias relacionadas, vídeos, imagens, áudios de entrevistas, dentre outros. Ao invés de visualizar um único texto sobre uma única temática, o leitor da Web pode acessar, através dos links, um sem-número de informações variadas, constituindo o que chamamos de hipertexto. Essa discussão nos remete aos conhecidos três momentos do jornalismo na Web, que, concomitantemente, nos levam a três paradigmas de narrativa para o webjornalismo.

Em um primeiro estágio, todo o texto dos jornais impressos é copiado para a Web, sem quaisquer tipos de adaptação à nova mídia ou formatação modificada. A possibilidade de expandir a leitura para outros temas relacionados, através de links, não existe nessa fase. Por esse motivo, o modelo narrativo que acompanha esse primeiro estágio é chamado de modelo Linear, nomeado assim por ser a narrativa dotada de começo, meio e fim identificáveis ao longo do texto.

Essa primeira fase evolui para um segundo estágio do webjornalismo, que trás o segundo modelo narrativo, a saber, o Hipertextual Básico. No referido modelo, a forma linear de leitura começa a ser quebrada gradualmente, ou seja, alguns links passam a compor os produtos da Web. Esses links são utilizados para melhor organizar as informações no texto. As mudanças desse estágio em relação ao anterior não são profundas. Aqui o leitor pode experimentar certo tipo de interatividade, ainda que de forma escassa e pouco definida.

Por fim, temos a terceira fase do webjornalismo, que trás consigo o modelo Hipertextual Avançado. Nesse momento, as narrativas passam a ser interligadas, e a interatividade atinge um nível bastante avançado. O leitor é remetido a publicações antigas sobre o tema que ele está lendo, além de poder acessar, sempre através de links, entrevistas em vídeo, imagens e outros recursos que fazem parte da nova narrativa jornalística. Alguns sites, nesse estágio, permitem que o internauta opine sobre o tema, seja através de blogs, ou dentro da própria publicação, além de disponibilizarem enquetes e salas de bate-papo.

O jornalismo na Web caminha para modelos cada vez mais avançados. Mas, antes disso, os usuários precisam apreender melhor das características da nova mídia, para que haja um processo mais eficiente. Com suas diferentes e variadas opções, a Web tem se tornado um importante e atrativo meio de inserção da práxis jornalística. Entretanto, parece ser constante a busca por uma linguagem própria e mais desprendida dos parâmetros já conhecidos utilizados por outras mídias.

Novos padrões

Adequação à nova mídia. Esse é um dos maiores desafios estabelecidos aos novos jornalistas. A procura por uma nova linguagem que se ajuste aos moldes da web é a máxima que conduz todos os esforços para a fixação e perpetuação da mídia digital como forma de informação.

A diferença que existe entre profissionais do meio impresso e quem trabalha na versão on-line não é a tecnologia empregada, mas sim o modo de pensar. “A internet está obrigando os profissionais a pensar em formato multimídia”, afirma Carlos Castilho em uma das publicações de seu blog. E isso é apenas uma síntese das novas rotinas que a web impõe aos jornalistas. A capacitação profissional é outro ponto chave, uma vez que exige do trabalhador flexibilidade e conhecimento das plataformas digitais para postagens e edição de vídeos, fotos e textos.

Nesse novo modelo de jornalismo “o mais importante é a capacidade de montar a narrativa com os ingredientes multimídia do que escrever o texto”, completa Castilho. Há também a competência do jornalista no que diz respeito ao relacionamento com o leitor. O profissional deve sempre manter atuante o canal de interação com o público como uma forma de demonstrar interesse pelo feedback e respeito àqueles que também participam da construção da notícia.

Trabalho coletivo

A maioria dos jornalistas ainda trabalha com a idéia de produção e divulgação linear da notícia. Acredita-se que cabe somente ao comunicador a tarefa de fabrico da informação, que somente ele possui a capacidade de criação e as ferramentas de publicação. Esse pensamentos vai na contra-mão das novas tendências. É cada vez mais ampla a participação do público tanto na via opinativa quanto no processo de modelação da notícia.

A passividade dos leitores tornou-se exceção nos processos noticiosos, ainda mais com o advento da Internet como mais um meio de divulgação de informação. O público é, agora, incômodo, “enxerido”, crítico e curioso quanto à participação na produção de matérias. Mas essa ânsia por ação direta incute ao público responsabilidade e desafios. Como novos produtores, os leitores passam a ter as mesmas obrigações éticas e morais no quis diz respeito à divulgação de notícias.

Mas os usuários ainda não conhecem seus limites e condicionamentos. Isso pode acarretar um descontrole na disponibilidade de materiais noticiosos e erros por vezes primários na produção jornalística. Há, também, uma preocupação em relação a segmentação de interesses para que “as preocupações possam ser resolvidas sem restrições”, afirma Castilho em mais uma de suas publicações.

Remodelação acadêmica

Dentre todas as áreas da comunicação, o jornalismo é a que mais sofre com as novas inovações da tecnologia da informação. E essa onda de atualizações está exigindo das escolas de jornalismo uma urgente revisão de métodos e conteúdos de ensino sob a pena de formarem profissionais defasados para o mercado.

O corpo docente das universidades ainda vê as tecnologias da web com olhos de deslumbramento. Não há uma conscientização da velocidade de penetração dessas tecnologias e muitas faculdades ainda consideram essa fase passageira, que não influenciará o modelo de jornalismo já instaurado.

A eficiência do ensino passa a sofrer quedas uma vez que o interesse de alunos pelas ferramentas da web é maior do que o dos próprios professores. Não existe um acompanhamento de mentalidade, um acordo mútuo de aceitação e remodelação à nova tecnologia. Isso decorre das muitas dúvidas ainda existentes sobre o melhor método de inclusão do jornalismo on-line na grade curricular das escolas de comunicação.

O trabalho na web exige do profissional conhecimentos além dos ensinados nas academias. O aluno precisa saber manusear as ferramentas disponibilizadas e isso coloca a Universidade em uma posição de questionamentos quanto ao modo como conduzir o ensino dessas inovações. Existe também o medo de até onde dar liberdade de criação ao aluno, pois a Internet permite uma gama infinita de ações e intervenções nos produtos midiáticos.

Como cita Castilho em matéria publicada em seu blog no dia oito de fevereiro, “a universidade tem uma função experimental insubstituível na questão da comunicação on-line porque, nas atuais circunstâncias do país, é a única instituição capaz de pesquisar a interface humana e social das inovações tecnológicas, especialmente na área da informação”. Disso decorre as parcerias bem sucedidas entre o ensino acadêmico e a inserção das novas ferramentas midiáticas no meio profissional.

Marcel Pereira
Ricardo Sottero

quinta-feira, 19 de julho de 2007

O jornalismo na rede

Luciano Guaraldo

As novidades tecnológicas estão transformando radicalmente o ambiente de trabalho, as rotinas e as normas da atividade jornalística. O mais recente salto ocorreu com a popularização da internet, no fim da década de 1990, quando surge um novo panorama na sociedade mundial e, principalmente, na comunicação midiática.

Dessa vez, a mudança ocorreu não apenas no processo de produção, mas estendeu-se a ponto de alterar até mesmo o comportamento do público receptor da notícia. Anteriormente classificados como consumidores passivos, os leitores estão passando para a categoria de público ativo, com a possibilidade de interferir no conteúdo lido de diferentes maneiras. A interatividade com o leitor deixa de ser uma mera opção e torna-se uma obrigação, com a criação de fóruns, enquetes e grupos de discussão dentro de diversos jornais online.

