quinta-feira, 31 de maio de 2007

Webjornalismo e hipertextualidade

Luís Henrique Ferraz

As notícias na Web possuem particularidades marcantes e únicas que atualmente só podem ser utilizadas pelos seus meios digitais e interativos. Essas características indicam que escrever de forma hipertextual requer uma maneira própria de planejamento, organização e elaboração de uma história.

Segundo Beatriz Ribasi em seu artigo, Características da notícia na Web, “as redes telemáticas proporcionaram ao jornalismo um desenvolvimento progressivo, influenciando nos processos produtivos de notícias, disseminação de informações, e alterando as relações dos meios de comunicação com seu público. Conceber um sistema de informação consistente para a Web e que aproveite as potencialidades da Rede, oferecendo ao público um produto webjornalístico de terceira geração, configura-se como um desafio”.

O jornalismo nesse novo contexto hipertextual torna-se fragmentado e utiliza links de imagens, sons, gráficos e vídeos para propiciar maior atração e diferentes leituras para os internautas. Dessa forma seus conteúdos são cada vez mais completos, interativos e multimídia. A novidade introduzida pela informática está justamente na possibilidade que ela abre de fundir num único meio e num único suporte todos os outros meios. Sendo assim, as modalidades discursivas na Internet apresentam desde textos escritos até vídeos e sons musicais.

Outras características do Webjornalismo são marcadas pelo imediatismo, pelo banco de dados e pela personalização presentes em suas páginas. Temos em tempo real as ultimas notícias do mundo de acordo com as nossas preferências e na mesma página podemos encontrar links com todo seu resgate histórico.

O webjornalismo aliado à hipertextualidade e a multimidialidade mudaram a realidade da transmissão de notícias e informações para os internautas. Porém alguns cuidados devem ser tomados na montagem de seus conteúdos. Segundo Ribasi, “a Web tem espaço ilimitado, mas os leitores têm atenção limitada. Atentar para as características específicas do meio e para suas potencialidades pode contribuir para a elaboração de estratégias de persuasão e construções criativas e interessante da narrativa, de modo a prender a atenção do usuário”.

segunda-feira, 28 de maio de 2007

A produção da notícia no webjornalismo

“Os repórteres agora saem para as apurações com apetrechos de áudio e imagem a divulgar no sítio do jornal americano. Aqui o hábito é pouco disseminado”.

Quem escreve é o ombudsman da Folha de S. Paulo, Mário Magalhães, em sua coluna de ontem, 27 de maio. Na semana anterior, ele participou da conferência anual da ONO (Organização dos Ombudsmans de Notícias), cujo tema central foi “Ombudmans em um tempo de transição”. Transição, é claro, de suporte, com o fim cada vez mais próximo das barreiras entre o impresso e o on-line.

Ainda que o futuro do webjornalismo dependa de uma “guinada publicitária para o novo meio”, como escreve Magallhães, o procedimento jornalístico descrito no início desta postagem não deixa dúvidas sobre o fim da separação entre os processos de captação da notícia para os diferentes veículos (jornal, revista, TV, rádio e webjornal).

Facilitada pela miniaturização dos equipamentos de captação de imagens e pela rapidez de transmissão gerada por uma sociedade em rede, a produção jornalística exige cada vez mais dos futuros profissionais versatilidade e domínio técnico nos diferentes formatos.

A combinação de características e recursos próprios do Rádio, da TV e do Impresso será o traço distintivo do jornalismo praticado na Web. A preparação dos futuros jornalistas e a adaptação dos profissionais que já atuam no mercado passa por esta nova realidade.

Prof. Mauro

Primeira mão - Greve!!!

Os professores em assembléia na sala 1 deleberaram por greve imediata por tempo indeterminado.

A votação contou com 50 professores, sendo 39 favoráveis à proposta de greve, 9 contra e 2 que se abstiveram.

Havera ainda uma nova assembléia com a Adnuesp Central na próxima quarta-feira, dia 30 de maio.

segunda-feira, 21 de maio de 2007

Cara Nova

Mal nasceu e nosso blog já precisa de uma cara nova.

Também fica aberto o convite àqueles que estiverem dispostos a auxiliar no desenvolvimento de um design próprio do blog e àqueles que quiserem ajudar na programação do "Jornalismo Digital".

domingo, 20 de maio de 2007

Considerações Finais

A possibilidade de armazenamento de informações em forma digital é determinante na preservação do conhecimento adquirido. Nesse âmbito, o hipertexto constitui peça fundamental nessa preservação, pois possibilita a interconexão de informações e até mesmo a produção de novos dados. Além disso, o hipertexto cria um novo modelo de escrita, onde autor e leitor se fundem, colaborando com a feitura e divulgação do texto.
Contudo, o caráter anárquico deste fato pode “prejudicar” o trabalho de pessoas que têm por profissão escrever. O jornalismo online pode sofrer com isso e perder, cada vez mais, sua credibilidade.

sábado, 19 de maio de 2007

As desvantagens do Hipertexto

No entanto, é preciso analisar o lado negativo das possibilidades do hipertexto. Sua livre construção, apesar de proporcionar maiores chances de conseguir informações, é mais fácil ao usuário se perder no imenso número de link disponível para seguir o caminho. Neste percurso, o usuário pode parar em sites de credibilidade questionável, outro contra do hipertexto. Isto pode se dar justamente devido à interatividade no hiperdocumento. À medida que o texto de um hiperdocumento possa ser modificado, qualquer tipo de informação, verídica ou não, pode ser disponibilizada. Um exemplo deste tipo de hipertexto, já classificado anteriormente como cooperativo, é a Wikipédia, onde cada um pode inscrever ou modificar a definição dos verbetes incluídos na enciclopédia.
Outro exemplo são os blogs, hipertextos do tipo colagem, o leitor pode interagir com o autor por meio de comentários deixados no fim de cada post. Apesar de não parecer ter grande influência, os comentários funcionam como um termômetro para medir a audiência de um blog ou de cada post, quanto mais comentário, mais lido ou visitado aquela página foi. Quanto mais elogios mais sucesso, quanto mais críticas, mais correções a ser feitas e, obviamente, é interessante ao autor levar as críticas a sério para manter o “ibope” de seu blog.
Para o jornalismo, é positiva e negativa a influência da interatividade na profissão. Para os meios de comunicação, receber o feedback de seus leitores em comentários ou correio eletrônico é uma grande vantagem proporcionada pelo meio virtual. Contudo, já se pensa em um novo tipo de jornalismo, o chamado “jornalismo cooperativo” que, praticado principalmente online, dará abertura para que qualquer pessoa “não-jornalista” e “não-empregada” pela empresa de comunicação participe da criação de matérias, relativizando o papel do jornalista profissional formado.

