sábado, 21 de abril de 2007

Tipos de interconectividade do jornalismo na web

LIDIANE OLIVEIRA
THAIS NUCCI

Maria Clara Aquino comenta sobre três possíveis tipos de hipertexto. Existe o hipertexto potencial, cujos caminhos estão pré-determinados pelo programador da página e no qual o usuário não pode fazer novas associações. Há também o hipertexto colagem, que permite uma atuação mais ativa do internauta. Nessa alternativa, o usuário pode executar mudanças já previstas pelo autor da página: ele tem a liberdade de criar, embora não haja debate entre usuário e programador quanto à criação. Por fim, existe o hipertexto cooperativo, no qual a construção torna-se coletiva: existe interação e debate entre autor e o usuário da página na construção do hipertexto.

Segundo a autora, o hipertexto coletivo seria o mais próximo do ideal. Ele permite que mais pessoas se utilizem do recurso, podendo modificar seu conteúdo. Dessa forma, as informações nas páginas tendem a se tornar mais ricas. Não obstante, os internautas passam a ser co-desenvolvedores, anulando a escrita individualizada. Assim, a participação diversificada na elaboração do hipertexto leva à formação de uma inteligência coletiva.

Duas propostas de interconectividade entre usuário e página são os blogs e o site Wikipedia. Os blogs são espaços reservados em que os leitores têm a possibilidade de inserir comentários. Eles contribuem com a alteração morfológica da rede. Já o Wikipedia é um site em que os usuários têm a possibilidade de alterar e/ou editar conteúdos. Ambos atendem perfeitamente a idéia de interconexão entre ciberleitor e criador.

sexta-feira, 20 de abril de 2007

Características do hipertexto

LIDIANE OLIVEIRA
THAIS NUCCI

Uma das características básicas na definição de hipertexto é precisamente a sua natureza não-linear, não-seqüencial, sem início e sem fim. Muitas vezes, compara-se o sistema hipertexto com o processo da memória humana. Esta produz diretrizes que funcionam em um sistema aberto em constante mutação. Com o hipertexto, ocorre um procedimento similar: a informação flui em espaço e tempo desmedidos e sem destinatário fixo. Além disso, os textos digitais são mais suscetíveis à autoria múltipla. Com a escrita para o meio eletrônico, anulam-se as fronteiras entre autor e leitor. Surge, então, uma nova forma de produção textual, baseada na interatividade.

Outra característica fundamental do hipertexto é o uso de “nós” ou links, cujo emprego faz o ciberleitor não se “perder” no decorrer da matéria. O recurso pode surgir num sistema de janelas, fazendo com que o usuário nunca abandone a leitura principal. Dessa forma, os links acrescentam uma carga maior de conhecimento à notícia. Esse princípio das “ligações” pode nos remeter, em poucos segundos, a qualquer ponto da rede textual. E mais: ele garante a possibilidade de navegação e transição para qualquer outro texto.

Para Lúcia Leão, a hipermídia é complexa e não-linear, ou seja, a ordem de leitura de um texto pode variar de um leitor para outro. “Mais do que não ter seqüência fixa, o texto não-linear é aquele que favorece a emergência de uma seqüência arbitrária”. Essa estrutura relaciona-se à variação de possibilidades de conexão do texto, ou seja, em um hipertexto, todos os pontos estão intimamente ligados, não há uma ordem exata de leitura e não se sabem quais são os limites dessa conectividade.

quinta-feira, 19 de abril de 2007

Como fazer jornalismo na web

Luciano Guaraldo

Uma das principais características que diferencia o texto webjornalístico de outras formas de produção noticiosa é a hipermídia, uma técnica de escrita não-linear que alia os recursos do hipertexto e da multimídia. Enquanto a última se refere à utilização de diversos meios em conjunto, como áudio, vídeo, imagens e textos, o primeiro consiste em fragmentar o discurso em uma série de blocos de texto ligados entre si por links que permitem ao leitor construir o seu próprio caminho de leitura.

Para a produção de uma boa notícia hipertextual, é necessário que cada um desses blocos de texto sejam independentes um do outro, mas que se complementem se lidos como um todo. Como o próprio leitor faz o seu itinerário de leitura, não cabe ao jornalista produzir notícias que só fazem sentido se lidas em uma certa ordem. Também não se pode partir do pressuposto que o internauta lerá efetivamente todas as notícias relacionadas para compreender a matéria; em tempos corridos de globalização, isso só ocorrerá quando o tema abordado for realmente muito interessante para aquele que acessa a notícia. Segundo Lucia Leão, a tecnologia hipertextual transforma a web em uma teia, em uma malha de informações que se interligam, com conexões que levam a conexões sucessivas e intermináveis.

Outra característica destacável da internet é a possibilidade de interação, de feedback instantâneo e mesmo de remodelação da notícia pelo leitor. Conforme define João Canavilhas, "a internet oferece ao jornalista a possibilidade de falar COM o leitor, em lugar de falar PARA o leitor. E ao falar com o leitor, o jornalista está a dar-lhe a possibilidade de fazer parte da notícia, participando na sua construção através do correio eletrônico ou dos grupos de discussão" (2002, p. 4).