Essa interação produtor-consumidor atingiu tal estado que está se estendendo para outras mídias. Na televisão, por exemplo, é cada vez mais comum observar apresentadores de televisão dizendo que “maiores informações podem ser encontradas no site do programa”, ou que algum especialista participará de um chat com o público que tiver dúvidas sobre o tema abordado.

O jornalista não é um profissional como um médico ou um advogado, pois a relação que o primeiro estabelece com seus clientes (os leitores) é diferente da estabelecida pelos outros. Como defende João Canavilhas, na obra Texto inteligente e qualidade (quase) zero, “o jornalista não oferece os seus serviços a um particular, mas a um conjunto de pessoas, entendendo essa missão como um serviço público” (2002, p. 1). Assim, sem o contato direto com seu cliente, torna-se praticamente impossível ao jornalista conhecer o público e seus desejos, especialmente porque um público grande e heterogêneo apresenta desejos distintos e, muitas vezes, contrários.

No jornalismo na web, a situação se complica ainda mais, pois o público que consumirá o produto não está restrito a um espaço geográfico; ele pode acessar a notícia de qualquer parte do mundo.

Uma recente dissertação de mestrado do norte-americano Max Magee, da Universidade de Northwestern, mostrou que a grande diferença entre profissionais do jornalismo online e de formas preexistentes não é a mera utilização das questões tecnológicas, e sim a forma diferente de pensar.

A internet, dentro de suas especificidades, obriga o webjornalista a criar seu texto em formato de hipermídia, produzindo narrativas não lineares que possibilitam ao leitor criar o seu próprio caminho de leitura, de forma que os diversos textos façam sentido em sua individualidade e também como um documento completo.

quarta-feira, 18 de julho de 2007

Hipertexto: Origem, Leitura e Novas Possibilidades de Uso

Rafael Drummond
Hoje, há quem diga que estamos vivendo uma terceira revolução industrial, onde as tecnologias de ciberespaço e a potencialidade do real através do virtual estão ganhando cada vez mais força. Talvez não só isso, mas estamos vivendo uma revolução silenciosa da nossa própria maneira de pensar. A Internet, grande veículo dessa virtualidade, do ciberespaço, tem sua origem numa nova forma de estruturação. Tal estrutura deu voz ao que muitos pensadores estavam formulando para as teorias da informação: uma forma não hierarquizada e descentralizada de lidar com os elementos.

Para facilitar e otimizar a comunicação a longa distância entre suas bases, em 1969 a Secretaria de Defesa dos Estados Unidos deu início ao projeto da Internet. O objetivo era criar uma rede de cabos com receptores descentralizados para que a comunicação nunca se rompesse, mesmo que um terminal falhasse. Sua estrutura seria revolucionária e levaria a tomar corpo em uma das linguagens usadas por esse suporte tecnológico com o advento da World Wide Web (WWW), em 1989: o hipertexto.
A idéia, o conceito, de hipertexto já existia, como verificaremos quando retomarmos a sua origem, mas ela ainda não era explorada. Sabemos, hoje, que sua potencialidade também não foi totalmente gasta e que há muito para acrescentar e se aproveitar dessa estrutura. O seu diferencial é não ser centralizado, ou não possuir uma forma já determinada de leitura, como há nos livros tradicionais em que o autor conduz a formação da informação na mente do leitor. Já no hipertexto isso pode ser quebrado pelo fato dele ser basicamente composto por blocos de informações que estão interconectados através de links (ligações) que se remetem ao próprio texto ou a canais externos.
Assim, aquele que ler o hipertexto pode passar para um bloco de informação sem ter que terminar o anterior. Da mesma maneira como a Internet é comparada a uma rede, o hipertexto também pode receber tal rótulo, pois se bem construídos cada link levará a novas associações e assim por diante. Maria Clara Aquino diz descreve exatamente essa característica dessa estrutura textual: “Navegar em um hipertexto significa, portanto, desenhar um percurso em uma rede que pode ser tão complicada quanto possível. Porque cada nó pode, por sua vez, conter uma rede inteira” (AQUINO, pág 2). A informação se construirá com a leitura do texto que o leitor escolher. Da mesma forma que o cérebro humano, o hipertexto tem a possibilidade de fazer associações por meio dos links com outros assuntos, de maneira muitas vezes aleatória.

Existe formato ideal para jornalismo no ciberespaço?

LIDIANE OLIVEIRA
THAIS NUCCI

O fenômeno da consolidação e da expansão vertiginosa da web como um meio utilizado habitualmente pelos seus usuários, em uma época já largamente denominada como a “era da informação”, gera a necessidade de se analisar essa mídia ainda em evolução, com o objetivo de explorar e desenvolver mais amplamente todos os recursos disponibilizados pela plataforma digital.

Muitos estudiosos da área acreditam que a maioria dos jornalistas ainda não se deu conta de que está produzindo notícias para um público que está mudando rapidamente de comportamento. Para Castilho, por exemplo, muitos profissionais agem como se nada estivesse acontecendo. Nessa linha, é possível notar que hoje, no Brasil, o jornalismo marca sua presença na internet ainda por meio das versões on-line de jornais impressos, juntamente a trabalhos de agências de notícias, de serviços de distribuição de notícias e de sites noticiosos especializados.

Por outro lado, os principais instrumentos da rede mundial agora trazem cada vez mais novos e ampliados recursos tecnológicos, que facilitam o desempenho de inúmeras atividades e funções jornalísticas. Nesse âmbito, um dos grandes desafios é, sem dúvida, definir um modelo a ser implantado, a fim de acarretar melhorias na qualidade gráfico-editorial da atuação jornalística produzida na rede.

O primeiro passo é instituir uma linguagem normalizada, com padronizações adequadas para o formato web. Para J. B. Pinho, os elementos que compõem a estrutura de hipertexto devem estar calcados nos seguintes parâmetros: não-linearidade, fisiologia, instantaneidade, dirigibilidade, qualificação, custos de produção e de veiculação, interatividade, pessoalidade, acessibilidade e receptor ativo. De acordo com ele, “a comunicação deve ser rápida e ágil entre jornalista, fonte e leitor”.

Paralelamente, existe também a necessidade de se realizar um trabalho com mecanismos que visem a relação entre produto e convergência das mídias, com o objetivo de se compor “estilos” próprios. O webjornalismo iniciou-se no Brasil em 1995 e, num primeiro momento, apresentou-se somente na forma de textos. Posteriormente, em 1997, foi introduzido o recurso audiovisual. Atualmente, já é difícil pensar no jornalismo sem a abrangência da convergência midiática.

