sábado, 21 de julho de 2007

Nova Era

A Internet, nos últimos tempos, entrou em uma ascendente que cresce de forma assustadora. Cada vez mais, os lares possuem um micro computador, e as famílias acessam com mais profundidade a grande rede. Paralelamente, a Web vem se estabelecendo como a nova mídia, despontando no cenário jornalístico junto aos meios tradicionais, como o rádio, a televisão e os jornais impressos. Não somente se fixando como um espaço sólido no mercado midiático, a Web extrapola os limites da produção jornalística, modificando os padrões conhecidos da notícia, citados por Beatriz Ribas, “quais sejam, hipertextualidade, interatividade, multimidialidade, personalização, memória e atualização contínua”.

Desde a década de 70, com o primeiro e grande vislumbre de informatização da notícia com a experiência do conhecido jornal The New York Times, a prática jornalística na Web tem sido adaptada e remodelada. Na década de 80, Anthony Smith já fazia considerações acerca dos serviços de telefonia e sua relação fundamental com as empresas jornalísticas. “O serviço telefônico desempenha um papel direto e útil na construção das notícias” (SMITH, 1980).

Produzir jornalismo na Web implica em compreender, inicialmente, o meio em que se está inserido. Quando na Internet, o usuário tem acesso a vários portais simultaneamente, pois tem uma gama de opções bastante extensa. Por ser inserida num ambiente tão multifacetado, a Web notícia deve atender a alguns princípios básicos, como rapidez, interatividade e interconexão entre temas. Os links atuam como verdadeiras portas de entrada e saída desses temas, interligando-os entre si conforme for mais conveniente. É o que Ribas define como o “mosaico de informações”, que possibilita ao internauta atingir diferentes posições a respeito de um mesmo assunto, ou conhecer mais sobre algum tópico relacionado, mas brevemente citado em uma determinada reportagem.

O hipertexto e os estágios do webjornalismo

Para entender o conceito básico de hipertexto, poder-se-ia imaginar um usuário acessando o website de notícias de sua preferência. Logo no topo da página, ele visualiza uma notícia sobre uma nova reforma ministerial no Governo Federal. Ao ler o texto, ele encontra uma série de elementos componentes, que não podem ser explicados no momento, pois, se assim fosse feito dentro daquele texto, sua proposta inicial e o tema principal seriam deixados de lado.

Para solucionar esse tipo de entrave, o internauta, curioso acerca de mais informações sobre determinado aspecto da notícia (uma palavra que remete à discussão do aborto, inserida num trecho da notícia que trate sobre o Ministério da Saúde, por exemplo), e se assim o website o possibilitar, pode clicar em links relacionados à matéria em questão. Assim, ele irá acessar um outro documento, mais explicativo sobre, no caso exemplificado, o aborto e sua polêmica discussão e recentes desdobramentos sobre o debate.

Em outras palavras, um texto na Web pode oferecer inúmeras facetas ao usuário, como notícias relacionadas, vídeos, imagens, áudios de entrevistas, dentre outros. Ao invés de visualizar um único texto sobre uma única temática, o leitor da Web pode acessar, através dos links, um sem-número de informações variadas, constituindo o que chamamos de hipertexto. Essa discussão nos remete aos conhecidos três momentos do jornalismo na Web, que, concomitantemente, nos levam a três paradigmas de narrativa para o webjornalismo.

Em um primeiro estágio, todo o texto dos jornais impressos é copiado para a Web, sem quaisquer tipos de adaptação à nova mídia ou formatação modificada. A possibilidade de expandir a leitura para outros temas relacionados, através de links, não existe nessa fase. Por esse motivo, o modelo narrativo que acompanha esse primeiro estágio é chamado de modelo Linear, nomeado assim por ser a narrativa dotada de começo, meio e fim identificáveis ao longo do texto.

Essa primeira fase evolui para um segundo estágio do webjornalismo, que trás o segundo modelo narrativo, a saber, o Hipertextual Básico. No referido modelo, a forma linear de leitura começa a ser quebrada gradualmente, ou seja, alguns links passam a compor os produtos da Web. Esses links são utilizados para melhor organizar as informações no texto. As mudanças desse estágio em relação ao anterior não são profundas. Aqui o leitor pode experimentar certo tipo de interatividade, ainda que de forma escassa e pouco definida.

Por fim, temos a terceira fase do webjornalismo, que trás consigo o modelo Hipertextual Avançado. Nesse momento, as narrativas passam a ser interligadas, e a interatividade atinge um nível bastante avançado. O leitor é remetido a publicações antigas sobre o tema que ele está lendo, além de poder acessar, sempre através de links, entrevistas em vídeo, imagens e outros recursos que fazem parte da nova narrativa jornalística. Alguns sites, nesse estágio, permitem que o internauta opine sobre o tema, seja através de blogs, ou dentro da própria publicação, além de disponibilizarem enquetes e salas de bate-papo.

