quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Metalinguagem em blogs

Ana Carolina Almeida

Notícias e informações sobre novas tecnologias são divulgadas diariamente em todos os meios de comunicação. Na Internet, essa divulgação torna-se praticamente uma “metalinguagem”, uma vez que a rede mundial faz parte do mundo de novidades relacionadas à tecnologia. É com essa metalinguagem que os blogs MacMagazine, MeioBit e Undergoogle trabalham. O objetivo dos três blogs é divulgar novidades no mundo tecnológico e de Internet, além de trazer a opinião dos autores e proporcionar a discussão entre os internautas que acessem o blog.
Antes de criar o MacMagazine o estudante de Publicidade e Propaganda Rafael Fischmann teve um portal de notícias e um podcast. Como estes demandavam muito tempo de trabalho, Rafael decidiu montar um blog, segundo ele, “mais informal e descontraído”. Como o blog pegou, o futuro publicitário decidiu abandonar os outros meios. Luiz Eduardo Nicolini, um dos criadores do Meiobit, conta que o blog surgiu como forma de hobby, mas com o aumento dos comentários dos leitores acabou ganhando maiores proporções e foi ficando sério. Já o Undergoogle surgiu quando Fernando Kanarski e Bruno Soares, lendo notícias internacionais sobre o google na Internet, descobriram que não havia nenhum site brasileiro que passasse essas informações no país. Então, se cadastraram em um serviço de blog (blogger) e começaram a escrever sobre o tema.
Apesar de tratarem do mesmo assunto, cada um dos três blogs têm suas especificidades. O MacMagazine foca-se em temas relacionados à plataforma Apple/Macintosh, mas Rafael destaca que qualquer outro assunto relacionado à tecnologia, Internet e eletrônicos é bem vindo no site. O Meiobit, por sua vez, não tem um enfoque específico. “Gosto de escrever sobre novos lançamentos, dicas úteis para os usuários e curiosidades”, afirma o criador Luiz Eduardo. Já o Undergoogle, como o próprio nome diz, procura divulgar as novidades do Google para o público brasileiro.
O caráter informativo está presente nos três blogs, mas os autores não consideram seus textos como notícias. “A idéia do site não é ser um portal de notícias; para isso, existem diversos outros sites por aí, que tentam ser imparciais e promovem objetividade e seriedade em seus artigos. Nossa idéia é ser algo mais pessoal, informal, descontraído e até parcial, se for o caso”, afirma Rafael Fischmann, do MacMagazine. Para ele, o importante é informar o leitor de uma forma diferente do que pode ser encontrado em outros sites. “Publicamos o que achamos de interessante dentro desses assuntos e o que achamos que pode acrescentar algo para o leitor e tornar o nosso site e conteúdo diferentes de todo o resto”, considera. Além disso, Rafael comenta que o sucesso do blog é garantido pelo fato de os colaboradores serem de áreas profissionais diferentes.
Para o criador do Undergoogle, o importante é divulgar o que os brasileiros querem saber. “Escolhemos os assuntos por maior importância para os brasileiros, tentamos trazer os lançamentos, novidades e dicas para a realidade brasileira. Portanto, nos baseamos na reação dos leitores, analisando comentários, palavras chave utilizadas para se chegar ao blog e assuntos interessantes do momento”, comenta o estudante Fernando Kanarski.
Sobre as ferramentas utilizadas na Internet, Fernando afirma que para ter um blog várias delas são necessárias. As que ele mais utiliza são o sistema de estatística (importante para controlar se o conteúdo tem um índice satisfatório), o sistema para acompanhar e distribuir conteúdo via RSS e a monetização (ferramenta que adiciona publicidade aos blogs). Rafael Fischmann, do MacMagazine, se diz um internauta assíduo e destaca a importância do meio. “A web é minha principal fonte de pesquisas profissionais e acadêmicas, e também meu principal meio de comunicação, depois do pessoal: sou assíduo usuário de e-mail, mensageiros instantâneos e comunicadores audiovisuais”, revela.
Quanto ao futuro dos blogs, os três autores são otimistas. Fernando Kanarski conta que já recebeu contatos de empresas e agências querendo anunciar no undergoogle (que, em 2006, ficou entre os Top3 do prêmio Ibest e ganhou um prêmio de dez mil reais). “Acho que o blog deixou de ser aquele ‘diário de miguxo’ para se tornar uma nova forma de mídia, talvez sem tanta credibilidade quanto um jornal ou revista, mas com um potencial incrível por permitir que qualquer pessoa comece a qualquer momento escrever sobre um determinado assunto, influenciando muitos leitores com um perfil semelhante e gerando um grande potencial de consumo”, afirma.
Luiz Eduardo considera que o blog é um novo estilo de imprensa que está em evolução. “Não vejo os blogs como mais uma moda da internet, que desaparecerá assim que outra novidade mais interessante surgir. Considero o futuro dos blogs muito promissor. Hoje, em cinco minutos é possível criar um blog e, ter o seu espaço para se manifestar. Com isso, é possível abordar temas que geralmente são evitados pela impressa tradicional, emitindo opiniões próprias”, destaca um dos autores do meiobit (terceiro blog mais lido do Brasil, segundo o Top50 FeedBurner Brasil).
Para Rafael Fischmann, o interessante dos blogs é que qualquer pessoa pode ter um, e há espaço para todos. “É certo que não se pode confiar em nada que se lê na internet, mas qualquer um pode trabalhar e lutar para conquistar a confiança dos seus leitores, se tornando tão importante quanto uma publicação impressa e consolidada”, acredita o criador do MacMagazine.