Mas o que mudou e o que pode (e deve) mudar no chamado jornalismo do ciberespaço? A resposta ainda parece incerta. No entanto, cada um dos aspectos críticos que diferenciam a rede mundial das mídias tradicionais deve ser bem conhecido e considerado, para o uso adequado da internet como um poderoso instrumento de informação.

terça-feira, 17 de julho de 2007

O PAPEL REVOLUCIONÁRIO DA COMUNICAÇÃO

Com a vitória simbólica do Capitalismo no final do século XX, o mundo assistiu a uma unidade ideológica inimaginável cerca de um século atrás. Paralelamente a esse processo de rearranjamento das idéias, operacionalizou-se uma revolução nos transportes e na comunicação, que, por meio de aparatos sofisticados, integravam potencialmente toda a população e o território dos países incluídos em um todo único. A última e mais decisiva cartada nesta integração simbólica e real se deu no campo do virtual, por meio da informática.
Em 1969, com o advento da Internet em função da necessidade dos Membros da secretaria de Defesa dos Estados Unidos da América trocarem informações em uma alta velocidade e a longas distâncias, foi-se criando a plataforma para a revolução que se daria nos anos posteriores. Maria Clara Aquino, no artigo Um Resgate Histórico do Hipertexto: O desvio da escrita hipertextual provocado pelo advento da Web e o retorno aos preceitos iniciais através de novos suportes, lembra:
“Em 1989, o engenheiro de sistemas inglês, Tim Berners-Lee, através de muito trabalho, acabou inventando o HTML, um novo formato para armazenar documentos no disco rígido de um computador que tivesse acesso permanente à Internet. Cada computador teria uma localização específica, a qual acabou sendo denominada de URL. Para acessar a URL era necessário um protocolo que foi criado e denominado de HTTP. Em seguida forma criados os links, que dependiam das URLs. Para experimentar todo o seu trabalho, Berners-Lee, com a ajuda do engenheiro Robert Cailliau, criou um servidor e um brownser, possibilitando assim a entrada de milhares de usuários no ciberespaço”.
Um novo meio de comunicação, com todas as suas possibilidades de integração, aparecia não só como uma alternativa, mas como um meio singular e independente, tal como a televisão, o rádio e a imprensa. A grande vantagem da nova rede era a de oferecer, por meio de uma interface virtual, a união entre imprensa, rádio e televisão, somada a outras inúmeras possibilidades abertas pelo novo media, como os blogs, os chats, dentre várias outras, que ofereciam uma interatividade sem precedentes.
Durante o século XX, assistiu-se, conforme o modo capitalista de produção de consolidava, uma concentração de renda e de poderio econômico nas mãos de grandes grupos privados. Isto se deu com muita força também na área da comunicação, que apresentava como detentores cada vez menos representantes variados de diversos setores da sociedade (variedade que ocorria em São Paulo, por exemplo, no início do século XX, por exemplo, com os jornais das colônias de imigrantes), para o domínio de poucos grupos gigantescos.
A Internet possibilitou, mesmo com o advento dos grandes portais, uma saudável volta da “Anarquia”. A Internet, aliás, se constituí como um sistema notadamente anárquico, uma vez que com o enorme número existente atualmente de computadores pessoais, “criar” uma página pessoal ou um blog não é algo dispendioso. É estendida a um cidadão comum a possibilidade de apresentar voz e opinião a inúmeros setores da sociedade, tal como ocorria com as imprensas “caseiras” das colônias de imigrantes no século XX.
Para Maria de Aquino, “A Web é cada vez mais o espaço de representação de coletividade, na medida em que abriga as mais diversas manifestações de cooperação entre os usuários: sites de relacionamento, fóruns de discussão, chats, comunidades virtuais, blogs, fotologs, são apenas alguns dos exemplos que atestam o caráter de cooperação presente na Web. Movimentos como o do cyberpunk, o do software livre, a questão da música eletrônica e a difusão do mp3, jornalismo open source, etc. As formas são várias, diferenciadas entre si, com objetivos diversos, mas com a cooperação e a coletividade em comum. A Web está cada vez mais povoada por formatos que transparecem a coletividade prevista na proposta de hipertexto de Nelson e que assim se tornam responsáveis pela passagem de um espaço construído individualmente para a realização conjunta de um ambiente”.

DAS FORMAS DE DIFUSÃO DO CONHECIMENTO HUMANO.

O livro tem sido, desde o advento da técnica de Gutenberg, o principal meio de difusão de conhecimento humano. Não sem razão, após tal advento, a filosofia e a literatura assistiram a uma explosão de publicações sem precedentes, sobretudo sob o “guarda-chuva” intelectual de diversas correntes, como o Iluminismo, o Modernismo, o Marxismo, dentre diversas outras. No artigo O Livro e o Computador: Viagens por Labirintos de Palavras, Sandra A. P. Santos aponta o livro como um formador cultural da sociedade Ocidental:
“A cultura ocidental tem sido profundamente marcada por uma tradição de escrita e pelo domínio do códice impresso e do conhecimento livresco. De tal forma relevante é este domínio que muitos se referem à civilização ocidental como ‘a civilização do livro’. De fato, toda uma cultura está inscrita em livros. Os livros contêm a história e a tradição, as ânsias e os medos, as alegrias e feitos das civilizações e têm tido um papel fundamental na preservação de todos esses elementos. Para além de os livros terem vindo a desempenhar um papel vital no registro da informação, têm também sido relevantes na transmissão do saber de geração em geração, tendo-se afirmado no panorama cultural como poderosos veículos de conhecimento”.
Os livros migraram gradualmente do cotidiano para se estabelecerem de fato e mais fortemente como produção acadêmica, das universidades, e tendo mantido até hoje sua importância como difusores do conhecimento. Coube a novela radiofônica e televisiva, além do cinema, a função de construção de narrativas de entretenimento, antes destinada exclusivamente aos escritores.
Os livros, no entanto, perderam parte de seu espaço também pelo advento da imprensa, que se propunha, de modo cada vez mais rápido, a expressar de modo diário as diversas transformações em curso, sempre de acordo com as linhas editoriais de sua publicação, ou seja, de acordo com a sua visão da realidade.
Do caldeirão de idéias presentes no início do século XX, onde os “ismos” dominavam e dividiam as diversas correntes intelectuais, o marxismo e o liberalismo, que sempre se propuseram como alternativas mais “universalistas” e consistentes, inclusive pelo seu maior número de adeptos, se estabeleceram por meio de seus respectivos modus-operandi, ou seja, o Capitalismo e o Socialismo, cada qual com suas virtudes e defeitos.

NOVOS MEIOS, NOVAS QUESTÕES?

Certamente nem só de benefícios se faz este processo. É notável o enorme número de problemas gerados por esta veloz difusão da informação na rede mundial de computadores, tais como crimes difundidos via rede, como a pedofilia e a prostituição infantil, além da questão da veracidade das informações jornalísticas divulgadas, uma vez que todos, potencialmente, podem se tornar co-produtores e autores da informação. Novos sistemas e padrões anárquicos de difusão de informação exemplificam isso, como o Wikipedia, o sistema Copyleft (que isenta e elimina dentro de si a antiga questão dos direitos autorais), dentre vários outros. fatores
Maria Aquino no artigo Um Resgate Histórico do Hipertexto: O desvio da escrita hipertextual provocado pelo advento da Web e o retorno aos preceitos iniciais através de novos suportes, cita como exemplo o próprio Wikipedia: “A coletividade, a cooperação se manifestam livremente dentro da Wikipedia. Qualquer um pode criar um novo verbete, alterá-lo, incluir e/ou excluir links e dessa forma o texto é efetivamente coletivo, sem dono. Com links internos e externos, para dentro e fora da Wikipedia, os usuários alteram a morfologia da Rede, como afirmam Primo e Recuero e contribuem para a construção de uma Web de forma coletiva, mesmo que somente através da Wikipedia, já que em outras páginas da Web isso não é possível. Comunidades também surgem nesse espaço, já que muitas pessoas reúnem-se em torno de verbetes sobre os mesmo temas”.
Para uma sociedade cada vez mais integrada neste sistema, se colocam questões como: “Em quem devemos confiar para nos informar?”.Neste ponto, os grandes portais, ligados os meios tradicionais, levam uma enorme vantagem.No entanto, não se pode desprezar a enorme quantidade de meios sérios e comprometidos com a informação verdadeira e correta, que se beneficiam deste processo. Certamente, muitos deles não poderiam subsistir em um meio convencional, impresso, televisivo ou radiofônico, já tomado pelos grandes conglomerados.