O texto na Web: falsificação e legitimidade

Entre os problemas ligados ao jornalismo na Web, o da credibilidade é sem dúvida um dos mais espinhosos. Quando se discute as possibilidades do jornalismo colaborativo, vem à mente a questão da autenticidade do material publicado. Nesse sentido, vale ler as afirmações do historiador francês Roger Chartier sobre o assunto. Reproduzo, a seguir, um pequeno trecho da entrevista de Chartier a Ângela Ravazzolo, do jornal Zero Hora (Suplemento Cultura), de Porto Alegre, publicada hoje, 19/maio/2007:

Cultura - Temos hoje um manancial de textos na Internet. Ao mesmo tempo que a rede pode ser entendida como um "território livre" e "democrático", qual a "garantia de veracidade" dessas fontes?
Chartier
- A entrada no mundo da textualidade eletrônica mexeu com a história em todas as suas etapas: multiplicou o acesso a documentos (mesmo que não substitua a consulta aos originais), facilitou as análises, autorizou uma nova modalidade de argumentação, que dá aos leitores a chance de controles múltiplos. O leitor pode ler aquilo que leu o historiador e pode refazer tudo ou pelo menos parte do percurso de pesquisa. Houve uma verdadeira mutação epistemológica. Mas, como você assinala, a medalha tem um reverso. Com os textos eletrônicos, esfacelam-se os critérios imediatos que legavam autoridade científica a certos discursos históricos. No mundo do numérico, todos os textos são dotados de uma mesma forma e aparecem no monitor com o mesmo peso de verdade. As falsificações tomam ali mais facilmente a aparência de autenticidade, e a circulação de informações errôneas ou mentirosas não encontra obstáculos (como nos mostram os falsos verbetes da Wikipédia). Esse é um desafio que implica a necessidade de se introduzir na web indicadores sobre o estatuto de autoridade científica, os mesmos controles de que se valem as revistas e as editoras acadêmicas. Não há uma fatalidade nas invenções técnicas, mas - é preciso lembrar com Walter Benjamin - elas são o que as sociedades fazem delas.

A prática do jornalismo na era da textualidade eletrônica encontra-se diante deste desafio: como conquistar a credibilidade por parte do leitor/usuário?

Prof. Mauro

sexta-feira, 18 de maio de 2007

O Hipertexto e seus benefícios

Atualmente, o usuário de internet navega na rede, lê o material disponível e raramente se dá conta deste processo ou do que está por trás dele. Toda a descrição feita inicialmente do que é e como funciona um hipertexto é pouco questionada por quem o acessa em suas diferentes formas. A velocidade da busca pela informação da “sociedade da informação” denominada por Castells faz com que as pessoas partam em busca do acesso mais rápido, mais prático e mais completo à informação.
Neste processo, viaja-se página a página, avança-se leitura a leitura num mundo infinito de hipertextos sempre conectados entre si que proporcionam aos leitores múltiplos meios de construir sua leitura e sua busca de dados. A cada acesso cria-se um caminho diferente e, dificilmente, dois usuários, mesmo iniciando sua navegação pela mesma Home traçarão caminhos iguais. A grande oferta de sites e seus inúmeros nós abrem as portas para uma exploração infindável do mundo virtual.
A construção da estrutura do hipertexto é feita como a do pensar humano. Pensamentos são interligados de forma aleatória numa ligação de significados que, muitas vezes não têm associação, e que, conectados, passam a fazer sentido. Os nós levam de uma página para a outra como um pensamento remete a outro num devaneio.
A contribuição do hipertexto para o cotidiano é inúmera e o desenvolvimento desta forma de escrita está mudando os paradigmas do modelo impresso. O hipertexto rompe o limite material do livro impresso que têm previstos, desde sua feitura, um começo, um meio e um fim. A narrativa termina quando termina as páginas do livro. Já no labirinto intertextual do hipertexto, este final não é delimitado. Este novo mundo virtual criado se difere ainda das páginas impressas no que diz respeito à interatividade. A interatividade fará com que se rompa a leitura linear dos textos já que, graças a este novo modelo, são quebradas as antigas concepções de leitor e autor. A exclusividade da autoria fica mais limitada e a polifonia, a multivocalidade entra em cena como a nova prática da escritura de um texto.

Novos colaboradores

O espaço de postagem do blog estará aberto a todos os alunos das disciplinas de Jornalismo Digital e, eventualmente, para demais colaboradores e professores da Unesp.

Estejam covidados a participar desse nosso novo canal de interatividade. Mandem e-mail para o endereço oficial do blog jornalismodigitalunesp@gmail.com para que possam ser habilitados como colaboradores.

Alguns princípios

Caro Diego e colaboradores,

É com satisfação que dou as boas-vindas a este blog e aos colaboradores já cadastrados. Concordo plenamente com você quando escreve na “Apresentação” que a premissa maior desse espaço “é a de que a prática do Jornalismo Digital deve ser um dos componentes do processo de aprendizagem dos futuros jornalistas”. Por isso tenho sido um defensor ardoroso da ligação entre produto laboratorial e disciplina profissionalizante.

Não é outra coisa o que persigo em minhas aulas: ensinar jornalismo aliando teoria e prática, combinando textos de fundamentação com o fazer profissional.

Além do que já foi explicitado na “Apresentação”, este blog chega para ser: a) um espaço de reflexão sobre assuntos, problemas e conceitos abordados durante as aulas da disciplina “Jornalismo Digital”, do curso de Jornalismo da FAAC – Unesp, em Bauru/SP; b) um fórum, aberto a todos os interessados, cuja finalidade é compartilhar descobertas, tendências e problemas do jornalismo produzido em suporte digital, sempre com um espírito crítico e, sobretudo, dentro do conceito de jornalismo colaborativo (também este passível de crítica).

Por fim, gostaria de convidar para este blog todos aqueles que se interessam pelos rumos de nossa profissão.

