Entre os problemas ligados ao jornalismo na Web, o da credibilidade é sem dúvida um dos mais espinhosos. Quando se discute as possibilidades do jornalismo colaborativo, vem à mente a questão da autenticidade do material publicado. Nesse sentido, vale ler as afirmações do historiador francês Roger Chartier sobre o assunto. Reproduzo, a seguir, um pequeno trecho da entrevista de Chartier a Ângela Ravazzolo, do jornal Zero Hora (Suplemento Cultura), de Porto Alegre, publicada hoje, 19/maio/2007:
Cultura - Temos hoje um manancial de textos na Internet. Ao mesmo tempo que a rede pode ser entendida como um "território livre" e "democrático", qual a "garantia de veracidade" dessas fontes?
Chartier - A entrada no mundo da textualidade eletrônica mexeu com a história em todas as suas etapas: multiplicou o acesso a documentos (mesmo que não substitua a consulta aos originais), facilitou as análises, autorizou uma nova modalidade de argumentação, que dá aos leitores a chance de controles múltiplos. O leitor pode ler aquilo que leu o historiador e pode refazer tudo ou pelo menos parte do percurso de pesquisa. Houve uma verdadeira mutação epistemológica. Mas, como você assinala, a medalha tem um reverso. Com os textos eletrônicos, esfacelam-se os critérios imediatos que legavam autoridade científica a certos discursos históricos. No mundo do numérico, todos os textos são dotados de uma mesma forma e aparecem no monitor com o mesmo peso de verdade. As falsificações tomam ali mais facilmente a aparência de autenticidade, e a circulação de informações errôneas ou mentirosas não encontra obstáculos (como nos mostram os falsos verbetes da Wikipédia). Esse é um desafio que implica a necessidade de se introduzir na web indicadores sobre o estatuto de autoridade científica, os mesmos controles de que se valem as revistas e as editoras acadêmicas. Não há uma fatalidade nas invenções técnicas, mas - é preciso lembrar com Walter Benjamin - elas são o que as sociedades fazem delas.
Prof. Mauro
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