OS PALADINOS DA REVOLUÇÃO

Para entendermos a revolução textual com o advento da Internet é preciso entender o que é um Hipertexto. Segundo Andréia Cordeiro, no Artigo O que é o hipertexto electrónico e de que forma altera a organização e a utilização dos textos?, “Uma das características comuns às múltiplas definições de hipertexto é precisamente a sua natureza não-linear, não seqüencial, sem início nem fim, muitas vezes comparada aos processos associativos do pensamento”.
Ou seja, o hipertexto é diferente da estrutura dos textos que estamos acostumados, com começo meio e fim. Sua estrutura é comparada a uma estrutura rizomática, sem um ponto central único, fazendo assim com que o texto possa ser interrompido em um ponto qualquer, sem afetar as demais partes, assim como ser retomado em qualquer um dos pontos restantes.
A partir do hipertexto surge a hipermídia, que é composta por hipertextos conectados por Links que remetem constantemente a outros textos da hipermídia. Quando da leitura de um livro, constantemente somos obrigados a interromper nossa leitura para lermos certas notas de rodapé que complementem a informação do texto principal. Na Hipermídia isso se dá através dos Links, que podem levam a novas janelas com textos complementares surgindo o risco de o leitor desistir da leitura até então considerada principal.
Por isso Andréia Cordeiro lembra que “cada nota ou comentário, a consultar por parte do utilizador tem lugar num nó ou numa ligação. Apesar de o leitor ser obrigado a efetuar uma pausa na leitura, os detalhes podem surgir num bom sistema de janelas, nunca abandonando a leitura principal. Mas do ponto de vista do leitor uma nova janela pode significar uma zona diferente na página de papel e por isso a diferença consiste nos novos meios eletrônicos, na possibilidade de ligar não apenas texto e nota, mas transformar a nota num ponto de entrada noutros textos. Ou seja, desfazer a autonomia do texto principal relativamente às suas fontes e aos seus intertextos”.

Jonatas Marcelino e Thybor Brogio

segunda-feira, 16 de julho de 2007

Análise crítica do Hipertexto na atualidade

Fernanda Testa
Letícia Resende

O conceito atual de hipertexto define que este se constitui de nós ligados por conexões. No caso da Internet, o hipertexto seria a quantidade infinita de links presentes na Web. Os nós podem ser apresentados em forma de palavras, imagens, gráficos, áudio, vídeo, etc. Dispõem-se de forma não-linear, podendo um nó ser conexão para uma rede inteira.
Ao contrário do que se pode imaginar, a idéia de hipertexto não nasceu com o advento da Internet. Desde a Idade Média, os leitores faziam um rol de anotações nos cantos das páginas dos livros, e depois as transferiam para um caderno de “lugares comuns”, que poderia ser consultados por outros posteriormente. Tais cadernos eram conhecidos pelo nome de marginalia. Um exemplo de uso da escrita hipertextual nessa época pode ser encontrado nos trabalhos de Leonardo da Vinci (1452- 1519). Assim como os leitores, Leonardo adicionava anotações nas margens das páginas de seus documentos escritos.
Já no século XX, mais precisamente no ano de 1945, é a vez do físico e matemático americano Vannevar Bush trazer de volta a noção de hipertexto, através da publicação de seu artigo “As we may think”, que traçava o panorama do funcionamento do Memex, uma idéia primitiva que pode ser comparada aos computadores pessoais de hoje em dia. Partindo da idéia de que o pensamento humano organizava informações e as utilizava através de associações aleatórias, Bush projetou o modelo do Memex. Um ano depois, em 1946, surge o primeiro computador eletrônico, projetado por John W. Mauchly e J. Presper Eckert, da Universidade da Pensilvânia, EUA. O funcionamento deste computador dependia de inúmeros cabos telefônicos, e a máquina era extremamente pesada. Ao longo dos anos, foram sendo projetados computadores cada vez menores e mais rápidos, até que em 1965, a Digital Equipment lança o primeiro minicomputador comercial. É nesse mesmo ano que o filósofo e sociólogo Ted Nelson apresentou o projeto por ele denominado Xanadu, que consistiria numa biblioteca universal baseada em hipertexto. Apesar de ter sido uma idéia que não saiu do papel, o projeto Xanadu tinha o diferencial de trabalhar com a conexão entre documentos.
Porém, a aplicação efetiva do hipertexto só veio a consolidar-se com o desenvolvimento da World Wide Web, concebida em 1989 pelo engenheiro de sistemas inglês, Tim Berners Lee. Foi o engenheiro que também inventou o HTML, formato para armazenar documentos no disco rígido de computadores conectados à Internet. A partir daí, com a ajuda do engenheiro Robert Cailliau, Lee criou um servidor e um browser, o que possibilitou a entrada de milhares de pessoas na Internet.

