Ao falar de hipertexto eletrônico, é preciso remeter às invenções de Vannevar Bush, criador do memex, em 1945 – instrumento de armazenamento de dados que funcionava por “trilhas associativas”, semelhantes ao pensamento humano – e que pode ser comparado, nos dias de hoje, aos nossos computadores pessoais. De acordo com Maria Clara Aquino, “as trilhas associativas seriam os elos, hoje os chamados links hipertextuais, que conectariam as informações umas às outras em meio à grande quantidade de dados armazenada”.
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Depois da invenção de Bush, surgiu o primeiro computador eletrônico, o ENIAC, Eletronic Numeric Integrator and Calculator, em 1946. Quase vinte anos mais tarde, em 1965, Theodor Holm Nelson concebeu o Projeto Xanadu, que se constituiria como uma biblioteca universal. Esta teria conexão entre os documentos armazenados, o que levou Ted Nelson a criar o termo hipertexto.
Tomando a definição de Ted Nelson do termo hipertexto, como um texto não seqüencial, que reúne e permite opções para o leitor e que é mais bem lido em uma tela interativa, é possível perceber sua natureza múltipla, sem começo nem fim. Os pesquisadores Deleuze e Guatari utilizaram o conceito botânico de rizoma para definir o hipertexto, já que o rizoma corresponde ao caule subterrâneo horizontal das plantas, do qual nascem brotos para fora da terra durante a sua evolução.
De acordo com Andréia Cordeiro, “esta forma não-linear, descentralizada, intertextual, rizomática e multivocal, confunde-se com uma anarquia labiríntica”. A pesquisadora Sandra Santos completa “o hipertexto está organizado numa rede de nós que podemos percorrer das mais variadas formas através de uma sucessão de hiperligações, que nos permitem movimentarmos-nos por toda essa rede”.
Nem tudo sempre foi como conhecemos hoje
É comum associarmos o conceito de hipertexto aos tempos modernos, principalmente devido à popularização da Internet. Porém, o que Maria Clara Aquino esclarece é que a idéia de hipertexto não é de hoje, mas “vem desde os séculos XVI e XVIII com as chamadas marginalia”, que correspondem aos índices, citações ou textos anotados nos cantos das páginas dos livros e depois transferidas para um caderno, para que pudessem ser consultadas. Aquino cita o exemplo de Leonardo da Vinci, que “realizava anotações nas margens das páginas de seus escritos”, fato que se comprovou quando alguns manuscritos do artista foram encontrados na Itália por um colecionador.
De Da Vinci a Wikipedia
O progresso que se observou ao longo dos tempos, permitiu que o hipertexto, como era considerado nas anotações de Da Vinci, começasse a ser aplicado na World Wide Web, que está se tornando o espaço de representação da coletividade.
Atualmente, ao se falar de hipertexto, é importante destacar a necessidade de interatividade, relação em que o comportamento de um ator comunicacional influencia o outro. Ela pode ser de vários níveis, variando entre mútua ou reativa, sendo a primeira plena e a segunda limitada.
Dependendo do tipo de interação, é possível a construção de um hipertexto coletivo. “Na interação do tipo mútua, o papel do usuário se funde com o papel do programador, já que ambos podem modificar e incluir links nos hipertextos”, explica Maria Clara Aquino. Porém o que acontece habitualmente é uma forma de interação reativa, em que o usuário fica limitado a navegar pelos links propostos pelo programador.
Construção Coletiva
O hipertexto, se executado da forma proposta por Ted Nelson, faz com que a autoria dos textos perca seu caráter único e o leitor passe a fazer parte do processo de construção, realizando a leitura da forma que lhe for conveniente. Autor e leitor fundem-se, sem poder ao certo determinar onde começa o papel de um e onde termina o papel do outro. É possível destacar dois exemplos de interação mútua, em que a ocorrência do hipertexto se dá da forma como foi proposta por seus idealizadores: os blogs e a Wikipedia.
Os blogs, apesar de terem um dono e serem escritos por uma só pessoa, têm no espaço de comentários uma importante ferramenta de interação com outros atores do processo comunicacional. A inserção de comentários e links permitem ao leitor se tornar colaborador do dôo do blog. De acordo com Aquino, “a escrita hipertextual torna-se coletiva através dos blogs em função da liberdade que os blogueiros possuem dentro de suas páginas e também nos comentários em outros blogs”.
A Wikipedia funciona como uma enciclopédia virtual e é a tradução do que Ted Nelson denominou por hipertexto, pois qualquer usuário pode editar o conteúdo das páginas, criando, alterando, incluindo ou excluindo textos e links, sem necessidade de autorização do programador. Isso faz “com que todos sejam autores e que o texto nunca tenha uma versão definitiva, mas que fique em constante modificação. Cada inclusão de link dentro de um verbete modifica toda a rede hipertextual da Wikipedia e dessa forma constrói-se um hipertexto que atende diretamente ao que foi proposto por Ted Nelson”, afirma Aquino.
Veja também:
Índice
As novidades de Ted Nelson
Hipertexto x Livros
Jornalismo Digital
A internet como ferramenta de memória
Jornalismo e Banco de Dados
Construção das Narrativas no jornalismo virtual
Referências Bibliográficas
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