Do verde ao virtual

Como o jornalismo ambiental pode mobilizar pessoas e ajudar a preservar a natureza


Ana Carla Lopes
Ana Stella Guisso


Quando a internet parecia um meio onde a licenciosidade prevalecia sem regras de organização bem estipuladas, o surgimento dos blogs veio para legitimar a “verdadeira” e irrestrita liberdade de expressão. Sem a figura materializada de um censor que pudesse editar ou vetar seus textos, os blogueiros são os únicos responsáveis pela filtragem das informações que adentram o seu espaço virtual, é o que pensa a estudante de jornalismo Anne Rodriguez que possui um blog sobre jornalismo ambiental. “Eu gosto da possibilidade de você poder ser seu próprio editor. O blog dá liberdade, que é fundamental para o jornalista. Com essa possibilidade, a isenção jornalística ganha fôlego para prevalecer”, comenta.

E ganhou mesmo. Atualmente, existem 62 milhões de blogs, de acordo com os dados de Technorati (site que lista os blogs mais acessados do ciberespaço), e 175 mil novos surgem a cada dia. Surgido em 1997, o blog é uma recurso da web onde se postam textos, fotos, vídeos e áudios dos mais diferentes assuntos. A temáticas dos blogs pode variar de um diário pessoal de um adolescente a um púlpito de reivindicações político-partidária, passando por páginas de conteúdo jornalístico. Blog é uma abreviação de weblog, qualquer registro frequente de informações pode ser considerado um blog (até as últimas notícias de um jornal online, por exemplo).

Uma das vantagens das ferramentas de blog é permitir que os usuários publiquem seu conteúdo sem a necessidade de saber como são construídas páginas na internet, ou seja, sem conhecimento técnico especializado. Além de ser um bom método, para as que pessoas que possuem sites, de atualizar seu conteúdo de maneira mais rápida e descomplicada, em qualquer lugar do mundo.

O jornalista Senildo Melo foi contagiado pela biodiversidade que o cerca. Morador de Rio Branco, capital do Acre, ele desenvolveu um blog cujo objetivo é divulgar as boas reportagens produzidas na região Amazônica sobre turismo, produção da consciência ecológica e meio ambiente.
Tanto Senildo quanto Anne acreditam que a internet é a mídia que permite o acesso a um grande fluxo de informações sobre o meio ambiente. “São inúmeros sites de ong’s, associações, institutos e blogs dedicados ao tema”, afirma a universitária Anne. Para Senildo, esse fenômeno blogueiro vai além. “No Acre, os blogs pautam muitos jornais e tvs”, diz o jornalista.