2. O Hipertexto e a Interatividade
3. O Hipertexto e seus benefícios

4. As desvantagens do Hipertexto
5. Considerações finais

sábado, 14 de julho de 2007

Os bancos de dados e a informação virtual alcançável pela memória

Os bancos de dados e a informação virtual alcançável pela memória

Também conhecidos como bases de dados, tais terminais vem se transformando em uma alternativa aos vícios do jornalismo impresso anteriormente utilizados no Webjornalismo. A facilidade com que mostram sua capacidade em atingir e contagiar o ambiente digital, mostrando-se provedores de novas tecnologias onde o jornalismo se encaixa devidamente disposto a mudanças estruturais necessárias aos seus novos anseios de alcance global, demonstra as qualidades desses bancos de dados e suas nuances.
Surgidos em meados dos anos 70 como ferramentas da produção jornalística que auxiliavam na obtenção de novas e importantes informações que contribuíam para o aprofundamento das notícias e reportagens empregadas, os bancos de dados vêm se mostrando atualmente como um novo formato de desencadeamento informacional repleto de inovações perceptíveis aos usuários da Internet, cada vez mais integrados ao sistema de comunicação e informação digital, e cientes da evolução dos meios midiáticos tradicionais em prol da presença contínua das novas tecnologias.
Mas é preciso diferenciar ainda mais especificamente os atuais bancos de dados dos antigos, já que os novos BD tem como regra e característica essencial a relação que possuem entre si, que proporciona e facilita a busca pela informação completa, ultrapassando limites de maneira antes inimaginável para arquivos presentes anteriormente, disponíveis para consulta, mas que não possuíam estrutura tecnológica suficiente para armazenamento contínuo de informação jornalística integrada de forma reticular, como hoje.
Quando dos princípios da percepção dos meios midiáticos de que havia naquele momento de mudança da cultura e sociedade, uma necessidade de mudança também no que se refere aos modos de divulgação de notícias e informações, foi de suma importância o surgimento da informatização para que o processo de produção fosse acelerado e o público obtivesse um acesso maior aos dados que desejasse e precisasse para o aumento do conteúdo informacional.
Dentro do jornalismo, podemos observar primeiramente uma informatização dos meios, antes feita de maneira considerada mais lenta e não progressiva, fato que provocou uma série de reações pontuais dos profissionais da área, redes televisivas, grandes e pequenos jornais impressos e emissoras de rádio, dentro da perspectiva da necessidade da inovação e adaptação dos antigos meios a uma plataforma e um formato mais sólidos e rápidos.
Ainda funcionando como contribuição dessa reação quase que imediata da mídia como um todo, a popularização da Internet, feita por meio do sistema WWW (World Wide Web), proporcionou aos usuários transformarem suas rotinas de busca pela informação imediata uma tarefa bastante facilitada devido ao surgimento de uma nova visão da mídia, contaminada pela dinâmica dos portais e em busca de cada vez mais maneiras de levantar como virtude a interatividade de seu público em relação aos meios, deixando de lado a anterior passividade e trabalhando por uma produção assistida e veloz.
Partindo do princípio da memorização da Internet pelos seus usuários, observamos a importância do acesso às informações ser muito rápido e, de formato confidencial, a privacidade, para que possa ser garantida a qualidade desse acesso e a contínua interatividade desses usuários em busca pela informação.
Essa informação deve prezar por ter organizados bancos de dados que correspondam às expectativas dos usuários, ampliando as facilidades ao demonstrar por meio de mensagens visuais e textuais um guia dentro do ambiente digital, multiplicador de informações, porém sem que se perca o caminho por onde seguem quem as utiliza, para que estes encontrem o que procurem e, algumas vezes, possam complementar a sua busca com novas alternativas propostas que podem ser encontradas na interligação desses bancos de dados.
Também presente nos hardwares e softwares, explicitados pelos discos rígidos e o browser da navegação pela Internet dos computadores, a memória para as páginas da Web podem ser comparadas ao cérebro e aos sentidos humanos na medida em que concentra as informações e as organiza de maneira a trransformá-la em memória contínua.
A busca por informações na World Wide Web e sua forma de catalogação também podem ser consideradas semelhantes às do cérebro humano. A diferença reside na presença das palavras-chave para obter-se dados na Internet enquanto que para a memória humana basta o arquivamento e lembrança de imagens e textos antes visualizados.

A prática do jornalismo na Internet e a adaptação digital

O jornalismo, como visto anteriormente, preocupou-se, em meados dos anos 70, a transformar primeiramente suas publicações impressas em experiências de versões digitais, no momento seguindo tendências de moldar-se a um novo ambiente em crescimento. A descentralização de informações e o advento de novas formas de construção de narrativas feitas pela constatação das necessidades do virtual e do digital então presentes, modificou a partir daí o modo como a mídia começaria a tratar essa nova tecnologia informacional.
Para tentar fazer com que esse inovador bombardeamento de informações não se tornasse meramente provedor de quantidades inestimáveis sem que se preocupasse com o conteúdo, alguns autores como Daniel Morgaine tentavam mostrar as possibilidades que existiam de, ao mesmo tempo, a mídia aumentar a sua produção e o acesso às informações sem que a qualidade fosse deixada de lado:

Sendo a informação uma matéria muito elaborada, difundida por uma série de meios cada vez mais diversificados, a imprensa escrita deve fazer pontes em torno de si mesma, em todas as direções, até as demais fontes de difusão de informação. Trata-se, sobretudo, para a empresa de imprensa, aproveitar neste momento as novas possibilidades tecnológicas. A era das comunicações é para a imprensa escrita a era da automação. Os novos procedimentos de impressão, os meios de telecomunicações e informática, hão de ser os instrumentos modernos que, postos a serviço de um diário, permitirão não somente diminuir a separação tecnológica entre a imprensa escrita e os outros meios de comunicação, mas também ampliarão o campo de ação do mercado do diário de informações (Morgaine, 1972, p. 26).

Tentando exemplificar também como novos modelos de narrativa textual permeiam as diferenças entre o antigo jornalismo e a sua digitalização, encontramos como ótima novidade o hipertexto, conceito estabelecido a partir da segmentação da narrativa e sua distribuição em links, textos curtos e objetivos e inter-relacionamento de bancos de dados permanentes.
Seja colocado de maneira linear ou não, o hipertexto modificou de maneira abrangente as estruturas digitais do Webjornalismo, produzindo uma inovação não só tecnológica como também feita para o acesso rápido e a fragmentação do discurso. As antigas formas de narrativa, consideradas mais densas e por isso menos acessadas, deram lugar a um método diferenciado de obtenção de textos, imagens e mesmo vídeos, que contribuem para uma maior interação dos usuários.
De diversas maneiras os usuários da Internet sentem-se parte do processo de interatividade e por essas maneiras eles exploram o diferencial encontrado no sistema da World Wide Web. Mostrando suas opiniões por meio de enquetes, conversas com jornalistas e envio de e-mails, construção de matérias feitas pelos leitores, adição de informações a matérias anteriormente publicadas, entre outros modos, além da navegação contínua feita através do hipertexto.
O conceito de multimídia, também surgido com a informatização do jornalismo, tornou-se ainda mais presente com o objetivo de mostrar e ilustrar todas as informações com textos, fotos, vídeos, áudios, animações, além da integração entre essas formas de manifestação, colocando mais uma vez a interatividade e hipertextualidade já promovidas.
Entretanto, mesmo com todas as facilidades da hipertextualidade, da interação e da multimídia, existem ainda alguns empecilhos presentes que fogem do controle dos usuários e mesmo dos provedores de informação encontradas na Internet. Um dos principais problemas é uma forma de educação a ser feita sem que existam tradicionais ensinos presenciais.
Sendo assim, a Internet e o Webjornalismo se tornam virtualmente novos espaços de experiência onde é feita essa educação, tecnológica e humana, onde é possível contornar o problema citado.
Se a hipertextualidade e a interação contínua podem ser problemas para a preocupação de se manter um conhecimento pela dificuldade da leitura on-line, também podem se transformar em solução quando identificados como aquelas facilidades que permitirão não só inovações tecnológicas, mas também um novo aprendizado que trará à vida cotidiana do usuário a experiência virtual que este procura e transporta para a sua realidade presente.