No entanto, o que se verifica hoje na internet é uma interatividade fraca e limitada, a partir de opções pré-definidas. Maria Clara Aquino, em Um resgate histórico do hipertexto, defende que “não é possível considerar a prática hipertextual da Internet de hoje como efetivamente interativa, já que o usuário da rede não interage totalmente nas páginas, porque não possui total liberdade e flexibilidade de se manifestar”.

O jornalismo na internet também apresenta um importante diferencial, devido às possibilidades da rede: a liberdade de contextualização. Livre das amarras do espaço limitado no jornal impresso ou dos contados segundos para a televisão e o rádio, o webjornalista pode se utilizar da natureza hipertextual da web para apresentar todo o histórico da notícia relatada, o que já foi publicado sobre o tema, etc. Dessa forma, o padrão de textos curtos da rede não deve, em hipótese alguma, ser visto como uma “camisa-de-força”; pelo contrário, as possibilidades oferecidas são ainda maiores.

No jornalismo online não há verdades absolutas estabelecidas e nem modelos corretos a serem seguidos. A linguagem e o formato adequado para o meio – que utilize por completo todas as possibilidades que a rede oferece – ainda estão em processo de construção, e o debate, a conversa e a troca de idéias fazem-se necessários para a configuração do estilo desejado.

Memória na internet

Luciano Guaraldo

Nas civilizações anteriores ao surgimento da escrita, a memória desempenhava função fundamental na transmissão dos saberes. Quando a oralidade cede lugar para o registro no papel, a memória começa a perder o seu caráter biológico e passa a ser associada a aspectos técnicos. Dos monges copistas ao iPod, passando pela prensa de Gutenberg e pelo computador pessoal, a evolução da memória passa a acompanhar a evolução tecnológica.

Assim, a internet vem obtendo, aos poucos, uma afirmação de seu papel como memória coletiva da humanidade. A rede pode arquivar mensagens, notícias, artigos, livros, imagens, obras de arte, vídeos e áudio em seu infinitamente vasto espaço virtual. Porém, o diferencial da internet não está no armazenamento desse conteúdo, mas na disponibilização do mesmo para qualquer indivíduo que tenha acesso a um computador e à web, conforme declara João Canavilhas, em sua obra A internet como memória: "esta enorme quantidade de informação disponível não é, só por si, uma marca distintiva da internet em relação aos outros mass media. O que a distingue é a possibilidade desse arquivo ser imediato e global, reduzindo o espaço e o tempo a um momento" (2004, p. 1-2).

No entanto, apesar e/ou por causa de seu imediatismo, a internet precisa superar quatro obstáculos que podem dificultar a sua utilização como registro e memória. São eles:

1. Longevidade do suporte: com a evolução das ferramentas tecnológicas, calcula-se que os atuais meios digitais estarão obsoletos em menos de duas décadas. Assim como os vinis são, para o mundo da música, objetos de colecionador, os disquetes já estão em decadência no mundo informático e, dentro de alguns anos, mídias como o CD e o DVD serão substituídas pelo blu-ray e similares;

2. Acesso: como a informação na web está disponível a todos, precisa-se criar uma espécie de bloqueio que separe a informação coletiva da pessoal. Além disso, é fundamental que se desenvolva um controle sobre a propriedade intelectual alheia e, portanto, uma legislação específica para a área;

3. Ferramentas de pesquisa para informação não textual: freqüentemente utilizado para busca de textos, o Google apresenta um método de pesquisa para imagens pouco eficaz, pois depende do nome dados à foto ou dos textos próximos a ela. Se a internet pretende se tornar um banco de dados da memória humana, será necessário o desenvolvimento de uma ferramenta que seja capaz de buscar imagens e vídeos com sucesso, sem depender de palavras-chave e afins;

4. Usabilidade: faz-se necessário que bancos de dados virtuais guiem o usuário na busca da informação desejada. Assim, precisa-se desenvolver uma barra de navegação que permita ao internauta saber onde ele se encontra e para onde poderá se dirigir no meio;Assim como a memória humana, a memória virtual também pode sofrer do processo chamado de esquecimento. Canavilhas defende que “na web o esquecimento está geralmente relacionado com a quebra das hiperligações”, ou seja, “que uma determinada porção de informação [...] não está disponível porque mudou de local ou porque o servidor onde se encontra guardada está desativado” (2004, p. 3).

Assim como a memória humana, a memória virtual também pode sofrer do processo chamado de esquecimento. Canavilhas defende que “na web o esquecimento está geralmente relacionado com a quebra das hiperligações”, ou seja, “que uma determinada porção de informação [...] não está disponível porque mudou de local ou porque o servidor onde se encontra guardada está desativado” (2004, p. 3).