Muitos acreditam que o segredo dos blogs mais acessados é o uso de ferramentas de conversação com o web-leitor, tais como os recursos que possibilitam o envio de matérias por e-mail ou SMS, e ainda permitem aos visitantes mandar comentários sobre os textos publicados.
Como exemplo pode-se citar o blog “Natureza em Pauta”, de Anne Rodriguez, em que há recursos de fotos, vídeos e áudios (podcast) e as ferramentas de envio de posts por e-mail e comentários dos mesmos.

Outra característica dos blogs é o uso de hiperlinks, que é uma referência num documento em hipertexto a outro documento ou a outro recurso. Os hiperlinks são extremamente necessários para a interação mídia e leitor, visto que eles saciam a curiosidade sobre alguma informação, possibilitando o aprofundamento do assunto.

Dos blogs analisados, apenas o blog da Anne Rodriquez utiliza hiperlinks. Em seus textos, as palavras-chaves são incorporadas na ferramenta que, geralmente, estão relacionadas aos conteúdos de outros sites. O blog de Senildo Melo configura-se pela transposição de seus textos produzidos para a TV Aldeia (filiada à TV Cultura), onde trabalha como repórter especial. Ele credita à falta de estrutura a pouca variedade de recursos estruturais em seu blog.

Produzir um blog é possibilitar o acesso à noticia 24 horas por dia.. “A adaptação e flexibilidade de horários permite a atualização a qualquer hora e várias vezes ao dia”, afirma a futura jornalista.

Ambos os sites estão hospedados no mesmo servidor e apresentam o mesmo layout, onde há predominância da cor verde relacionando-se à temática abordada em cada blog: jornalismo ambiental.

Senildo Melo e Anne Rodriguez entraram no mundo dos blogueiros pela mesma porta: por incentvo de seus professores. Ele, na pós-graduação, e ela na graduação. “Meu professor sugeriu, logo no começo do ano, que cada aluno criasse um blog sobre o tema do TCC e ele serviria para nos avaliar durante todo o ano”, conta Anne.

Levando em conta que o blog da aluna de jornalismo faz parte de um método de avaliação de uma disciplina da faculdade, ele é provido de maiores recursos, em que são utilizadas várias ferramentas, indicações dos melhores blogs sobre o assunto, sugestão de sites de organizações que prezam pelo meio ambiente e, também, um acervo sobre o material publicado no site desde o seu início, em março deste ano.

Já no blog de Senildo, são sugeridos alguns dos seus livros preferidos, alguns com relação ao ambientalismo. Também apresenta um local para sites recomendados e para arquivos do blog, desde abril de 2007.

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Moda para todos

Estar na moda não é um privilégio de poucos, jornalistas blogueiros tornam o mundo fashion mais acessível.

Gabrielle Nascimento
Nadja Peroni

Os blogs, que eram apenas utilizados como diários pessoais, onde seus proprietários postavam unicamente acontecimentos de sua vida ou sua própria opinião sobre diversos assuntos, hoje ganham outros valores. Pode-se encontrar na rede blogs informativos, nos quais quem escreve se preocupa com a notícia a ser veiculada, e muitas vezes crescem atingindo a credibilidade e a qualidade de um site.

Jornalista na Passarela (jornalistanapassarela.blogspot.com) é um blog de uma jornalista que fala sobre moda. Ele é atualizado quinzenalmente e dividido por sessões: Em pauta, Tendências, Famosos e Achados. Para cada edição são produzidas quatro matérias, todas escritas por Ana Carolina Lahr, estudante de jornalismo que idealizou o blog.

