Com a vitória simbólica do Capitalismo no final do século XX, o mundo assistiu a uma unidade ideológica inimaginável cerca de um século atrás. Paralelamente a esse processo de rearranjamento das idéias, operacionalizou-se uma revolução nos transportes e na comunicação, que, por meio de aparatos sofisticados, integravam potencialmente toda a população e o território dos países incluídos em um todo único. A última e mais decisiva cartada nesta integração simbólica e real se deu no campo do virtual, por meio da informática.
Em 1969, com o advento da Internet em função da necessidade dos Membros da secretaria de Defesa dos Estados Unidos da América trocarem informações em uma alta velocidade e a longas distâncias, foi-se criando a plataforma para a revolução que se daria nos anos posteriores. Maria Clara Aquino, no artigo Um Resgate Histórico do Hipertexto: O desvio da escrita hipertextual provocado pelo advento da Web e o retorno aos preceitos iniciais através de novos suportes, lembra:
“Em 1989, o engenheiro de sistemas inglês, Tim Berners-Lee, através de muito trabalho, acabou inventando o HTML, um novo formato para armazenar documentos no disco rígido de um computador que tivesse acesso permanente à Internet. Cada computador teria uma localização específica, a qual acabou sendo denominada de URL. Para acessar a URL era necessário um protocolo que foi criado e denominado de HTTP. Em seguida forma criados os links, que dependiam das URLs. Para experimentar todo o seu trabalho, Berners-Lee, com a ajuda do engenheiro Robert Cailliau, criou um servidor e um brownser, possibilitando assim a entrada de milhares de usuários no ciberespaço”.
Um novo meio de comunicação, com todas as suas possibilidades de integração, aparecia não só como uma alternativa, mas como um meio singular e independente, tal como a televisão, o rádio e a imprensa. A grande vantagem da nova rede era a de oferecer, por meio de uma interface virtual, a união entre imprensa, rádio e televisão, somada a outras inúmeras possibilidades abertas pelo novo media, como os blogs, os chats, dentre várias outras, que ofereciam uma interatividade sem precedentes.
Durante o século XX, assistiu-se, conforme o modo capitalista de produção de consolidava, uma concentração de renda e de poderio econômico nas mãos de grandes grupos privados. Isto se deu com muita força também na área da comunicação, que apresentava como detentores cada vez menos representantes variados de diversos setores da sociedade (variedade que ocorria em São Paulo, por exemplo, no início do século XX, por exemplo, com os jornais das colônias de imigrantes), para o domínio de poucos grupos gigantescos.
A Internet possibilitou, mesmo com o advento dos grandes portais, uma saudável volta da “Anarquia”. A Internet, aliás, se constituí como um sistema notadamente anárquico, uma vez que com o enorme número existente atualmente de computadores pessoais, “criar” uma página pessoal ou um blog não é algo dispendioso. É estendida a um cidadão comum a possibilidade de apresentar voz e opinião a inúmeros setores da sociedade, tal como ocorria com as imprensas “caseiras” das colônias de imigrantes no século XX.
Para Maria de Aquino, “A Web é cada vez mais o espaço de representação de coletividade, na medida em que abriga as mais diversas manifestações de cooperação entre os usuários: sites de relacionamento, fóruns de discussão, chats, comunidades virtuais, blogs, fotologs, são apenas alguns dos exemplos que atestam o caráter de cooperação presente na Web. Movimentos como o do cyberpunk, o do software livre, a questão da música eletrônica e a difusão do mp3, jornalismo open source, etc. As formas são várias, diferenciadas entre si, com objetivos diversos, mas com a cooperação e a coletividade em comum. A Web está cada vez mais povoada por formatos que transparecem a coletividade prevista na proposta de hipertexto de Nelson e que assim se tornam responsáveis pela passagem de um espaço construído individualmente para a realização conjunta de um ambiente”.
DAS FORMAS DE DIFUSÃO DO CONHECIMENTO HUMANO.
O livro tem sido, desde o advento da técnica de Gutenberg, o principal meio de difusão de conhecimento humano. Não sem razão, após tal advento, a filosofia e a literatura assistiram a uma explosão de publicações sem precedentes, sobretudo sob o “guarda-chuva” intelectual de diversas correntes, como o Iluminismo, o Modernismo, o Marxismo, dentre diversas outras. No artigo O Livro e o Computador: Viagens por Labirintos de Palavras, Sandra A. P. Santos aponta o livro como um formador cultural da sociedade Ocidental:
“A cultura ocidental tem sido profundamente marcada por uma tradição de escrita e pelo domínio do códice impresso e do conhecimento livresco. De tal forma relevante é este domínio que muitos se referem à civilização ocidental como ‘a civilização do livro’. De fato, toda uma cultura está inscrita em livros. Os livros contêm a história e a tradição, as ânsias e os medos, as alegrias e feitos das civilizações e têm tido um papel fundamental na preservação de todos esses elementos. Para além de os livros terem vindo a desempenhar um papel vital no registro da informação, têm também sido relevantes na transmissão do saber de geração em geração, tendo-se afirmado no panorama cultural como poderosos veículos de conhecimento”.
