A partir de agora, estou em novo endereço. Uma nova fase, nova experiência. Agradeço a todos os que participaram deste blog e aos que o visitaram.
Convido-os para navegar pelos mares da literatura em
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Abraço,
Prof. Mauro
sábado, 18 de outubro de 2008
Mudamos
Postado por Mauro Souza Ventura às 13:03 2 comentários
quinta-feira, 2 de outubro de 2008
No centenário de Machado - II
Atuando numa época de transição política (a crise do Segundo Reinado, as lutas entre conservadores e liberais por espaços de poder, a inevitável emergência da República e o drama da escravidão) e literária (na confluência de Romantismo, Realismo e Naturalismo), Machado buscou ainda esboçar um código definidor das qualidades intelectuais e éticas para a atuação do crítico. Assim, são pressupostos do verdadeiro espírito crítico a coerência de critérios e a tolerância, assim como a independência e a imparcialidade diante do objeto analisado. Não formulou um quadro de valores, pois estes ainda estavam em gestação, mas está longe de ter sido um crítico malogrado, como o considerou Tristão de Ataíde.
Machado foi severo ao diagnosticar a inexistência de atividade crítica em seu tempo, pelo menos daquela crítica capaz de exercer papel decisivo no sistema literário por meio de influência cotidiana e profunda. Quanto ao romance, acusou a ausência de caracteres e de análise profunda da sociedade. Neste ponto, cabe uma indagação a respeito de sua concepção de romance enquanto gênero e estilo, que será posta em prática a partir de Memórias Póstumas de Brás Cubas (no plano do conto, seu equivalente será o volume Várias histórias).
Brás Cubas não é um herói problemático como o Julien Sorel ou o Lucien de Rubempré, nem as Memórias se enquadram no modelo hegemônico de romance realista, já que suas influências capitais são Sterne e Xavier de Maistre. No entanto, o problema das relações entre particular e universal, ponto central de sua visão crítica, e formulada, como vimos, por meio da condenação ao localismo pitoresco, remete-nos à busca dos traços distintivos da sociedade brasileira e à discussão entre originalidade e cópia.
M.S.V.
Postado por Mauro Souza Ventura às 20:16 0 comentários
Marcadores: literatura
segunda-feira, 29 de setembro de 2008
No centenário de Machado de Assis
No dia em que se comemora o centenário de nascimento de nosso escritor maior, invoco a face talvez menos conhecida de sua obra: a de crítico literário. Autor de textos críticos até hoje importantes, como Instinto de nacionalidade, O ideal do crítico ou O passado, o futuro e o presente da literatura brasileira, Machado demonstrou estar atento aos problemas literáriros de seu tempo. Assim, não hesitou, por exemplo, em criticar os solecismos da linguagem comum, que considerava um defeito grave, e a forte influência da língua francesa. Em relação ao teatro, chegou a minúcias como a proposta que estabelecia regras sobre os direitos de representação e também a criação de impostos sobre as traduções, pois via com preocupação a enorme quantidade de peças francesas encenadas no Brasil de então.
Mas o aspecto central a considerar hoje é a crítica ao localismo pitoresco e ao falso instinto de nacionalidade, elementos que o autor de Dom Casmurro identificou na literatura de seu tempo. Amparado no desejo de criar uma literatura mais independente dos modelos europeus, em 1873, Machado de Assis insta seus contemporâneos a repensar o legado estético do Arcadismo e o predomínio dos temas indianistas. Basílio da Gama e Santa Rita Durão são os principais objetos de crítica, pois não souberam se desligar da matriz árcade. “Admira-se-lhes o talento, mas não se lhes perdoa o cajado e a pastora”, escreve no artigo “Instinto de nacionalidade”. Para Machado de Assis, indianismo não era representativo da totalidade do universo ficcional brasileiro. Era, evidentemente, um legado reconhecido pelo crítico, mas não poderia continuar a ser a única fonte de inspiração. Volto ao tema.
Postado por Mauro Souza Ventura às 17:57 1 comentários
Marcadores: literatura
terça-feira, 9 de setembro de 2008
Blogs e prática de texto
Postado por Mauro Souza Ventura às 15:51 1 comentários
domingo, 10 de agosto de 2008
Karadzik, o genocida que escrevia poemas
Dos comentários que li sobre a prisão de Radovan Karadzic, o ex-líder sérvio que comandou a limpeza étnica na guerra dos Bálcãs, chamou-me a atenção o artigo de Slavoj Zizek (FSP, 27/7/08, Mais!, p.10). O filósofo esloveno explorou o lado menos conhecido da personalidade de Karadzik: o genocida foi também poeta. Assim, segundo Zizek, a poesia do ex-lider sérvio “não deve ser simplesmente descartada como ridícula – merece ser lida com atenção pois oferece uma pista para a compreensão de como funciona uma limpeza étnica”.
Após citar trechos de poemas publicados por Karadzik, Zizek afirma que as atrocidades cometidas pelos soldados sérvios a mando do ex-lider foram na verdade a continuação (ou a materialização) de sua própria poesia, repleta de imagens que remetem ao chamado do superego e a um hedonismo sem limites.