Lahr explica que, por enquanto, produz tudo sozinha, pois quis fazer tudo exatamente do jeito que planejou, mas que agora pensa em recrutar novas pessoas para fazer o blog crescer.
A página principal tem um espaço onde são mostradas respostas de pessoas com diferentes idades para a pergunta “O que é moda para você?”, frase que é também o slogan do blog. “A intenção era mudar (as declarações) a cada edição, mas acabo ficando sobrecarregada por fazê-lo sozinha, por isso ainda não pude atualizar”.

Por ser novo, o blog teve apenas três edições, seu conteúdo pode ser facilmente encontrado e acessado. Mas mesmo com um futuro crescimento, a organização do blog apresenta-se eficiente, já que na página inicial têm-se os ícones das diferentes sessões e clicando neles podemos acessar as diversas matérias produzidas de acordo com sua categoria.

As matérias são compostas por textos e fotos (nem todas possuem o crédito da repórter), “Eu utilizo também o recurso de vídeos disponibilizado pelo próprio blog. E nunca usei som porque não sei colocar ainda. Sempre tento, mas não tive sucesso”, explica, entre risos, Lahr.
Sobre as cores intensas que fazem parte do design, Ana Carol diz ter a intenção de combinar cores vivas mesmo que algumas vezes elas não combinem. “Por ser um blog de moda eu achei que tinha essa liberdade, assim como os estilistas criam certas coisas que às vezes nós não concordamos, entende?”.

Os assuntos abordados nas reportagens vão de tendências da estação, cobertura de desfiles a perfis de personalidades da moda, “Eu dou prioridade para o que eu gostaria de saber e não vejo por aí. Por exemplo, o que é um jornalista de moda? O que é um editorial de moda? Quem é Coco Chanel? Coisas que quem quer participar desse mundo deve saber”.

O blog é informativo e tenta não ser opinativo, “Uso adjetivos e faço interferências, até porque, apesar de ter um caráter jornalístico o blog nos dá essa possibilidade, já que é meu (risos). Mas, para dar opiniões mesmo deixo para a seção ‘opinião’, e para quando algum colunista quiser escrever (os colunistas não são fixos, quem tem material, me manda.)”, explica Ana Carol.
Para expressar seus sentimentos e opiniões, a jornalista possui outro blog, http://www.anacarol.com.br/, “É divididos em seções onde publico crônicas, poemas. Mas ele está meio desatualizado. Também escrevo, às vezes, para um blog literário (www.heteronimosaleatorios.blogspot.com), lá meu heterônimo é Jaime.

O blog Jornalista na Passarela tem espaço para interatividade com o internauta, cada matéria possui espaço para postagem de comentário, além disso, Ana Carol criou uma enquete com a pergunta “Qual o tipo de bolsa que vai entrar para a sua coleção nesta estação?”, mas, segundo Lahr, ninguém participou, por enquanto, pois, para ela, muitas vezes as pessoas têm preguiça de escrever.

Ana Carol espera que o blog cresça e conquiste leitores assíduos e participativos, para isso, ela se preocupa com a credibilidade das informações e divulgação do blog, que é feita por email, orkut, além de cartazes expostos na UNESP, faculdade que ela cursa. “Tenho também uns flyers que um amigo patrocinou. O problema é que o pessoal dificilmente pega um endereço no impresso para acessar na net”, diz Lahr.

Ela também explica que o conteúdo não é voltado, exclusivamente, para jornalistas, “Na verdade a linha editorial do blog se baseia num aprendizado conjunto. Eu escrevo para praticar e aprender e quem lê também vai entrando no mundo da moda aos poucos, junto comigo.”, fala Ana Carolina.

O que é moda pra você?
Laura Artigas, jornalista formada na PUC-SP, com pós graduação na Getúlio Vargas, dá suas opiniões sobre o mundo da moda em seu blog Moda pra Ler (http://www.modapraler.blogspot.com/). O slogan “Um blog simples, prático e elegante”, mostra as intenções de Laura.

