quinta-feira, 24 de julho de 2008

A morte da ironia

Já dizia o crítico norte-americano Harold Bloom que a morte da ironia é a morte da leitura. Na ironia, que talvez seja a mais fina e sutil figura de linguagem, as palavras assumem significados diferentes do literal, com o propósito de sugerir exatamente o oposto daquilo que estamos dizendo na superfície.
A julgar pela polêmica gerada pela capa da mais recente edição da revista The New Yorker será preciso muito esforço para resgatar a capacidade dos leitores de ler para além da superfície.
O objetivo da revista ao publicar a charge aí ao lado era justamente ironizar as críticas infundadas que Obama e sua mulher vêm sofrendo nas últimas semanas. É evidente que os leitores da revista entenderam, e se divertiram com a piada. Mas e os demais? Para estes, é preciso dizer literalmente que Obama nem é muçulmano, nem terrorista. Ora, uma revista inteligente precisa ser capaz de surpreender o leitor; e nesse aspecto a The New Yorker acertou em cheio. M.S.V.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Criação literária em blogs

A relação do escritor com o blog talvez seja semelhante à que o escritor mantém com a crônica. Tanto o blog quanto a crônica funcionam como laboratório, exercício de escrita, contato com o mundo e com o leitor.
Um escritor precisa de visibilidade. E o exercício semanal da crônica, publicada em jornal ou revista, funciona como uma vritrine e como um espaço dialógico com o leitor. O blog talvez cumpra essa mesma função, no caso dos escritores em início de carreira ou que, mesmo não o sendo, já estão familiarizados com esse suporte.
Ao mesmo tempo, para quem escreve ficção, o blog pode funcionar como um laboratório de criação. Aqui estamos diante da hiperficção, modalidade narrativa que surge a partir da idéia de hipermídia e de hipertexto.
Assim, diante de questões como se os blogs podem ou não ser considerados berços de futuros escritores, a resposta é sim. Ora, o trabalho do texto é o berço do escritor. E não precisa ser necessariamente no blog, mas em qualquer mídia que veicule texto. Além disso, sempre se pode testar algumas histórias no blog antes de colocá-las em livro.
No vasto universo da blogosfera, destaco três blogs de escritores que fazem deste suporte um laboratório de criação.
O primeiro é o do poeta e jornalista Fabrício Carpinejar, do Rio Granbde do Sul, cuja produção poética pode ser conferida aqui. Também do Sul é o blog de Paulo Ribeiro, escritor, cronista e jornalista de Caxias do Sul. Em vitrola dos ausentes, o leitor pode conhecer um pouco da obra do autor e do seu estilo bem peculiar. As luas que fisgam o peixe, publicado no ano passado, reúne em livro crônicas produzidas e postadas inicialmente no blog de Paulo Ribeiro.
O terceiro blog que destaco é o do poeta Chacal, que despontou nos anos 70 e que é um dos mais importantes nomes da produção poética das últimas décadas. A exemplo de Carpinejar e Ribeiro, publica suas produções literárias no blog chacalog.
Outro dia me perguntaram se o blogueiro é escritor. Não, assim como nem todo cronista é escritor (de ficção, no caso).
Mais complexa, no entanto, é a relação entre blog e estilo literário. Todo suporte deixa marcas na escrita. Há uma série de traços estilísticos que são típicos da escrita de blogs. E isso talvez influencie a própria narrativa de um conto ou romance concebidos por um escritor que, antes de ser escritor, já era blogueiro.
Tudo depende de quem posta as matérias no blog. Seja como for, escrever num blog (com assiduidade e regularidade) pode ser o primeiro, ou um importante passo, na trajetória de um futuro escritor.
M.S.V.

terça-feira, 15 de julho de 2008

A função dos blogs

Qual é a função dos blogs? O que é mais importante: ter audiência ou ser relevante no seu segmento? E as postagens pagas? O blogueiro que recebe para escrever sobre tal assunto não deveria informar seus leitores sobre essa prática? Uma coisa é um anúncio no lado esquerdo ou direito da página; outra muito diferente é a matéria paga.
Gosto de pensar nos diários virtuais como uma alternativa de informação e de opinião à grande mídia. Transparência e independência são, ou deveriam ser, os valores supremos de um blog.
Afinal, blog não precisa obrigatoriamente de propaganda para sobreviver. Se correr atrás de audiência, ou se pautar seus posts por esse critério, o blog acabará reproduzindo a grande mídia.
O mesmo vale para os blogs de portais. Se estão lá, é por que se pautam pela audiência, pelo entretenimento, por critérios de noticiabilidade na maioria das vezes viciados. Portais currais, como já disse André Lemos.
Também me incomoda o excesso de opinião nos blogs. A opinião sozinha quase nada vale. É preciso estar apoiada em informação ou em análise.
A repercussão de assuntos, ou a prática de reblogar aquilo que se viu em outro site ou blog, não pode ser a matéria-prima principal de um blog. Se não vira clipping.
Se um blog deseja firmar-se enquanto espaço jornalístico, então precisa deixar bem clara essa posição.
Os blogs não podem repetir a grande imprensa.
Afinal, o que os define é o viés colaborativo, seja do ponto de vista tecnológico (pela exclusão dos intermediários), seja no aspecto de conteúdo.
M.S.V.

domingo, 6 de julho de 2008

Internet na Classe C

Sempre fui um otimista em relação ao futuro do webjornalismo. Ao mesmo tempo, jamais deixei de considerar, principalmente aos meus alunos na Unesp, que este futuro dependia do grau de inclusão digital da sociedade brasileira.
E sempre que me questionavam sobre tendências do webjornalismo respondia com uma ponderação: depende do país, depende da região.
Agora o Portal Terra divulga resultados de pesquisa sobre os internautas brasileiros. Os dados coletados são interessantes e indicam um avanço do acesso à Rede entre integrantes da classe C.
Vejamos:
  • 49,4% dos jovens da classe C acessam a Internet de casa;
  • 23,6% acessam a Internet a partir de lan houses;
  • 77,2 % dos internautas da classe C tem conexão banda larga;
É preciso observar que a pesquisa foi feita apenas em três capitais (São Paulo, Recife e Porto Alegre), a partir de um universo de 600 entrevistados. Logo, não reflete o Brasil como um todo.

A pesquisa ainda informa que houve pequena variação no percentual de acesso à Rede junto à classe C: no ano passado eram 37% do universo total de internautas brasileiros e, nesse ano, deve chegar a 40%.
De novo é preciso lembrar a limitação da pesquisa. Mas não deixa de ser auspicioso pensar que o acesso à Rede caminha, ainda que lentamente.

Por fim, uma pergunta: onde esses jovens buscam informação? Ou será que a informação vai até eles? E de que qualidade e com qual credibilidade isso ocorre? Perguntas para uma outra pesquisa.
Prof. Mauro