Hipertexto recria linguagem na web

LIDIANE OLIVEIRA
THAIS NUCCI

Desde o surgimento da internet e a posterior veiculação de textos jornalísticos na web, discutem-se as melhores formas de se fazer jornalismo para o meio digital. De fato, hoje, o ciberjornalismo exige novas formas de escrita. Podemos dizer que essa tendência não é exclusiva da internet. Com o passar do tempo, todas as mídias foram adequando suas linguagens, de forma a se tornarem mais apropriadas para as respectivas plataformas.

Escrever para a internet não quer dizer que se deve renegar totalmente as técnicas e formatos que caracterizam o texto jornalístico. Segundo Ramon Salveria, em entrevista concedida ao site Observatório da Imprensa, escrever para o espaço on-line “significa que podemos ir além e explorar certas possibilidades expressivas que só o ciberespaço descortina para o jornalismo”. Para ele, o que muda no ciberjornalismo tem a ver com a estrutura do discurso, alterada por conta do hipertexto, que possibilita, entre outras coisas, a interatividade e o uso de recursos multimídia (como imagens e arquivos de áudio e vídeo, por exemplo) que só o meio virtual oferece.

Mas, afinal, o que é o hipertexto eletrônico? Com as constantes mudanças e inovações da era digital, o hipertexto configurou-se como um novo estilo de escrita para a web, principalmente por apresentar características peculiares nesse formato de texto. Para Andréia Cordeiro, o hipertexto leva ao aparecimento e ao experimentalismo de gêneros literários inéditos. Isso ocorre porque novas formas de criação artística e literária procuram conferir ao texto uma apresentação diferente das já existentes e uma nova forma de veicular a significação.

Essa tendência pode ser representada como uma nova forma de fazer o leitor circular pelos textos, o que, ao mesmo tempo, desencadeou novas práticas de leitura e de escrita. Dessa forma, segundo Cordeiro, “autor e leitor, por exemplo, são dois conceitos que sofrem uma grande mudança, diluindo-se. (...) O leitor torna-se ainda um potencial editor, pois pode ler, introduzir notas e posteriormente republicar um documento em formato hipertextual”.

quarta-feira, 18 de abril de 2007

Internet como espaço de manifestação da coletividade

LIDIANE OLIVEIRA
THAIS NUCCI

Quem é o público do webjornalismo? Como identificar um ciberleitor em potencial, tanto do ponto de vista do seu perfil quanto à sua atuação na rede? Segundo Castilho, “depois de décadas de impotência, diante da hegemonia dos jornalistas e comunicadores na formação da agenda pública de debates, os cidadãos assumem um novo papel, mas ainda não conhecem seus limites e condicionamentos”. Grosso modo, essa nova função seria a de conduzir o direcionamento das atividades jornalísticas on-line, proporcionando um tratamento diferenciado ao público e ajustando a noção do que é informação e de como veiculá-la na rede.

Isso seria viabilizado pela interatividade proporcionada pelo meio digital. O conceito de webjornalismo está intimamente ligado a esse aspecto. De acordo com Ted Nelson, a internet vem se formatando como o “espaço de representação de coletividade, na medida em que abriga as mais diversas manifestações de cooperação entre os usuários: sites de relacionamento, fóruns de discussão, chats, comunidades virtuais, blogs, fotologs”.

Dessa forma, o ambiente de “liberdade” proporcionado pela internet permite que as atividades possam ser desenvolvidas quase sem restrições. A idéia é que, com a interatividade, o público não só receba a mensagem noticiosa, como interaja com ela, criando simpatia – ou antipatia – com um veículo jornalístico. Essa relação pode ser sintetizada pelo que Pierre Lévy chama de “potencial interativo e permutacional do sistema”, ou seja, além de ter como característica principal a veiculação de informações praticamente em tempo real, a web se estabelece como um meio capaz de relacionar autor e leitor.

Na situação de hipertexto constituída pelo jornalismo na internet, todo leitor é também um pouco escritor. Segundo Lúcia Leão, “o leitor-ativo que a hipermídia requisita é também o arquiteto de um labirinto. O viajante, ao percorrer o sistema, faz existir um espaço que se desdobra. No momento em que este atualiza escolhas, o desenho de um labirinto é criado”. Isso significa que, ao navegar pela rede, o ciberleitor vai criando elos e delineando novos de leitura.

Mas Ted Nelson ressalta que ainda falta um espaço de construção de conhecimento efetivamente coletivo, onde programadores e usuários possam interagir completamente entre si, trocando informações e construindo novos caminhos por entre a infinita rede de dados do ciberespaço. Nesse âmbito, quando a internet poderá alcançar a máxima realização de todo esse potencial? É impossível prever. Mas, como reflexão, vale concluir com a contribuição de Jorge Luis Borges (em “Biblioteca de Babel”): “A tecnologia hipertextual permite que a web seja uma teia, uma malha de informações que se interligam; conexões que levam a conexões sucessivamente”.