Não são apenas opiniões, a jornalista escreve sobre o que gosta, o que a interessa, mas sempre com um teor informativo, além de publicar diversas entrevistas com “pessoas que realizam um trabalho interessante na moda”, explica Laura.

Ela se interessou pela área quando ainda era criança, e desde os 13 anos, quando teve que fazer um trabalho sobre este tema para o colégio, é consumidora voraz de livros e revistas de moda. Para ela, o blog é uma forma de fazer jornalismo de um jeito próprio.

Segundo Laura, o blog era uma alternativa, já que ela queria fazer jornalismo de moda, mas não tinha muitos contatos nem experiência nesta área. “Confesso que tinha um pouco de receio de expor minhas idéias na internet e demorei um pouco para fazer o blog, até que um dia acordei cedo e fiz”, diz.

O Moda pra Ler trata de distintas coisas relacionadas à moda: estilistas, história, entrevistas diversas, dicas de lojas, lugares livros e filmes. Todos os posts são classificados de acordo com o assunto: Comportamento, Entrevistas, História da Moda, Jornalismo de Moda, Tendências e Viagens; são algumas das seções, que se colocam ao lado direito da página. Os posts também podem ser buscados no blog, por ordem cronológica da postagem.

Laura usa fotos e vídeos para exemplificar os temas tratados em cada matéria. Muitas fotos são produzidas pela própria jornalista, e alguns posts são constituídos apenas de “ensaios” que ela faz. Os vídeos são publicados no You Tube, mas podem ser vistos na própria página do Moda pra Ler. Os posts também contam, muitas vezes, com links para outros sites mostrando, por exemplo, marcas de roupa e reportagens de outros jornais.

Distinto do blog de Ana Carol, O Moda pra Ler é clean, com um layout inteiro branco, com detalhes em rosa. Laura explica que “gosta do toque de rosa, é charmoso”. Quanto ao branco, diz: “tenho uma forte ligação com arquitetura moderna, uma vez ouvi um arquiteto amigo dizer ‘arquitetura é branco’. Apesar de parecer radical, para forma, para o lay-out é a cor que mais me agrada”.

Segundo o pesquisador Wagner Alonge, que se especializou no estudo da web e dos weblogs, em seu texto “Agoras digitais: a emergência dos blogs no ciberespaço e suas implicações na sociabilidade e cultura midiática”, “As comunidades podem ser facilmente detectáveis pelos links que ligam as páginas entre si, e pela intensidade de comentários pode-se ver que cativa leitores regulares”.

Essa afirmação pode ser exemplificada no blog de Laura. O Moda pra Ler possui, na direita da página, sugestões de diversos links a serem visitados. São categorizados em blogs ou sites que tratam de moda ou de diversos assuntos. E na seção “Moda nas Ruas”, que são sites e blogs de distintas partes do mundo de fotógrafos que Laura acha interessante.

Os leitores interagem com o blog, através da seção de comentários, assim como no Jornalista na Passarela. Chamados de “fru-frus” pela jornalista, uma palavra que segundo ela designa “as coisas a mais, as frescurinhas”. Os comentários mostram que o blog tem um acesso constante.
Laura recebe além dos comentários, três e-mails diários. “Quando publico algum guia de endereços ou fotos de viagens chegam bem mais”, diz. Ela acredita que por escrever com uma linguagem acessível, as pessoas se identificam com seu trabalho. Confirmando essa grande recepção dos internautas, o blog Moda pra Ler foi escolhido, entre outros, para divulgar a nova campanha do novo perfume da Chanel: Coco Mademoiselle.

terça-feira, 6 de novembro de 2007

Do prato para a tela

Blogs levam o mundo da cozinha ao computador

Gabriela Stripoli

O mundo digital permite a diversidade de conteúdo. O mundo dos blogs, ainda mais. Segundo o Technorati, um site de pesquisas sobre a Internet, estima-se que são criados 75 mil novos blogs por dia, ou seja, quase um blog por segundo. E atualmente seu conteúdo ultrapassa a configuração de “diário virtual”, quando o primeiro blog foi criado em 1997, por John Barger.