Prof. Mauro

quinta-feira, 17 de maio de 2007

O Hipertexto e a Interatividade

No âmbito virtual, principalmente no caso do uso da Internet, um tema bastante discutido e pesquisado é o da interatividade. Primo classifica a interatividade em dois tipos: mútua (provida de negociações relacionais durante seu processo) e reativa (dependente da previsibilidade e da automatização das trocas). Tomando o hipertexto como objeto de estudo, a interatividade mútua do mesmo se daria se o papel do usuário se juntasse ao papel do programador, tendo ambos a mesma liberdade de incluir links ou complementar as informações existentes no hipertexto. O que ainda se vê na Web é, na maioria das vezes, a interatividade reativa do hipertexto, pois o usuário não tem a opção de incluir novos links. Dessa forma, a escolha do usuário passa a ser limitada. Partindo desses princípios interativos, Primo classificou o hipertexto em três diferentes formatos: hipertexto potencial, hipertexto colagem e hipertexto cooperativo.
O hipertexto potencial trata-se do exemplo clássico da interatividade reativa. Nesse caso, os caminhos já estão pré-determinados pelo programador do hipertexto, ou seja, o usuário não tem oportunidade de “interferir” na inclusão de novas associações. Já o hipertexto colagem permite ao usuário “criar”, estabelecendo-se assim uma atuação mais ativa dele. Porém, não há debate entre programador/usuário acerca de tal criação. Por fim, o hipertexto cooperativo seria aquele referente à interatividade mútua, estabelecendo-se o debate entre usuário e programador, tendo a discussão como responsável pelas mudanças de associações e conexões de uma determinada página. Um exemplo de hipertexto cooperativo é a Wikipedia. Criada em 1995 por Ward Cunnigham, a enciclopédia online permite que o usuário adicione, altere ou edite o conteúdo das páginas existentes na mesma. Tais alterações não necessitam de autorização prévia do autor da página, o que faz com que o texto permaneça em constante modificação.

Apresentação

O presente blog é uma experiência dos alunos da disciplina Jornalismo Digital II, ministrada pelo Prof. Dr. Mauro de Souza Ventura na graduação em Jornalismo na Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação (Faac), na Universidade Estadual Paulista(Unesp), campus de Bauru.

O objetivo principal deste blog é abrir mais um canal de discussão e publicação de conteúdo voltado para o webjornalismo. A premissa maior que rege este espaço é a de que a prática do Jornalismo Digital deve ser um dos componentes do processo de aprendizagem dos futuros jornalistas.

A formação dos webjornalistas passa, sobretudo, pelo desafio de encontrar paradigmas que propiciem uma maior interatividade com o público, que não mais se comporta apenas como platéia. A escolha da criação deste blog se justifica pela possibilidade de que se possa gerir um media onde todos os usuários sejam também produtores de conteúdo. O blog jornalismo Digital é também uma alternativa complementar ao webjornal
Mundo Digital
, que está passando por uma reformulação estrutural.

Que seja este também um meio onde possa se desenvolver o Jornalismo Digital.

quinta-feira, 10 de maio de 2007

Internet: a construção de uma memória

Aline Alvarenga
Lígia Rocca

Todas as possibilidades oferecidas pela rede mundial de computadores são gigantescas; assim como o cérebro humano, as conexões são infinitas. João Messias Canavilhas compara a Internet à memória do homem, em que podem ser encontrados muitos fatos passados, porém, precisam ser disponibilizados no espaço virtual.

Inúmeras bibliotecas e museus online, juntamente com os meios de comunicação de massa que disponibilizam na rede as informações do dia, constituem o grande arquivo de memória a que os internautas podem acessar. Porém, a possibilidade de que esses arquivos possam ser acessados imediatamente e em qualquer parte do mundo, diferencia a Internet dos outros meios de comunicação de massa.

Acontecimentos do século passado podem ser acessados num piscar de olhos, por exemplo. Em um site de buscas, pode-se digitar algumas palavras-chaves e milhares de arquivos relacionados serão localizados nos inúmeros banco de dados disponíveis; as referências encontradas, levam o leitor ao momento do acontecimento: o passado torna-se presente na medida em que se encontram os arquivos disponíveis na memória da Web, levando o internauta ao momento do acontecimento. Canavilhas explica que “a Web, mais do que nenhum outro meio, comprime o tempo. Não o tempo que mede o espaço entre a emissão e a recepção da mensagem, tal como acontece em qualquer media, mas o tempo memória, o espaço existente entre o momento do acontecimento e o momento da pesquisa”.

As notícias que são colocadas na rede diariamente pelos meios de comunicação de massa, alimentam a memória da Web. Com as ferramentas de busca, a notícia perde sua efemeridade e torna-se história. Se o jornal de hoje vai para o lixo amanhã, na Internet essas notícias vão para um banco de dados e estarão disponíveis para consultas posteriores.

As particularidades do formato online

Aline Alvarenga
Lígia Rocca

O interessante do formato online é a característica de aprendizagem autoditada por parte dos leitores. Ao contrário de um ensino tradicional, dentro de uma sala de aula, em que os alunos apreendem informações com o auxílio de um professor, a Internet “impôs-se enquanto modelo, forçando a uma pedagogia autoditada”, como bem afirma Ricardo Nunes. A existência dessa particularidade torna necessário que o escritor de textos para a web conheça os hábitos de leitura online a fim de aperfeiçoar a produção informativa.

Beatriz Ribas afirma que o jornalismo vem seguindo tendências, discussões e adaptações, moldando-se ao ciberespaço. É nesse ponto que a fragmentação do discurso, a interatividade, a informação personalizada e a acumulação de dados (memória) surgem como características marcantes da narrativa na Web.

A forma de leitura dos textos online, que chega a ser 25% mais trabalhosa e requer textos mais curtos e uma linguagem mais simplificada, diferencia-se da leitura de textos impressos. Na Web, o usuário tende a focar a atenção no centro da janela. Ricardo Nunes acredita que “os leitores assumem o papel de scanners que procuram informação”. A leitura não ocorre mais de forma linear: grande parte dos leitores seleciona os tópicos de maior interesse, ou seja, lê de modo superficial para, a partir de uma escolha do que julga mais relevante, fazer uma leitura em profundidade. É um processo essencialmente interativo, apresentado pelo autor em associação ao princípio de hiperlink.