O jornalismo na Web caminha para modelos cada vez mais avançados. Mas, antes disso, os usuários precisam apreender melhor das características da nova mídia, para que haja um processo mais eficiente. Com suas diferentes e variadas opções, a Web tem se tornado um importante e atrativo meio de inserção da práxis jornalística. Entretanto, parece ser constante a busca por uma linguagem própria e mais desprendida dos parâmetros já conhecidos utilizados por outras mídias.

Novos padrões

Adequação à nova mídia. Esse é um dos maiores desafios estabelecidos aos novos jornalistas. A procura por uma nova linguagem que se ajuste aos moldes da web é a máxima que conduz todos os esforços para a fixação e perpetuação da mídia digital como forma de informação.

A diferença que existe entre profissionais do meio impresso e quem trabalha na versão on-line não é a tecnologia empregada, mas sim o modo de pensar. “A internet está obrigando os profissionais a pensar em formato multimídia”, afirma Carlos Castilho em uma das publicações de seu blog. E isso é apenas uma síntese das novas rotinas que a web impõe aos jornalistas. A capacitação profissional é outro ponto chave, uma vez que exige do trabalhador flexibilidade e conhecimento das plataformas digitais para postagens e edição de vídeos, fotos e textos.

Nesse novo modelo de jornalismo “o mais importante é a capacidade de montar a narrativa com os ingredientes multimídia do que escrever o texto”, completa Castilho. Há também a competência do jornalista no que diz respeito ao relacionamento com o leitor. O profissional deve sempre manter atuante o canal de interação com o público como uma forma de demonstrar interesse pelo feedback e respeito àqueles que também participam da construção da notícia.

Trabalho coletivo

A maioria dos jornalistas ainda trabalha com a idéia de produção e divulgação linear da notícia. Acredita-se que cabe somente ao comunicador a tarefa de fabrico da informação, que somente ele possui a capacidade de criação e as ferramentas de publicação. Esse pensamentos vai na contra-mão das novas tendências. É cada vez mais ampla a participação do público tanto na via opinativa quanto no processo de modelação da notícia.

A passividade dos leitores tornou-se exceção nos processos noticiosos, ainda mais com o advento da Internet como mais um meio de divulgação de informação. O público é, agora, incômodo, “enxerido”, crítico e curioso quanto à participação na produção de matérias. Mas essa ânsia por ação direta incute ao público responsabilidade e desafios. Como novos produtores, os leitores passam a ter as mesmas obrigações éticas e morais no quis diz respeito à divulgação de notícias.

Mas os usuários ainda não conhecem seus limites e condicionamentos. Isso pode acarretar um descontrole na disponibilidade de materiais noticiosos e erros por vezes primários na produção jornalística. Há, também, uma preocupação em relação a segmentação de interesses para que “as preocupações possam ser resolvidas sem restrições”, afirma Castilho em mais uma de suas publicações.

Remodelação acadêmica

Dentre todas as áreas da comunicação, o jornalismo é a que mais sofre com as novas inovações da tecnologia da informação. E essa onda de atualizações está exigindo das escolas de jornalismo uma urgente revisão de métodos e conteúdos de ensino sob a pena de formarem profissionais defasados para o mercado.

O corpo docente das universidades ainda vê as tecnologias da web com olhos de deslumbramento. Não há uma conscientização da velocidade de penetração dessas tecnologias e muitas faculdades ainda consideram essa fase passageira, que não influenciará o modelo de jornalismo já instaurado.

A eficiência do ensino passa a sofrer quedas uma vez que o interesse de alunos pelas ferramentas da web é maior do que o dos próprios professores. Não existe um acompanhamento de mentalidade, um acordo mútuo de aceitação e remodelação à nova tecnologia. Isso decorre das muitas dúvidas ainda existentes sobre o melhor método de inclusão do jornalismo on-line na grade curricular das escolas de comunicação.

O trabalho na web exige do profissional conhecimentos além dos ensinados nas academias. O aluno precisa saber manusear as ferramentas disponibilizadas e isso coloca a Universidade em uma posição de questionamentos quanto ao modo como conduzir o ensino dessas inovações. Existe também o medo de até onde dar liberdade de criação ao aluno, pois a Internet permite uma gama infinita de ações e intervenções nos produtos midiáticos.

Como cita Castilho em matéria publicada em seu blog no dia oito de fevereiro, “a universidade tem uma função experimental insubstituível na questão da comunicação on-line porque, nas atuais circunstâncias do país, é a única instituição capaz de pesquisar a interface humana e social das inovações tecnológicas, especialmente na área da informação”. Disso decorre as parcerias bem sucedidas entre o ensino acadêmico e a inserção das novas ferramentas midiáticas no meio profissional.

Marcel Pereira
Ricardo Sottero

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