Mixirica surgiu em 2004 como uma revista eletrônica para de publicar textos relacionados à gastronomia, um dos assuntos que Tatiana mais gosta. Porém, seguiu à tendência de simplificação do uso das ferramentas da web e transformou-o em blog. “Com o tempo, a revista mostrou-se difícil de atualizar, por ser muito complexo e tomar muito tempo. Assim, o site evoluiu aos poucos para o que é hoje e ganhou receitas, que não existiam na versão original”, justifica.

Entretanto, a mudança de formato de revista para blog não significa simplicidade no conteúdo. O Mixirica apresenta postagens divididas por seções, de acordo com o que é publicado – e não são apenas receitas. “Procuro sempre propor na Mixirica temas que acredito serem importantes, como o consumo consciente e a ecologia, por exemplo, mas sempre inseridos no contexto gastronômico”, preocupa-se Tatiana. A autora se considera na responsabilidade de fazer seus leitores refletirem sobre alguns assuntos, já que seu blog tem grande audiência – 60 mil visitas por mês . Algumas de suas seções são notícias, memórias, pessoal, dicas, entre outras.

O blog tem sua identidade visual produzida pelo designer Estevam Romera, que também trata algumas imagens e produz ilustrações. É feito em preto, roxo e laranja e apresenta três colunas laterais que otimizam a navegação. A primeira, à esquerda, traz as postagens. Em uma coluna secundária central ficam as seções Pomar e Gomos: um fórum criado pelos próprios internautas e artigos produzidos pela autora, respectivamente. A terceira coluna apresenta ferramentas de busca no site, Rss (que permite a leitura do blog em smartphones), links externos, newsletter e perfil da autora.

Além das ferramentas que melhoram o Mixirica, todas suas imagens são hospedadas no Flickr, um álbum virtual mantido pelo Yahoo!. Esse álbum também possui um link em miniatura à direita da tela principal, facilitando o acesso direto ao conteúdo visual.

Outro blog que segue a mesma linha é o Rainhas do Lar, mantido por Kátia Najara, Faby Zanelati e Clau Tomasi, amigas de diferentes lugares do Brasil que se conheceram na rede. “Eu conheci a Faby por meio do seu blog, nos tornamos amigas virtuais, descobrimos muitas afinidades, e entre elas, o prazer de cozinhar. Nunca imaginamos que o blog ia alcançar a grande popularidade que tem hoje”, valoriza Kátia. “Estávamos sempre trocando receitinhas através dos comentários nos nossos blogs pessoais. Foi então que notamos nossas afinidades e decidimos criar um blog temático onde pudessemos falar mais sobre a nossa paixão pela culinária”, completa Faby. A receita deu certo – e desde 14 de novembro de 2005 o blog está no ar.

O Rainhas do Lar apresenta suas postagens divididas por categorias, assim como o Mixirica. O histórico de postagens, além de cronológico, também é dividido por assunto. Porém, o layout do blog é bastante tradicional - em apenas duas colunas, tons de branco e laranja separam as atualizações das demais seções, mostrando que não é necessário grande conhecimento de design na internet para produzir um site limpo e bonito. O blog também mantém suas imagens hospedadas no flickr.

O diferencial fica por conta do mural, na segunda coluna. Apresenta um índice de receitas ordenadas por categoria, um clipping de todas as matérias veiculadas na grande imprensa sobre o blog e um arquivo em pdf que leva o nome de "expressões de comer". É um conjunto de expressões populares sobre alimentação e seu significado - desde "quem não chora, não mama" até expressões inusitadas como "ficou uma uva!".