Essa característica de escolha deliberada pelos leitores da Web, faz com que os mesmos sejam tratados como construtores da narrativa. Há uma interatividade permanente entre o cibernauta e o media, uma vez que a cada leitura obedece a um percurso particular. Beatriz Ribas usa o termo “multilinear” para denominar esse processo de acesso hipertextual às informações. O usuário passa a estabelecer uma leitura específica, provisória e provavelmente única. A produção da notícia não é mais um papel atribuído apenas ao jornalista. Nunes defende que “navegar passa a significar, construir uma narrativa. No caso concreto, uma narrativa não linear que permite novos horizontes à informação digital”. O leitor passa então a se sentir parte do processo jornalístico.

Beatriz Ribas atenta para os três momentos pelos quais passou a trajetória de produtos jornalísticos desenvolvidos para a Internet. O primeiro estágio do webjornalismo é marcado por um modelo linear, no qual o conteúdo dos jornais impresso é copiado para a Web. A internet serve apenas como um novo veículo para publicar as mesmas informações e os links são utilizados apenas para a passagem de uma editoria à outra.

Em um segundo estágio, denominado hipertextual básico, o link já passa a organizar as informações dentro da publicação online. Contudo, ainda há uma mera transposição de notícias. A interatividade é oferecida com a disponibilização de enquetes ou chats que possibilitam ao usuário comentar notícias e ter acesso ao comentário de outros leitores.

O terceiro estágio do webjornalismo compreende a utilização de um banco de dados, tanto na produção quanto na organização da notícia. Para Ribas, a utilização de um banco de dados para a gestão das informações, armazenamento e recuperação instantânea de dados transforma-o em uma das principais formas culturais de nossos tempos. É essa interatividade, uma nova relação entre os meios de comunicação com o público, que marcará os tempos da era digital. rma-o em uma das principais formas culturais de nossos tempos. É essa interatividade, uma nova relação entre os meios de comunicação com o público, que marcará os tempos da era digital.

quarta-feira, 9 de maio de 2007

Hipertexto e Web 2.0

Luís Henrique Ferraz
O Hipertexto é responsável pela construção de novos caminhos e de recursos inovadores que visam tornar a informação mais interativa o possível. A principal característica dessa linguagem digital é utilização dos computadores, que aliados a Internet e suas ferramentas multimídias tornam os conteúdos mais modernos e democráticos.

Nos hiperdocumentos presentes em toda Web o que presenciamos é a formação de uma rede que não apresenta começo nem fim. Nesse percurso os caminhos são infinitos e encontramos informações através de links que aliam texto, imagens e vídeos em um mesmo ambiente.

No seu inicio a Web apresentou os mesmos problemas de outros meios de informação, pois através dos hipertextos potencial ou colagem, os leitores escolhiam apenas seus próprios caminhos, não podendo ainda interagir e contribuir na produção da informação.

A Internet nasce como uma nova possibilidade de agregar conhecimentos e construir uma inteligência coletiva. Segundo Maria Clara Aquino em seu artigo, Um resgate histórico do hipertexto, “através da Internet, cria-se o que Levy (1993) chama de hipercórtex, uma espécie de imaginário coletivo. As pessoas, através da Rede, estariam unindo-se para construir, em conjunto, o que antes não conseguiam construir separadamente. Dessa forma, através da Internet, elas podem ter acesso a uma maior quantidade de informações e de aprendizado”.

Com a criação da Web 2.0 a possibilidade de uma escrita efetivamente coletiva via hipertexto acontece. O mundo das informações começam a passar por transformações onde não existem mais autores, mas sim co-autores e co-produtores. Para Maria Aquino, “a possibilidade da escrita hipertextual de forma coletiva depende e muito da possibilidade de um hipertexto cooperativo, cuja prática depende da realização de uma situação de comunicação que efetivamente possibilite interação, ou seja, uma atuação recíproca e mútua de seus atores”.

Esse princípio de construção coletiva nos remte a três elementos básicos. Segundo a autora Maria Aquino, “quanto mais pessoas utilizarem o hipertexto, podendo modificar seu conteúdo e incluir novos links, mais ricas de informação serão as páginas; A construção coletiva do hipertexto coloca os internautas como co-desenvolvedores, praticamente anulando a escrita individual nesse contexto; O aumento do uso aliado à co-participação no desenvolvimento do hipertexto propicia a formação de uma inteligência coletiva”.

Um novo universo foi criado: o ciberespaço. Um espaço onde programadores e usuários podem interagir completamente entre si, trocando informações e construindo novos caminhos pelas infinitas redes de dados presentes na Internet.

terça-feira, 8 de maio de 2007

A postura do jornalista no ciberespaço

Andressa Silva
Cláudia Campos
Maíra Soares

A internet facilitou o acesso à informação ao romper as barreiras do espaço e do tempo. Seu caráter hipertextual compatibiliza velocidade da informação com espaço disponível e riqueza de informações oferecidas. Os jornalistas que publicam notícias na Web podem gerar diferentes roteiros de leitura para dar ao leitor opções.

O webjornalismo, segundo João Canavilhas, no texto A Internet como Memória, alimenta a memória digital graças ao arquivo das notícias que diariamente são colocadas on-line. Para ele, dessa forma, a internet surge como uma “extensão da memória, ela expande nossos sentidos e nossa capacidade para comunicar em larga escala com rapidez, eficiência e flexibilidade”.

Esse cenário exige um novo tipo de profissional que – para Carlos Castilho, no artigo Internet gera um novo leitor e novos desafios para o público – deve “aceitar o protagonismo dos leitores, abandonando o unilateralismo informativo”. O jornalista também precisa, além da habilidade de escrever e fazer edição, ser capaz de se relacionar com seus leitores, de efetivar a interatividade.

Por causa dessas mudanças, em outro artigo, intitulado O ensino do jornalismo na contramão da evolução da comunicação, Castilho sugere uma reforma no ensino do ciberjornalismo das faculdades, em que os alunos estão muito preocupados com as ferramentas e despreocupados em conhecer as linguagens e em refletir sobre as questões éticas deste novo ambiente de trabalho.

De acordo com ele, o erro está na preocupação das faculdades de jornalismo em treinar os alunos para o uso das novas tecnologias, em vez de propor um ensino que leve em conta que elas estão mudando radicalmente as rotinas e as normas da atividade jornalística. Além disso, ele explica que há o problema de a “atualização dos currículos ficar emperrada porque o ritmo das mudanças é muito mais rápido que os processos burocráticos da academia”.