Em seguida, responsabiliza os poetas da ex-Iuguslávia que, entre os anos 1970 e 1980, “começaram a espalhar as sementes do nacionalismo agressivo não apenas na Sérvia, mas também em outras repúblicas pós-iuguslavas”.
Pode-se argumentar que Karadzic foi um poeta menor, e que o filtro da história se encarregará de sepultar esses versos nacionalistas, permeados de retórica política.
Zizek, porém, não se contenta com esse argumento, preferindo dar razão a Platão em sua declaração de que os poetas deveriam ser expulsos da cidade. “A julgar por essa experiência pós-iuguslava, em que a limpeza étnica foi preparada pelos sonhos perigosos de poetas, é um conselho bastante sensato”, escreve.
Então, pergunto: Até que ponto a poesia de Karadzik foi de fato difundida entre os leitores iuguslavos? Há muito tempo que a literatura -- e ainda mais a poesia! -- não é capaz de mobilizar corações e mentes. Não vivemos mais numa república das letras. Portanto, a relação entre poesia e barbárie, invocada por Zizek, talvez não se sustente nesses termos.
Um questão, porém, não deixa de pedir explicação: o responsável por uma limpeza étnica tem o hábito de escrever poemas. E mais: sob pseudônimo, era colunista de uma revista chamada “Vida Saudável”. Pode um assassino escrever um bom poema?
M.S.V.
Postado por Mauro Souza Ventura às 17:56 0 comentários
quinta-feira, 24 de julho de 2008
A morte da ironia
A julgar pela polêmica gerada pela capa da mais recente edição da revista The New Yorker será preciso muito esforço para resgatar a capacidade dos leitores de ler para além da superfície.
O objetivo da revista ao publicar a charge aí ao lado era justamente ironizar as críticas infundadas que Obama e sua mulher vêm sofrendo nas últimas semanas. É evidente que os leitores da revista entenderam, e se divertiram com a piada. Mas e os demais? Para estes, é preciso dizer literalmente que Obama nem é muçulmano, nem terrorista. Ora, uma revista inteligente precisa ser capaz de surpreender o leitor; e nesse aspecto a The New Yorker acertou em cheio. M.S.V.
Postado por Mauro Souza Ventura às 14:05 4 comentários
Marcadores: Crítica da mídia
segunda-feira, 21 de julho de 2008
Criação literária em blogs
A relação do escritor com o blog talvez seja semelhante à que o escritor mantém com a crônica. Tanto o blog quanto a crônica funcionam como laboratório, exercício de escrita, contato com o mundo e com o leitor.
Um escritor precisa de visibilidade. E o exercício semanal da crônica, publicada em jornal ou revista, funciona como uma vritrine e como um espaço dialógico com o leitor. O blog talvez cumpra essa mesma função, no caso dos escritores em início de carreira ou que, mesmo não o sendo, já estão familiarizados com esse suporte.
Ao mesmo tempo, para quem escreve ficção, o blog pode funcionar como um laboratório de criação. Aqui estamos diante da hiperficção, modalidade narrativa que surge a partir da idéia de hipermídia e de hipertexto.
Assim, diante de questões como se os blogs podem ou não ser considerados berços de futuros escritores, a resposta é sim. Ora, o trabalho do texto é o berço do escritor. E não precisa ser necessariamente no blog, mas em qualquer mídia que veicule texto. Além disso, sempre se pode testar algumas histórias no blog antes de colocá-las em livro.
No vasto universo da blogosfera, destaco três blogs de escritores que fazem deste suporte um laboratório de criação.
O primeiro é o do poeta e jornalista Fabrício Carpinejar, do Rio Granbde do Sul, cuja produção poética pode ser conferida aqui. Também do Sul é o blog de Paulo Ribeiro, escritor, cronista e jornalista de Caxias do Sul. Em vitrola dos ausentes, o leitor pode conhecer um pouco da obra do autor e do seu estilo bem peculiar. As luas que fisgam o peixe, publicado no ano passado, reúne em livro crônicas produzidas e postadas inicialmente no blog de Paulo Ribeiro.
O terceiro blog que destaco é o do poeta Chacal, que despontou nos anos 70 e que é um dos mais importantes nomes da produção poética das últimas décadas. A exemplo de Carpinejar e Ribeiro, publica suas produções literárias no blog chacalog.
Outro dia me perguntaram se o blogueiro é escritor. Não, assim como nem todo cronista é escritor (de ficção, no caso).
Mais complexa, no entanto, é a relação entre blog e estilo literário. Todo suporte deixa marcas na escrita. Há uma série de traços estilísticos que são típicos da escrita de blogs. E isso talvez influencie a própria narrativa de um conto ou romance concebidos por um escritor que, antes de ser escritor, já era blogueiro.
Tudo depende de quem posta as matérias no blog. Seja como for, escrever num blog (com assiduidade e regularidade) pode ser o primeiro, ou um importante passo, na trajetória de um futuro escritor.
M.S.V.
Postado por Mauro Souza Ventura às 12:02 1 comentários
Marcadores: literatura digital