Guilherme Campos
Diego Castro
A disposição das matérias nos sites jornalísticos e o sistema de conexão aplicado aos seus conteúdos e seus possíveis desdobramentos permitem ao usuário estabelecer um processo autônomo de navegação e de interatividade pelos conteúdos hipertextuais. A opção manifestada pelo leitor revela suas motivações internas e influências circunstanciais ou ideológicas incidentes sobre ele.
Além dessa perspectiva cultural-antropológica, a estrutura e a conexão entre os links do hipertexto (documento digital composto por diferentes blocos de informações interconectadas) podem atordoar o leitor. No artigo O que é o hipertexto electrónico e de que forma altera a organização e a utilização dos textos?, Andréia Cordeiro minimiza o caráter prejudicial atribuído por especialistas ou usuários perdidos no emaranhado de opções. “Vejo esse tipo de dificuldade como algo facilmente resolúvel através de um bom sistema de janelas, que visíveis no ecrã, podem funcionar como um mapa orientador das nossas tarefas”.
Cordeiro insere o hipertexto eletrônico em um novo paradigma, distinto dos anteriores apenas pela tecnologia mais avançada de suas ferramentas. Os primeiros paradigmas atrelados ao hipertexto datam os séculos XVI e XVII. O primeiro suporte identificado por Maria Clara de Aquino é a versão impressa do livro. A conexão entre o texto regular e as observações dos leitores seria registrada nas notas de rodapé e nas margens das páginas.
Um dos itens do artigo de Aquino, Um Resgate Histórico do Hipertexto, estabelece a cronologia de precursores do hipertexto difundido no suporte eletrônico. O pioneiro, Vannevar Bush, esboçou o Memex, espécie de computador pessoal. Ted Nélson ganhou visibilidade com o Projeto Xanadu e a intenção de armazenar, conectar e oferecer de forma arbitrária todos os documentos da biblioteca de Alexandria.
Se o suporte dos primeiros modelos de hipertexto é o livro impresso, a estrutura de fundamentação pode também recorrer a mesma estrutura. Andréia Cordeiro levanta a possibilidade do mecanismo de memória humana constituir o fundamento preponderante na formação do sistema hipertextual. Tanto o hipertexto, como a mente do homem permitem a “fluência do conhecimento, como se tratasse de uma transmissão de um fio condutor sem destinatário ou destino fixo”. A ausência de elementos de interferência nas duas extremidades do fio condutor, o aproximam do rizoma, caule subterrâneo horizontal com ramificações oriundas de outras partes do corpo que não as extremidades.
A possibilidade de acessar o hipertexto a partir de qualquer um dos conteúdos disponíveis e a autonomia do leitor na escolha da continuidade de sua navegação, não necessariamente a pré-determinada pela disposição dos links, desfaz a autonomia do texto principal e a hierarquia de leitura. Quanto maior a liberdade de atuação e os mecanismos de feedback oferecidos ao usuário, maior o nível de interatividade proporcionada.
A adoção de um modelo de interatividade livre na internet, auxiliaria, segundo Primo, na diluição das barreiras existentes entre leitor e autor do hipertexto. Caracterizado pelo autor como mútuo, esse modelo permite ampliar a fusão entre o usuário e o programador, permitindo que ambos possam incluir e remover links, criando o seu próprio percurso de navegação. A aplicação dessas variáveis ao processo de produção jornalística na web, aproveita as peculiaridades desse meio, desde recursos interativos e multimídias, até a não dependência de suportes físicos de armazenagem e transporte dos conteúdos disponíveis.
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