Percurso narrativo da Web

Andressa Silva
Cláudia Campos
Maíra Soares

Ler na Web é 25% mais difícil, principalmente pela resolução do ecrã. Por isso, o estudioso do assunto, Jacob Nielsen, defende uma redução dos textos para metade, simplicidade na linguagem e uso da pirâmide invertida para organizar as informações. Ele acredita que os leitores são como scanners; querem obter informação útil tão rápido quanto possível.

Ricardo Nunes, em seu artigo Informação multimédia: quando os leitores são construtores das narrativas, explica que “o processo on-line não previu uma aprendizagem formal por parte dos leitores. O novo formato impôs-se enquanto modelo, forçando uma pedagogia autodidacta”.

O processo de comunicação na Web é baseado no diálogo, na escolha deliberada, na circularidade e na reciprocidade constante. Como conseqüência há uma mudança profunda nos papéis de emissor e receptor. Os leitores – por meio da janela de entrada, da escolha dos assuntos a serem lidos e dos hiperlinks a serem seguidos – deixam de ser passivos e passam a construir narrativas.

Percebe-se, então, uma liberação da presença do autor do texto. A escrita produzida não é obrigatoriamente a garantia que o consumidor vá lê-la de modo linear. Embora a informação seja a mesma, o modo de consultá-la é diferente para cada um. Dessa forma, um produto cuja matriz é hipertextual terá tantas narrativas quanto os percursos feitos pelos usuários.

Livro x Computador: mudanças no registro do conhecimento

Andressa Silva
Cláudia Campos
Maíra Soares

Em seu artigo O livro e o computador: viagens por labirintos de palavras, Sandra A. P. Santos diz que “o computador (...) tem vindo a mudar a forma como percepcionamos a cultura e o acesso ao conhecimento, a forma como entendemos a leitura e a escrita, e muitos outros processos que todos tomávamos como certos e mesmo permanentes”.

Durante séculos, o livro foi identificado como a única forma de registrar o saber e transmitir o conhecimento. Porém, com o surgimento do computador e da internet essa hegemonia foi abalada. Para entender melhor a questão, faz-se necessária a identificação das características básicas de cada um desses meios de registro.

O livro identifica-se por sua materialidade. Trata-se de um objeto de forma física definida e facilmente reconhecível. Ele é a materialização do texto, já que esse não tem existência espacial, podendo-se dizer que há uma equivalência entre os dois. No livro, as informações são oferecidas hierarquicamente, imprimindo um caráter rígido, linear e imutável à publicação.

Já o texto eletrônico, lido no ecrã, não coincide com o espaço que ocupa nem com os limites espaciais impostos pelo computador. Há uma inovação no processo de leitura, que deixa de ser linear já que não há uma forma fixa do texto. Embora o autor proponha um percurso de leitura por meio da determinação dos hiperlinks, é o leitor que constrói a narrativa ao fazer suas escolhas. Há ainda uma quantidade imensa de informação multimídia disponível e as pessoas não conseguem acessar tudo ao mesmo tempo, por isso não é possível determinar os limites do hipertexto.

Apesar de sua crescente afirmação como meio de informação da sociedade, pelo menos por enquanto, o computador não substituirá o livro. Santos acredita que os dois viverão em complementaridade. Além disso, há a respeitabilidade construída ao longo dos séculos em torno do livro e o envolvimento sensorial do leitor com o mesmo, já que pode pegá-lo e sentir seu cheiro.

Ambiente digital: novas possibilidades de escrita

Andressa Silva
Cláudia Campos
Maíra Soares

O advento da internet trouxe uma proposta de texto com características que vão além do impresso na questão da interatividade. O hipertexto, como é chamado, consiste em inúmeros blocos multimídias interligados de maneira não-seqüencial.

Esta é a principal diferença entre o hipertexto e o texto impresso: a não-linearidade. Composto por inúmeros links, ele é construído de maneira descentralizada, o que torna possível iniciar a leitura de qualquer ponto, sem necessariamente seguir o que foi proposto pelo autor.

A possibilidade de intervenção na obra traz à cena a autoria múltipla. O leitor torna-se também autor na medida em que pode mudar a ordem de leitura, acrescentar comentários, notas e complementações ao texto. Segundo Andréia Cordeiro, em seu artigo O que é o hipertexto eletrônico e de que forma altera a organização e a utilização dos textos? “com a escrita eletrônica, a definição entre leitor e autor anula-se”, o que torna o leitor o objetivo principal do hipertexto e da informação.

Diferentemente do meio impresso, o hipertexto não apresenta limites físicos, o que torna desnecessária a paginação e traz a possibilidade de trabalhar com diversas mídias como som, imagens, fotos, animações, vídeos, etc. Além do enriquecimento da leitura, o suporte torna possível a existência de novos gêneros literários, que consigam utilizar todo o seu potencial midiático.

História do Hipertexto

Andressa Silva
Cláudia Campos
Maíra Soares

Sendo hoje o hipertexto uma rede de informações não-lineares acessada pela internet, o comum é imaginar seu advento na era digital. Porém, a idéia de hipertexto remete a um passado muito mais remoto relacionado não a computadores, mas à escrita. Com o passar do tempo ele se adaptou às novas realidades digitais até tomar as características atuais.

Segundo Maria Clara Aquino em seu artigo Um resgate histórico do hipertexto, a idéia de hipertexto como infinitos blocos interligados tem início nos séculos XVI e XVII, quando era comum a marginalia. Trata-se de anotações, citações e comentários feitos nas margens dos livros por leitores, que eram transcritos para um caderno onde podiam ser consultados.

Walter Benjamin foi um dos precursores do hipertexto. Ele propôs o fichário de anotações como uma eficiente forma de interligar arquivos. Outro exemplo é o Memex de Vannevar Bush, citado por Aquino em seu artigo. Em 1945, ele desenvolveu uma espécie de maquinário que permitia acessar textos por meio de seleções aleatórias. Anotações, imagens e memorandos podiam ser acrescentados com microgravações. O aparelho faz analogia ao pensamento humano, que Bush acreditava funcionar por associações.

Assim como Bush, Pierre Lèvy, também citado por Aquino, aproxima o hipertexto da mente humana ao classificá-lo como uma metáfora da comunicação. Para ele, qualquer texto é um hipertexto, pois há conexão entre palavras e frases que adquirem significados quando ligadas umas às outras.