Os blogs que levam a culinária à rede atraem não só o público jovem que tem como hobby a gastronomia. O conteúdo do Mixirica e do Rainhas leva o mundo digital a quem não estava acostumado ao uso da Internet – pessoas mais velhas que gostam de cozinhar e donas de casa. “A maior importância é aproximar pessoas em torno da comida, com bom humor e gentileza. O nosso público é basicamente mulheres de todas as idades, brasileiras que vivem em toda parte do mundo”, orgulha-se Kátia.

Os comentários e o comprometimento com atualizações permitem a criação de vínculos, tornando o blog popular. “Recebemos muitos e-mails de pessoas que se dizem influenciadas por nossos posts, pessoas que descobriram ou redescobriram o prazer de cozinhar depois de lerem o Rainhas, pessoas que reproduzem nossas receitas, seguem as nossas dicas”, conta Faby. Essa reciprocidade é fundamental para a popularidade – Faby conta que acessa mais de 20 blogs todos os dias, nem sempre relacionados ao conteúdo do seu.

O Mixirica impulsionou a criação de um livro de Tatiana, em conjunto com outras internautas – inclusive as autoras do Rainhas do Lar. Sob o título de A Peleja do Alecrim com o Coentro e outros causos culinários: receitas e cordel, foi lançado dia 27 de setembro em São Paulo. Não é a primeira publicação literária de Tatiana, que já colaborou com receitas no livro Papel Manteiga, de Cristiane Lisbôa.

A Peleja do Alecrim é um exemplo de como o mundo virtual dos blogs não existe apenas na tela do computador – desta vez, as receitas passam da luz do monitor para o fogão da cozinha.
______________________________________________________________________
Acesse: www.mixirica.com.br, www.rainhasdolar.com
Blogs gastronômicos relacionados que colaboraram no lançamento do livro:
www.trembom.blogspot.com , www.lefouet.com

Blogs e jornalismo: convergências, gêneros e formatos.

Com o advento da Internet, um dos pontos afirmados como sendo de mudança radical, tem sido o alargamento do horizonte de possibilidades de produção e circulação de conteúdos. Os blogs representam uma manifestação própria da Internet dentro dos formatos noticiosos; surgidos como diários virtuais em 1997 (CARVALHO, 2004), os blogs eram um ajuntamento de confissões íntimas, opiniões, textos reproduzidos de suportes tradicionais, entre outros. O formato ganhou notoriedade primeiramente entre jovens norte-americanos e rapidamente percebeu-se seu potencial jornalístico. As teorias da comunicação evidenciam que as mudanças comunicacionais estão intimamente ligadas à evolução dos suportes midiáticos, do contexto histórico e da relação intrínseca entre produção e acesso à informação. É possível considerar que o desenvolvimento da Internet é caracterizado por catalisar uma modificação substancial no que se refere à estrutura e ação do campo midiático, principalmente no que diz respeito às práticas jornalísticas.
As possibilidades de interação, gerenciamento de recursos de outras mídias (convergência multimídia) e constituição de práticas narrativas adequadas a este espaço-informação demonstram que não estamos vivenciando uma simples adaptação conjuntural, mas sim transformações em curso orientadas à compreensão da natureza e modus operandi do ciberespaço e as mudanças no papel dos jornalistas. Como demonstra Ziller (2007) o crescimento dos blogs remete à multiplicidade específica da hipermídia; multiplicidade de emissores, de trajetos, de opiniões. Sob o formato, cabe tanto ao ‘proprietário’ do blog publicar informações e opiniões quanto ao visitante/ leitor concordar, discordar, reclamar, rebater o que foi publicado. Mas já é possível afirmar que na prática jornalística nestes blogs predominam gêneros jornalísticos que aproximam as formas discursivas do jornalismo das subjetividades sociais, que servem como recursos narrativos a fim de ultrapassar os limites de compreensão das formas sociais impostos pela linguagem referencial do jornalismo estritamente informativo, ocorrendo, portanto nos blogs uma hibridação de gêneros um misto de opinativo, interpretativo e informativo, dentro de um formato característico de coluna de opinião.