A pesquisadora Maria Clara Aquino, assim como Beatriz Ribas que analisa os discursos jornalísticos na Web, pontuam os modelos de hipertexto que existem hoje na Internet. O mais usual é o modelo, denominado por Aquino, Colagem, que apresenta caminhos pré-estabelecidos pelo programador, e que Ribas chamará de Hipertexto Básico. Nesse modelo há apenas a inserção, talvez timidamente, de novos recursos de outras mídias e poucas associações com outros textos e sites. Através disso o leitor poderá criar sua forma de ler, saltando de um bloco de informação para outro, mas ele não poderá construir, junto com o primeiro escritor do texto, novas informações.
Já no modelo Cooperativo, segundo a denominação de Aquino, ou de Hipertexto Avançado segundo Ribas, a participação daquele que lê é muito mais efetiva. Maria Clara Aquino denominará essa interatividade de Mútua em relação da interatividade Reativa que caracterizava o modelo de hipertexto citado anteriormente. Aqui o leitor poderá ter uma participação efetiva do texto tornando-se também um autor. Nesse momento ele construirá a informação em conjunto com todos aqueles que entenderem que podem contribuir na montagem do conhecimento. Ricardo Nunes em seu artigo “Informação multimédia: quando os leitores são construtores de narrativas” cita uma fala do teórico do hipertexto Mike Sandbothe em que ele aponta essa mudança de função do leitor e também a limitação que ainda existe na Internet. “Leitura não é mais um processo passivo de recepção, mas raramente se torna um processo criativo de interação entre o leitor, escritor e texto” (SANDBOTHE, online).
Entre os representantes do modelo Cooperativo de hipertexto há o site do Wikimedia Foundation que reúne verbetes de assuntos variados em forma de uma enciclopédia, citações de figuras importantes, dicionário, base de dados de documentos livres e outros formatos menores. Seu principal portal é o Wikipedia que reúne mais de 3 milhões de artigos em mais de 100 línguas e dialetos. Apesar de haver moderadores que revisam os textos, é livre a todos os usuários modificar os verbetes ou acrescentar novas informações como também novos links. Contudo, o jornalismo participativo, que segue o modelo de Hipertexto Avançado, ainda é algo a ser alcançado. O portal brasileiro IG disponibiliza para seus leitores um canal chamado Minha Notícia para enviar notícias, mas ainda não é facultada ao leitor nenhuma outra ferramenta de participação.
Um grande exemplo que é ressaltado por Aquino é o dos blogs que cada vez estão mais disseminados entres os usuários da Internet. Segundo a autora essa espécie de site é uma forma libertária de comunicação, pois não se limita a nenhuma supervisão dos grandes meios e permite que os administradores dos blogs se comuniquem entre si e participem de um círculo de comentários. O conhecimento passa a ser montado de forma contínua e cooperativa, abrindo espaço para todos aqueles que quiserem participar.
Contudo Nunes alerta para o fato de que a linguagem ainda não está pronta e será necessário um tempo para que todos se acostumem com as mudanças da Internet. É possível que alguns tenham dificuldades para se adaptar.
“A leitura e a descoberta dos documentos on-line vão exigir uma pedagogia, uma nova aprendizagem que exige complexas operações cognitivas, pois só aparentemente o utilizador se movimenta num quadro de facilidades” (NUNES, pág 1)
A linguagem poderá mudar muito, ainda há muito o que explorar. Nunes utiliza a pesquisa de Carole Rich e Jakob Nielson, que em trabalhos diferentes chegaram a conclusão de que o leitor de textos da Internet são como “rápidos scanners” que procuram as informações da maneira mais rápida possível, tendo leituras superficiais. Porém, é possível que as próximas gerações de leitores se preocupem que os hipertextos possuam conteúdos mais profundos e tal coisa transformará, novamente, a linguagem da Internet.
É possível que a única certeza da Internet é que as mudanças não se darão de forma unilateral, seu formato não permite mais intervenções autoritárias. Ricardo Nunes deixa claro essa característica nessa passagem do mesmo artigo: “Estamos perante um processo comunicativo baseado no diálogo permanente através da escolha deliberada, da circularidade e também da reciprocidade constante” (NUNES, pág 5).
terça-feira, 1 de maio de 2007
Lendo e Construindo a Informação
Postado por Rafael Del Monaco Drummond Ferreira às 21:28
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