Apesar do conceito ser antigo, o termo hipertexto foi criado apenas na década de 60, por Ted Nelson. Ele o definiu como “escritas associadas não-seqüenciais”, algo muito próximo da definição de hoje, em que as associações são os links que interligam os diversos blocos de leitura.

domingo, 6 de maio de 2007

O hipertexto

Ao falar de hipertexto eletrônico, é preciso remeter às invenções de Vannevar Bush, criador do memex, em 1945 – instrumento de armazenamento de dados que funcionava por “trilhas associativas”, semelhantes ao pensamento humano – e que pode ser comparado, nos dias de hoje, aos nossos computadores pessoais. De acordo com Maria Clara Aquino, “as trilhas associativas seriam os elos, hoje os chamados links hipertextuais, que conectariam as informações umas às outras em meio à grande quantidade de dados armazenada”.

http://www.eca.usp.br/alunos/posgrad/denise/imagens/memex.jpg

Depois da invenção de Bush, surgiu o primeiro computador eletrônico, o ENIAC, Eletronic Numeric Integrator and Calculator, em 1946. Quase vinte anos mais tarde, em 1965, Theodor Holm Nelson concebeu o Projeto Xanadu, que se constituiria como uma biblioteca universal. Esta teria conexão entre os documentos armazenados, o que levou Ted Nelson a criar o termo hipertexto.

Tomando a definição de Ted Nelson do termo hipertexto, como um texto não seqüencial, que reúne e permite opções para o leitor e que é mais bem lido em uma tela interativa, é possível perceber sua natureza múltipla, sem começo nem fim. Os pesquisadores Deleuze e Guatari utilizaram o conceito botânico de rizoma para definir o hipertexto, já que o rizoma corresponde ao caule subterrâneo horizontal das plantas, do qual nascem brotos para fora da terra durante a sua evolução.

De acordo com Andréia Cordeiro, “esta forma não-linear, descentralizada, intertextual, rizomática e multivocal, confunde-se com uma anarquia labiríntica”. A pesquisadora Sandra Santos completa “o hipertexto está organizado numa rede de nós que podemos percorrer das mais variadas formas através de uma sucessão de hiperligações, que nos permitem movimentarmos-nos por toda essa rede”.


Nem tudo sempre foi como conhecemos hoje

É comum associarmos o conceito de hipertexto aos tempos modernos, principalmente devido à popularização da Internet. Porém, o que Maria Clara Aquino esclarece é que a idéia de hipertexto não é de hoje, mas “vem desde os séculos XVI e XVIII com as chamadas marginalia”, que correspondem aos índices, citações ou textos anotados nos cantos das páginas dos livros e depois transferidas para um caderno, para que pudessem ser consultadas. Aquino cita o exemplo de Leonardo da Vinci, que “realizava anotações nas margens das páginas de seus escritos”, fato que se comprovou quando alguns manuscritos do artista foram encontrados na Itália por um colecionador.


De Da Vinci a Wikipedia

O progresso que se observou ao longo dos tempos, permitiu que o hipertexto, como era considerado nas anotações de Da Vinci, começasse a ser aplicado na World Wide Web, que está se tornando o espaço de representação da coletividade.

Atualmente, ao se falar de hipertexto, é importante destacar a necessidade de interatividade, relação em que o comportamento de um ator comunicacional influencia o outro. Ela pode ser de vários níveis, variando entre mútua ou reativa, sendo a primeira plena e a segunda limitada.
Dependendo do tipo de interação, é possível a construção de um hipertexto coletivo. “Na interação do tipo mútua, o papel do usuário se funde com o papel do programador, já que ambos podem modificar e incluir links nos hipertextos”, explica Maria Clara Aquino. Porém o que acontece habitualmente é uma forma de interação reativa, em que o usuário fica limitado a navegar pelos links propostos pelo programador.

Construção Coletiva

O hipertexto, se executado da forma proposta por Ted Nelson, faz com que a autoria dos textos perca seu caráter único e o leitor passe a fazer parte do processo de construção, realizando a leitura da forma que lhe for conveniente. Autor e leitor fundem-se, sem poder ao certo determinar onde começa o papel de um e onde termina o papel do outro. É possível destacar dois exemplos de interação mútua, em que a ocorrência do hipertexto se dá da forma como foi proposta por seus idealizadores: os blogs e a Wikipedia.

Os blogs, apesar de terem um dono e serem escritos por uma só pessoa, têm no espaço de comentários uma importante ferramenta de interação com outros atores do processo comunicacional. A inserção de comentários e links permitem ao leitor se tornar colaborador do dôo do blog. De acordo com Aquino, “a escrita hipertextual torna-se coletiva através dos blogs em função da liberdade que os blogueiros possuem dentro de suas páginas e também nos comentários em outros blogs”.

A Wikipedia funciona como uma enciclopédia virtual e é a tradução do que Ted Nelson denominou por hipertexto, pois qualquer usuário pode editar o conteúdo das páginas, criando, alterando, incluindo ou excluindo textos e links, sem necessidade de autorização do programador. Isso faz “com que todos sejam autores e que o texto nunca tenha uma versão definitiva, mas que fique em constante modificação. Cada inclusão de link dentro de um verbete modifica toda a rede hipertextual da Wikipedia e dessa forma constrói-se um hipertexto que atende diretamente ao que foi proposto por Ted Nelson”, afirma Aquino.


Veja também:
Índice
As novidades de Ted Nelson
Hipertexto x Livros
Jornalismo Digital
A internet como ferramenta de memória
Jornalismo e Banco de Dados

Construção das Narrativas no jornalismo virtual
Referências Bibliográficas

Hipertexto X Livros

A crescente utilização de computadores e da Internet suscita questionamentos, como por exemplo, a possibilidade de as ferramentas disponíveis no computador tomarem o espaço que atualmente é dedicado aos livros impressos. Ou ainda mais, a possibilidades de as ferramentas proporem uma nova forma de se fazer a escrita, como os hipertextos.

Já existem diversos sites que disponibilizam ao leitor obras completas, que antes só encontrávamos em livrarias. Um exemplo é o site Universia, que oferece o download de dezenas de obras literárias. Dessa forma, o livro perde seu suporte físico, materializado em páginas e capa, mas continua sendo uma obra com princípio, meio e fim, preservando o caráter linear e hierárquico de como foi escrito.