Os livros migraram gradualmente do cotidiano para se estabelecerem de fato e mais fortemente como produção acadêmica, das universidades, e tendo mantido até hoje sua importância como difusores do conhecimento. Coube a novela radiofônica e televisiva, além do cinema, a função de construção de narrativas de entretenimento, antes destinada exclusivamente aos escritores.
Os livros, no entanto, perderam parte de seu espaço também pelo advento da imprensa, que se propunha, de modo cada vez mais rápido, a expressar de modo diário as diversas transformações em curso, sempre de acordo com as linhas editoriais de sua publicação, ou seja, de acordo com a sua visão da realidade.
Do caldeirão de idéias presentes no início do século XX, onde os “ismos” dominavam e dividiam as diversas correntes intelectuais, o marxismo e o liberalismo, que sempre se propuseram como alternativas mais “universalistas” e consistentes, inclusive pelo seu maior número de adeptos, se estabeleceram por meio de seus respectivos modus-operandi, ou seja, o Capitalismo e o Socialismo, cada qual com suas virtudes e defeitos.
NOVOS MEIOS, NOVAS QUESTÕES?
Certamente nem só de benefícios se faz este processo. É notável o enorme número de problemas gerados por esta veloz difusão da informação na rede mundial de computadores, tais como crimes difundidos via rede, como a pedofilia e a prostituição infantil, além da questão da veracidade das informações jornalísticas divulgadas, uma vez que todos, potencialmente, podem se tornar co-produtores e autores da informação. Novos sistemas e padrões anárquicos de difusão de informação exemplificam isso, como o Wikipedia, o sistema Copyleft (que isenta e elimina dentro de si a antiga questão dos direitos autorais), dentre vários outros. fatores
Maria Aquino no artigo Um Resgate Histórico do Hipertexto: O desvio da escrita hipertextual provocado pelo advento da Web e o retorno aos preceitos iniciais através de novos suportes, cita como exemplo o próprio Wikipedia: “A coletividade, a cooperação se manifestam livremente dentro da Wikipedia. Qualquer um pode criar um novo verbete, alterá-lo, incluir e/ou excluir links e dessa forma o texto é efetivamente coletivo, sem dono. Com links internos e externos, para dentro e fora da Wikipedia, os usuários alteram a morfologia da Rede, como afirmam Primo e Recuero e contribuem para a construção de uma Web de forma coletiva, mesmo que somente através da Wikipedia, já que em outras páginas da Web isso não é possível. Comunidades também surgem nesse espaço, já que muitas pessoas reúnem-se em torno de verbetes sobre os mesmo temas”.
Para uma sociedade cada vez mais integrada neste sistema, se colocam questões como: “Em quem devemos confiar para nos informar?”.Neste ponto, os grandes portais, ligados os meios tradicionais, levam uma enorme vantagem.No entanto, não se pode desprezar a enorme quantidade de meios sérios e comprometidos com a informação verdadeira e correta, que se beneficiam deste processo. Certamente, muitos deles não poderiam subsistir em um meio convencional, impresso, televisivo ou radiofônico, já tomado pelos grandes conglomerados.
OS PALADINOS DA REVOLUÇÃO
Para entendermos a revolução textual com o advento da Internet é preciso entender o que é um Hipertexto. Segundo Andréia Cordeiro, no Artigo O que é o hipertexto electrónico e de que forma altera a organização e a utilização dos textos?, “Uma das características comuns às múltiplas definições de hipertexto é precisamente a sua natureza não-linear, não seqüencial, sem início nem fim, muitas vezes comparada aos processos associativos do pensamento”.
Ou seja, o hipertexto é diferente da estrutura dos textos que estamos acostumados, com começo meio e fim. Sua estrutura é comparada a uma estrutura rizomática, sem um ponto central único, fazendo assim com que o texto possa ser interrompido em um ponto qualquer, sem afetar as demais partes, assim como ser retomado em qualquer um dos pontos restantes.
A partir do hipertexto surge a hipermídia, que é composta por hipertextos conectados por Links que remetem constantemente a outros textos da hipermídia. Quando da leitura de um livro, constantemente somos obrigados a interromper nossa leitura para lermos certas notas de rodapé que complementem a informação do texto principal. Na Hipermídia isso se dá através dos Links, que podem levam a novas janelas com textos complementares surgindo o risco de o leitor desistir da leitura até então considerada principal.
Por isso Andréia Cordeiro lembra que “cada nota ou comentário, a consultar por parte do utilizador tem lugar num nó ou numa ligação. Apesar de o leitor ser obrigado a efetuar uma pausa na leitura, os detalhes podem surgir num bom sistema de janelas, nunca abandonando a leitura principal. Mas do ponto de vista do leitor uma nova janela pode significar uma zona diferente na página de papel e por isso a diferença consiste nos novos meios eletrônicos, na possibilidade de ligar não apenas texto e nota, mas transformar a nota num ponto de entrada noutros textos. Ou seja, desfazer a autonomia do texto principal relativamente às suas fontes e aos seus intertextos”.
Jonatas Marcelino e Thybor Brogio
terça-feira, 17 de julho de 2007
O PAPEL REVOLUCIONÁRIO DA COMUNICAÇÃO
Postado por Anônimo às 18:49
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