Giovanni Giocondo

quinta-feira, 12 de julho de 2007

A Memória como uma Biblioteca Virtual

Paula Maria Prado
Joanna Brandão
Uma crítica publicada na revista VEJA dessa semana chamou-nos atenção pelo assunto inusitado: Pierre Bayard, um psicanalista francês, escreveu um livro cujo nome é Comment Parler dês Livres que l’On n’A pás Lus? (Como Falar dos Livros que Não Lemos?). De fato, o livro parece um manual de “malandragem” para as pessoas se saírem bem quando são questionadas sobre um determinado livro não lido. Porém, de acordo com a crítica, trata-se de um “ensaio inteligente sobre as várias formas de apreciar um livro”.
Entretanto, o que mais nos chamou a atenção foi a comparação do autor afirmando que a memória é uma biblioteca virtual. E ele está certo. Nossa mente funciona como os mecanismos da internet. Cada leitor carrega consigo um repertório de livros e conhecimentos que permite contínuo acesso. Quando nos falam a palavra “Macunaíma”, por exemplo, realizamos uma busca mental e, logo, nos vem a descrição do “herói sem nenhum caráter”; se nos aprofundarmos, teremos também a imagem de Grande Otelo no filme, e sua eterna moleza: “Ai que preguiça...” e, se o sucesso da busca for absoluto, lembramo-nos que o autor da obra é Mário de Andrade e que esta foi escrita em seu período Modernista.
Nossa memória é como um hipertexto em constante atualização e expansão. Afinal, todos os conceitos e conhecimentos que possuímos guardados em nossa mente, estão conectados. Para nos encaminharmos para um ou outro, tudo dependerá de nossa necessidade no momento, da associação que fizermos. Assim, podemos percorrer diferentes caminhos, sendo nós mesmos os responsáveis pela criação dessas trilhas, conforme nosso repertório.
Sendo a memória como uma rede de informações, com suas interligações, sempre apta a novas informações, tal como a internet, ela também pode falhar. Quem nunca se atrapalhou com os personagens de uma obra? É uma confusão de nomes... Dom Casmurro e Brás Cubas, Luisa e Amélia, Aurélia e Adelaide...
Enfim, as conexões que fazemos, muitas vezes errôneas, nada mais são que hiperlinks desviados. E ler ou não determinado livro, é um processo essencial para a manutenção dessa rede. Como Bayard disse: “para ler o bom, uma condição é não ler o ruim: porque a vida é curta e o tempo e a energia escassos”. O livre arbítrio na escolha das leituras é o que sustenta a rede de informação.
É ilusão achar que se pode ler e armazenar tudo, enquanto estamos na terceira página do livro, já esquecemos os detalhes da primeira. Por isso, um arquivo que auxilie na busca dessa contingente de informação se faz necessário. Não é a toa que muitas pessoas carregam agendas e a consultam hora a hora durante o dia. A internet, com seus mecanismos de busca, links e mais links com novas informações, mantém como forma de “organização” sites de assuntos específicos, que inclusive podem ser encontrados em sites de busca. Infelizmente nossa mente ainda não se organizou em claros sistemas organizacionais, temos ainda que recorrer a lembretes e diversas outras formas de dados para nos lembramos de afazeres, de nomes ou, simplesmente, de dados do nosso repertório.
Quando nos perguntam o que achamos de determinado livro, mesmo que tenhamos lido, não falaremos da obra em si, mas de uma lembrança dela que está em nossa mente. E é baseado nesse conceito que Bayard faz a defesa de seu livro. Há macetes explicados para o leitor não passar vergonha admitindo que não lembra do conteúdo de um livro, ou mais, como sugere o titulo da obra: que nem tenha lido a obra. Esses macetes vão de falar do livro com convicção a discorrer sobre a importância que o livro tem em sua vida. Em último caso, o autor sugere que invente episódios, capítulos ou até falar de autores e livros que não existem.
De fato, se um livro foi largado pela metade ou apenas folheado, ele já faz parte do repertorio do leitor, afinal já foram criados links em sua biblioteca virtual, sua memória. Criticas, comentários e resumos ajudam a compor uma idéia sobre a obra. O livro de Bayard causa controvérsias, pois falar de algo que não se conhece por inteiro é sempre um risco, entretanto, como o próprio escritor defende, ninguém precisará ler seu livro para já ter uma opinião a seu respeito.

Características do Hipertexto

Segundo Heim(1993), o hipertexto é um modo de interagir com textos e não só uma ferramenta como os processadores de textos. Por sua característica, o usuário interliga informações intuitivamente, associativamente. Assim como em nossa mente, onde também ocorre interação entre as velhas informações já absorvidas e as novas informações vindas de fora (leituras, outras pessoas, experiências, etc.).
Através de saltos - que marcam o movimento do hipertexto - o leitor assume um papel ativo, sendo ao mesmo tempo co-autor. Em nossa memória também realizamos esses saltos, a todo o momento, quando buscamos informações específicas.
Para Ted Nelson, o hipertexto possibilita novas formas de ler e escrever, um estilo não linear e associativo, onde as noções de texto primeiro, segundo, original e referência caem por terra. Em nossa mente, também não existe uma ordem pré-estabelecida das informações armazenadas.
Para Lévy (1993) o hipertexto é um conjunto de nós ligados por conexões. Os nós podem ser palavras, páginas, imagens, gráficos, seqüências sonoras, documentos complexos que podem eles mesmos ser hipertextos.
Dessa forma, tanto o hipertexto como a memória são os conjuntos de informações, podendo ser textuais, sonoras, e combinadas com imagens (animadas ou fixas), organizadas de forma a permitir uma leitura (ou navegação) não linear, baseada em indexações e associações de idéias e conceitos, sob a forma de links. Estes agindo como portas virtuais que abrem caminhos para outras informações.

Personagens perdidos na memória

Calma, se você já está confuso (ou sua “busca não funcionou direito”), nós esclarecemos: Dom Casmurro é o nome de um romance de Machado de Assis cujo personagem central é Bentinho (também conhecido como Dom Casmurro por sua reclusão), e Brás Cubas é o defunto de Memórias Póstumas de Brás Cubas que para distrair-se da monotonia da eternidade, escreve suas memórias com a “pena de galhofa e a tinta da melancolia”.
Luisa e Amélia são personagens de Eça de Queirós, porém, a primeira é a ociosa e sonhadora protagonista de Primo Basílio; e a segunda, a uma jovem beata de O Crime do Padre Amaro. E, por fim, Aurélia e Adelaide são, respectivamente, a moça pobre que herdou uma grande quantia de dinheiro e a moça rica, do livro Senhora, de José de Alencar.

A memória humana e a memória virtual

Segundo João Messias Canavilhas, em seu artigo “A Internet como Memória”, a memória, assim como a web, perde informação, embora acabe por manter sempre uma ténue ligação que poderá, em determinadas situações, permitir a recuperação da informação. No caso do Google, essa ligação é a referência que nos é oferecida na pesquisa, que prova a existência da página, mas não nos permite recuperar a informação.
O autor também defende a idéia de que a catalogação é outro ponto em comum entre a memória na web e a memória humana. No caso da web a organização - catalogação - é feita por palavras-chave. A pesquisa é efetuada por comparação entre a palavra introduzida no campo da procura e a existência dessa palavra num dos campos definidos para pesquisa: url, texto, título, domínio, etc.
No caso da memória humana a catalogação é feita a partir da informação recolhida pelos sentidos que funcionam como interface. ``Ali (na memória) estão arquivadas, de forma distinta e classificada, todas as coisas que foram introduzidas cada uma pela sua entrada: a luz e todas as cores e formas pelos olhos; todas as espécies de sons pelos ouvidos; todos os odores, pela entrada do nariz; todos os sabores, pela entrada da boca; e, pelo sentido de todo o corpo, o que é duro, o que é mole, o que é quente ou frio, o que é macio ou áspero, pesado ou leve, quer exterior, quer interior do corpo.'' [S. AGOSTINHO 2001; 242]

quarta-feira, 11 de julho de 2007

Memória social na era digital

“No dia em que a British Pathe colocou todo o seu arquivo na World Wide Web foi dado mais um importante passo no sentido da afirmação da Internet como memória coletiva da Humanidade” (CANAVILHAS, 2004. P. 1). A empresa que era responsável pelo Pathe Gazette, com transmissões de boletins informativos antes dos filmes nos cinemas, acumulou cerca de cem mil histórias até 1970, quando encerrou suas atividades. Todo o acervo foi disponibilizado na web, em 19 de novembro de 2002, e contou com 15 mil acessos apenas nas primeiras quatro horas de existência do site (http://www.britishpathe.com/). E esta é somente a ponta do iceberg de possibilidades latentes nos aparatos digitais associados aos mecanismos de navegação virtual.