De acordo com Sandra Santos, o “processo de leitura que nos é permitido fazer de um texto impresso exige de nós uma atitude algo passiva. O autor determina o nosso percurso de leitura, impõe-nos caminhos fixos sob pena de, ao mínimo desvio, a nossa leitura deixar de fazer sentido”. Contudo, a pesquisadora enfatiza a autoridade cultural do livro, a qual caracteriza como “praticamente insubstituível”.

Porém, a possibilidade de o computador representar eletronicamente os impressos constitui um dos passos para alterar o papel do leitor. O texto, no computador, não se apresenta de forma linear e hierárquica como no impresso. Segundo Santos, “a nossa capacidade de interpretação é fortemente posta à prova, muito mais do que quando lemos um texto impresso. Enquanto que no código impresso podemos limitar-nos a ler, no hipertexto é-nos sempre exigido o ato interpretativo e de reconstrução do texto. Desta forma, o texto eletrônico exige também a reconceitualização do papel de leitor tradicionalmente entendido como ‘aquele que lê’”.

Andréia Cordeiro exemplifica dizendo que “o leitor torna-se ainda um potencial editor, pois pode ler, introduzir notas e posteriormente republicar um documento em formato hipertextual”. A questão não é fazer do leitor apenas um consumidor, mas também um produtor.

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O sociólogo americano Theodor Holm Nelson revelou em entrevista concedida para a Revista Época (edição n° 461, de 19 de março) acreditar que “a web é coisa do passado”, pois considera o meio quadrado e óbvio demais. Ted Nelson, como é conhecido, ficou famoso por ter criado os termos “hipertexto” e “hipermídia” em 1965, muito antes de surgir e se popularizar a World Wide Web. Ele também foi responsável por criar o primeiro software com links da história, o Xanadu.

Nelson anunciou que está desenvolvendo um sistema totalmente inovador para navegar na internet e nos escritórios. Ele explicou que será uma interface “visualmente deslumbrante, totalmente em três dimensões. Em vez de páginas, haverá avenidas de informações nas quais o usuário poderá flutuar entre os conteúdos e ver todas as conexões entre os documentos”. De acordo com o sociólogo, este sistema que ele irá propor que corresponde ao verdadeiro hipertexto que ele imaginou ao criar o termo na década de 60, não aquilo que é utilizado atualmente na Web.

“Os links da web são unidirecionais. Levam a só um lugar – todos do mesmo jeito. Isso é muito tolo. Os links não são o que eu queria. Parecem coisa velha, ultrapassada, simples demais”, comentou.

A Internet como ferramenta de memória


Hoje, pode-se encontrar disponíveis na Web diversos arquivos históricos e culturais. São museus e bibliotecas que disponibilizaram na rede seus acervos. Segundo João Messias Canavilhas, a grande diferença da Web para os mass media é principalmente o fato de o arquivo ser global e imediato, “reduzindo o espaço e o tempo a um dado momento”. Entretanto, existem alguns aspectos que dificultam o estabelecimento da Internet como memória: longevidade do suporte, acesso, ferramentas de pesquisa pra informação não-textual e usabilidade.

A memória humana e a memória da Web têm pontos em comum, como a catalogação (na Web ela se dá por palavras-chave, no humano pelos sentidos). Além disso, em ambas existe a possibilidade de recuperação da informação.

Quanto às diferenças, pode-se citar a representação espacial da temporalidade (na Web, passado e presente ocupam mesmo espaço) e a relação de importância e duração de acontecimentos (o cérebro humano abriga momento, a Web um fenômeno contínuo).

Assim, a memória na Internet mostra-se social, dinâmica, organizada e navegável, rompendo as barreiras do tempo e espaço. A Web surge assim como extensão da memória humana – e isso se dá principalmente por meio do jornalismo digital.


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O jornalismo digital

Desde quando o The New York Times transpôs seu conteúdo para a Web, o jornalismo digital vem sofrendo mudanças e adaptando-se ao ciberespaço. Com a afirmação da Web como um meio de comunicação em potencial, o ambiente digital fornece subsídios para a criação de modelos narrativos para o webjornalismo. Esse jornalismo digital é praticado por jornalistas que pensam em formato multimídia (novas tecnologias), imaginando narrativas não-lineares e propondo interatividade com o público.

O jornalismo online exige novas pedagogias, porque na Internet o espaço virtual é ilimitado. Além disso, exige parâmetros de leitura diferentes da realidade – é mais cansativo ler no ecrã do que no papel. Assim, o jornalismo digital propõe textos mais curtos, de linguagem mais simples e que utilizem em suas notícias a pirâmide invertida. É como se o leitor fosse um “scanner” que procura informação de maneira rápida, correndo os olhos pelo texto como se o copiasse mentalmente. Entretanto, apesar de superficial, a leitura é ampla, uma vez que o leitor seleciona os tópicos de interesse para aprofundar-se. Assim, ele é um construtor de narrativas. Ele é ativo e elimina o unilateralismo do processo jornalístico.


A notícia na Web - principais características

A notícia na Web possui as seguintes características: hipertextualidade, interatividade, multimidialidade, personalização, memória e atualização contínua. No que tange à hipertextualidade, a notícia mostra um discurso fragmentado, que permite o acesso a diferentes partes da informação de modo dinâmico, formando um mosaico e permitindo diferentes ângulos do mesmo tema.

O usuário pode também se relacionar com a informação, que não é mais “fixa”. O leitor navega do seu jeito, escolhendo o caminho pelos seus interesses – é a personalização da notícia. A interatividade é gerada a partir do hiperlink e faz o leitor sentir-se parte do processo jornalístico.

A multimidialidade mostra que as notícias contam com diversos recursos: áudio, vídeo, imagens, animação, simulação e, por fim, o próprio texto. Eles complementam a narrativa jornalística, despertando diferentes sentidos no leitor. É como se diversos meios e tipos de mensagens se fundissem e estivessem à disposição do usuário, propondo diversas leituras da mesma realidade.

A memória é propiciada pelo acúmulo de informação na Web. Segundo Palácios (1999), ela é múltipla, instantânea e cumulativa. Já Gonçalves (2004) argumenta dizendo que essa memória só existe porque há o arquivo de publicações isoladas e ultrapassadas, organizadas em banco de dados. A atualização contínua mostra-se nos grandes portais, em seções como “Últimas Notícias” que fornecem informações em tempo real.