Na verdade, o processo de compartilhamento de informações e a criação de esquemas e programas de armazenamento e memória são decorrentes de um processo que vem desde a passagem da oralidade à escrita, quando “a memória começa a exteriorizar-se e a autonomizar-se do homem, materializando-se em suportes manuscritos e inscrições em monumentos” (CANAVILHAS, 2004. P. 5). Torna-se possível inscrever a memória em meios materiais e seu potencial coletivo começa a ser explorado, dado o momento em que é disponibilizada para além do córtex cerebral de um único indivíduo. Mónica Nunes indica que “o arquivo, inegavelmente, representa o conhecimento que está organizado em memórias fora do corpo do homem em forma de técnicas e tecnologias” (NUNES, 2001. P. 21).

E foi com o advento da internet e a digitalização do hipertexto que os caminhos da memória e do armazenamento de informações acabaram por romper com as barreiras impostas ao acesso coletivo. Se antes a busca pela informação exigia a presença física numa biblioteca, por exemplo, agora “com o nascimento da internet” as facilidades de acesso à informação foram ampliadas exponencialmente, uma vez que “[a internet] rebate em simultâneo as barreiras do espaço e do tempo”. Bibliotecas (http://www.bn.br/site/default.htm), sites de disponibilização de arquivos digitais, blogs, fotologs, enciclopédias digitais, entre tantos outros recursos e modelos de arquivamento e disponibilização de informação vêm contribuir para a reconfiguração das relações humanas com o tempo, o espaço e suas interações sociais. “Este manancial de informação representa uma memória social, dinâmica, organizada e navegável” (CANAVILHAS, 2004. P. 5).

As novas perspectivas do jornalismo digital

O modelo de webjornalismo ainda guarda muita semelhança com o jornal impresso, no entanto a partir da formação dos Bancos de Dados os produtos digitais têm conseguido diferenciar-se. Surgidos na década de 70, como uma ferramenta para o trabalho jornalístico, os bancos de dados auxiliaram a produção de matérias e reportagens, contribuindo para um melhor contexto e aprofundamento das mesmas, na dita “era digital” são os bancos de dados que garantem “a especificidade do jornalismo digital em relação às modalidades tradicionais, e é percebido mesmo como um novo formato para o jornalismo digital” (HALL, 2001; FIDALGO, 2003; MACHADO, 2004).

As dificuldades de acesso e publicação de conteúdos no espaço virtual, bem como a fase de adaptação e familiaridade em relação aos computadores já chegou a um nível bastante avançado. Isso permite que o jornalismo experimente novos formatos de narrativa e crie produtos inusitados. Nesse sentido os Bancos de Dados tem função primordial, pois além de serem uma coleção de dados estruturados ou uma série de informações relacionadas entre si, como analisa Guimarães (2003), atualmente eles armazenam imagens, gráficos, objetos multimídia, tais como som e vídeo.

Outro avanço em relação aos bancos de dados consiste em sua integração com outras linguagens como Java, XML, que os permite funcionar de maneira descentralizada. “As arquiteturas de bases de dados têm se tornado veículos para entrega de aplicações integradas para serem nós ricos de dados da internet, para a descoberta do dado e para serem auto-gerenciávies” (BARBOSA, 2004). Nesse sentido, os bancos de dados são muito mais do que uma noção de “coleção” de informações rápidas a serem coletadas, mas sim uma nova forma cultural simbólica, um novo modo de estruturar a experiência humana. Isso explica o potencial para transformar o jornalismo digital, diferenciando de vez do modelo de jornal impresso.

Para Barbosa (2004) a adoção dos bancos de dados favorece a inovação, o que permite ao jornalista explorar novos gêneros, oferecer conteúdos mais diversificados e, principalmente, produzir de maneira descentralizada. Elias Machado (2004) acredita que os bancos de dados desempenham três funções importantes: 1) de formato e estruturação da informação; 2) de suporte para modelos de narrativa multimídia; 3) de memória dos conteúdos publicados. Por tudo isso, o autor os considera como um formato no jornalismo digital.

O uso do banco de dados em conjunto com recursos multimídias, hipertexto e interatividade operam para uma diversificação de conteúdo. Além disso, o reaproveitamento do material armazenado contribui para a construção de novas narrativas. “O uso das bases de dados aliado à melhor implementação dos recursos característicos do webjornalismo, é capaz de conduzir exploração de novas tematizações, com potencial para originar novos gêneros ou híbridos entre gêneros, assim como remediações em relação aos gêneros jornalísticos tradicionais” (BARBOSA, 2004).

A função de documentação e memória que cabe aos bancos de dados ganha, ainda mais, importância ao se pensar na facilidade de acesso, no alcance da linguagem utilizada, no baixo custo de armazenamento e, sobretudo, na possibilidade de democratização no uso das informações. O emprego dos bancos de dados se explorado em toda sua potencialidade pode promover mudanças significativas no jornalismo digital, tornando-o inovador e inteligente.

Hipertexto: uma porta, vários corredores

Para um mundo globalizado pelas relatividades de tempo e espaço, propiciadas com a popularização dos computadores e com o advento da Internet, o hipertexto tornou-se um recurso bastante comum, mas nem por isso desmistificado. A informação, em última instância bem material contemporâneo de maior valor, fez expandir a utilização dos recursos infográficos e das tecnologias com potencial midiático. O hipertexto popularizou-se como ferramenta de pesquisa, troca, apreensão, objetivação e expansão da informação. Mas afinal, o que é hipertexto?

A pesquisadora Maria Clara Aquino, mestranda do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Informação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, sinaliza de maneira simples que o “hipertexto é um conjunto de nós ligados por conexões”, os links. “O hipertexto configura-se exatamente como a quantidade infinita de links com os quais nos deparamos hoje nas páginas Web. (...) Navegar em um hipertexto significa, portanto, desenhar um percurso em uma rede que pode ser tão complicada quanto possível”. (AQUINO, 2006. P. 1). Na verdade, como aponta a pesquisadora, o hipertexto remonta a tempos remotos e foi sempre utilizado como ferramenta de armazenamento e posterior exploração de informações.

A idéia de hipertexto não é de hoje, nem surgiu com o advento da Internet, ela vem desde os séculos XVI e XVII com as chamadas marginalia. Estas seriam como índices pessoais, citações de textos, remissões a outras partes ou outros textos feitas pelos leitores dos livros da época, anotadas nos cantos das páginas destes e depois transferidas para um caderno de “lugares comuns”, para que posteriormente pudessem ser consultadas . (AQUINO, 2006. P. 2)

Percebe-se historicamente, então, que o hipertexto foi sempre um meio eficaz no acúmulo, armazenamento e acesso a informações complementares. E, apesar da possibilidade de reconhecimento de manifestações desse recurso em outros tempos e suportes, há que considerar o upgrade trazido pelos aparatos digitais.

Dessa forma, hoje em dia a possibilidade de armazenamento de dados de forma digital assume um papel importantíssimo na tarefa de preservação do conhecimento adquirido. Dentro desse panorama, o hipertexto acaba possibilitando, além do armazenamento digital, a interconexão entre as informações, permitindo assim, cada vez mais, a produção de novos dados e contribuindo para a evolução da humanidade. (AQUINO, 2006. P. 2)

É verdade que muitas são as críticas e questionamentos sobre o potencial coletivo existente (ou não) no hipertexto digital. Mas, embora as experiências até aqui vivenciadas não tenham atendido completamente às expectativas de democratização da produção e do acesso à informação, cabe ressaltar a relevância do hipertexto como mecanismo de armazenamento de informação, com facilidades de utilização e expansão do conhecimento humano, rompendo os limites impostos pela geografia e pelas leis do tempo.

Os (des) caminhos do hipertexto eletrônico

O hipertexto se configura, cada vez mais, como uma ferramenta fundamental quando se pensa em jornalismo digital. Por possuir uma estrutura não-linear permite a formação de uma ampla rede de significantes, acessível por várias entradas sem que nenhuma delas constitua-se como principal. Essas características do hipertexto o colocam próximo ao modelo pós-estruturalista, que destaca o papel da língua e da textualidade na construção da nossa identidade e realidade enquanto leitores, reconceitualizando a relação entre autor e leitor.

Um sistema hipertextual pode, ainda, ser comparado ao sistema associativo do cérebro humano, pois sua construção tem por base a memória humana. Por meio da rede semântica são produzidas associações que funcionam como diretrizes para um sistema aberto, em que o absorvido pelo exterior entra em contato com a memória humana. Essa fusão é constantemente modificada por “upgrades” na nossa “base de dados”. A primeira vista essa construção pode ser associada a uma anarquia labiríntica, mas o fato é que esta forma insere-se num novo paradigma que demanda outras ferramentas de trabalho e é mais avançado tecnologicamente.

Esta nova forma de circulação textual desconstruiu a antiga noção de autor/leitor, sobretudo pelo fato do hipertexto apresentar links, que permitem ao leitor iniciar a leitura no lugar em que bem entender e, em questão de segundos, ser levado a outros pontos do texto, com o simples “click” do mouse. “Autor e leitor, por exemplo, são dois conceitos que sofrem uma grande mudança, diluindo-se. Assim sendo, quem escreve e quem lê passam a ser duas faces de uma mesma moeda” (CORDEIRO, 2004). Com a possibilidade de abertura para novas janelas o leitor pode entrar em contato com outros textos. Essa peculiaridade do texto eletrônico retira a autonomia do texto principal relativamente às suas fontes e aos seus intertextos. Nesse sentido, o hipertexto acumula um potencial imenso de informações, constituindo-se numa verdadeira memória virtual. A intenção provocada pelo hipertexto é a de tornar o leitor um produtor do texto, não apenas consumidor.

As inovações trazidas pela “era digital” contribuem para uma nova teoria do texto, propiciando o surgimento de novos gêneros literários. O hipertexto é antes de tudo uma possibilidade de criação, um experimentalismo literário.

Lara Alcadipani e Xênya Aguiar

terça-feira, 10 de julho de 2007

A interatividade da Nova Mídia

Aline Alvarenga
Lígia Rocca

A Internet hoje é um dos instrumentos mais rico de conhecimentos. Com um computador e acesso à rede, pode-se realizar transferências de dados e obter informações de todos os tipos, além de interagir com pessoas e programas. Também na tecnologia digital, Paula Jung Rocha e Sandra Portella Montardo afirmam que o usuário pode não só interagir com o objeto (a máquina ou a ferramenta), mas também com a informação, com o conteúdo, seja da televisão interativa digital, seja com os ícones de interfaces gráficas dos microcomputadores. Essa característica de interatividade digital tende a afetar de maneira substancial as relações entre sujeito e objeto na contemporaneidade.

Ao contrário do que muitos pensam, Internet (uma rede de diversas redes em escala mundial de milhões de computadores interligados - inter vem de interligado, e net, de network, malha de comunicação) não é sinônimo de World Wide Web: um sistema de documentos em hipermídia interligados que é executado na internet. A Internet é. Já o conceito de hipermídia, criado na década de 1960 pelo pesquisador e professor Ted Nelson, refere-se a uma tecnologia de escrita não-linear, que utiliza recursos de hipertexto e multimídia.

O hipertexto é uma das formas na qual o internauta pode interagir com o conteúdo da web. Segundo Ted Nelson, os hipertextos são “escritas associadas não sequenciais, conexões possíveis de se seguir, oportunidades de leitura em diferentes direções”. Essas diferentes “oportunidades de leitura” são definidas pelos vários blocos ligados ao texto central por meio de links, que permitem um pensamento não linear e multifacetado, pois a partir de um único texto, há muitas outras opções de leituras de assuntos relacionados, além dos recursos de áudio e imagem. É como um labirinto, em que o internauta tem muitos caminhos a escolher, e cada um leva a um lugar diferente, seja dentro da própria home ou em sites externos.

Esse labirinto é uma das características da Internet, que pode ser definida como uma rede de estruturas rizomáticas, sem um ponto de comando central: a partir de um documento, pode-se chegar a vários outros e ainda encontrar um caminho de volta para o documento com a qual se iniciou a navegação. O caminho inverso também é possível, como numa estrutura arborescente: pode-se chegar a um mesmo documento a partir de diferentes caminhos. Esta infinidade de escolhas torna o texto ilimitado, ampliando o potencial de leitura e conteúdo.

Essas inúmeras oportunidades de se construir a leitura de um hipertexto deram um novo papel aos conceitos de leitor e autor. Na medida em que escolhe seu percurso, estabelecendo elos e delineando um tipo de leitura, o leitor também torna-se autor do texto, pois estará derfinindo um texto diferente a cada link que escolher. A professora Lúcia Leão define o leitor ativo-ativo que a hipermídia requisita como o “arquiteto de um labirinto”, pois o navegador, “ao percorrer o sistema, faz existir um espaço que se desdobra. No momento em que este atualiza escolhas, o desenho de um labirinto é criado”.

Por ser não-linear e não ter uma seqüência fixa, a ordem de leitura pode diferir de um leitor para outro, favorecendo a emergência de uma seqüência arbitrária e aumentando o potencial de leitura com as novas descobertas. Contraditoriamente, a mobilidade de um usuário entre os sites só é possível diante sua imobilidade em relação a um computador. Diante de todas essas opções permitidas ao leitor-autor, a interferência dos internautas nos hipertextos da web ainda é baixa, prevalecendo a unilateralidade na criação de links.

A multimidialidade da Internet é um outro ponto que torna a Nova Mídia tão atraente para os usuários. A Web tem a capacidade de concentrar em um mesmo ambiente diversos formatos de apresentação de informações, tais como texto, áudio, vídeo, fotografias animações e simulações. Uma estrutura plural que explora os diferentes sentidos da percepção humana, na qual todos esses formatos constroem uma modalidade discursiva única. Beatriz Ribas afirma a importância de estar atento às características específicas do novo media e para as suas potencialidades.



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