O Jornalismo e a memória na Web

O webjornalismo tem dois planos distintos. Ele alimenta a memória virtual com arquivos de notícias, mas também recorre a serviços da Internet para contextualizar e atualizar informações. Essa contextualização, propiciada pelos arquivos, enriquece historicamente o teor informativo das notícias. Dessa forma, existe uma espécie de banco de dados online que disponibiliza esse arquivo em tempo real, com “capacidade de indexação” (NOGUEIRA, 2002, p.15).

Segundo Nogueira, o webjornalismo não tem o caráter efêmero da pratica jornalística convencional, uma vez que seu presente é um “presente contínuo potencial” (2002, p.15). A notícia agora ganha uma espécie de sobrevida, afastando-se de seu conceito básico de novidade perecível: ela passa a constituir uma unidade de memória múltipla, instantânea e cumulativa (PALÁCIOS, 2002). Assim, o jornalismo online procura acumular informação passível de ser consultada a nível universal a partir das interfaces de pesquisa e bancos de dados.

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Os bancos de dados e o jornalismo na Internet

São os bancos de dados que legitimam a função de memória da Web, pois, segundo Guimarães (2003, p.19), um banco de dados online é “uma coleção de dados estruturados ou informações relacionadas entre si”. Ou seja, não são arquivos suportados aleatoriamente pelo sistema operacional. As informações disponíveis nos bancos representam aspectos do mundo real e o que se deseja armazenar pro futuro.

A arquitetura dos bancos de dados foi evoluindo com o tempo e com o desenvolvimento da tecnologia, transformando-os em uma forma cultural definidora dos produtos da mídia digital, uma vez que armazenam imagens, gráficos e objetos multimídia. Os bancos de dados, segundo Gray (2004), devem contar com linguagens de programação, gerando assim bancos inteligentes e dinâmicos, baseados em diferentes modelos e tecnologias avançadas, operando em níveis complexos e estruturando um número amplo de dados.

Os bancos de dados na era online migraram para o WWW usando linguagem HTML, passando a serem acessados por computadores pessoais e apresentando o mundo como uma coleção de itens. Assim, no caso do jornalismo online, os bancos de dados ajudam a gerar novas habilidades cognitivas, com conteúdos criativos e originais, propondo novas leituras da realidade e contextualizando a informação nova. Com eles, pode-se explorar novos gêneros no jornalismo, diversificar o conteúdo, descentralizar e dinamizar a informação. Os bancos de dados, segundo Machado (2004, p.2), têm três funções: estruturar a informação, suporte para modelos multimídia de narrativas e memória do que já foi publicado.

Culturalmente, o banco de dados é uma lista de itens que representa o mundo por meio de narrativas. Assim, eles são o centro do processo criativo da era digital.


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O hipertexto
As novidades de Ted Nelson
Hipertexto x Livros
A internet como ferramenta de memória
Jornalismo Digital
Construção das Narrativas no jornalismo virtual
Referências Bibliográficas

A construção de narrativas no jornalismo virtual

Os leitores do webjornalismo são obreiros, porque assumem uma espécie de compromisso de construção de narrativas estruturadas na interatividade permanente promovida pelo ambiente digital. Assim, o jogo da comunicação entre receptor, meio, mensagem e emissor se redimensiona totalmente e quebra paradigmas.

Gianfranco Bettetini (1993, p.75) diz que o receptor é usuário-operador que se atribui de duas funções: a de emissor e de receptor, simultaneamente. É ele quem operacionaliza e define as funções, não em mais submetido à lógica imposta pela informação. Assim, o leitor e o meio são interlocutores permanentes, que se “movimentam em um jogo de forças”.

O que acontece é que, de acordo com Nunes, surge uma espécie de diálogo legitimado pela “escolha deliberada, da circularidade e da reciprocidade constante”. Quem lê um livro ou qualquer obra textual convencional consegue penetrar no universo da obra através de sua imaginação; já no caso do mundo digital – do hipertexto – os elementos da narrativa sofrem mutações: mesmo que o jornalista estruture sua matéria de maneira convencional, isso não significa necessariamente que o leitor irá lê-la de modo linear. Existem diversas narrativas dentro de uma informação.

Assim, existe uma mudança nas relações entre quem produz e quem consome narrativas, alterando o foco central da produção da notícia. O jornalista escreve, mas o leitor é seu co-editor e está online também, demonstrando assim uma transformação profunda no panorama de produção e consumo do jornalismo.

Existem três modelos narrativos básicos para o webjornalismo: Linear (quando o conteúdo dos outros meios, como o impresso, é copiado para o ambiente digital sem adaptação à estética da Web; as matérias são lineares, e estruturados de maneira sólida, sem links); Hipertextual Básico (já apresenta iniciativas de informações extra e tentativa de links externos, sem muita interatividade) e Hipertextual Avançado (terceiro estágio do webjornalismo, com blocos de texto linkados de maneira multimídia).

O jornalismo digital está cada vez mais enraizado no cotidiano dos consumidores de informação, que constroem narrativas e utilizam os bancos de dados e acervos multimídia, ajudando a transformar a Web em um verdadeiro templo de memória para a humanidade. O futuro do webjornalismo só depende da potencialização de duas principais características, que afirmam esse modelo pós-moderno de transmitir informações.

Veja também:

Referências Bibliográficas


AQUINO, Maria Clara. Um resgate histórico do hipertexto.

BARBOSA, Suzana. Bancos de dados: agentes para um webjornalismo inteligente?
In: http://www.facom.ufba.br/.

CANAVILHAS, João Messias. A internet como memória. In: http://www.bocc.ubi.pt/.

CORDEIRO, Andréia. “O que é o hipertexto electrónico e de que forma altera a organização e a utilização dos textos?”. In: Digilitweb: http://www.uc.pt/diglit

NUNES, Ricardo. Informação multimédia: quando os leitores são construtores de narrativas. In: http://www.bocc.ubi.pt/.

REVISTA ÉPOCA. Edição n° 461, de 19 de março de 2007.

RIBAS, Beatriz. Características da notícia na Web - considerações sobre modelos narrativos. In: http://www.facom.ufba.br/.

ROCHA, Paula Jung e MONTARDO, Sandra Portella. Netnografia: incursões metodológicas na cibercultura. In: www.compos.com.br/e-compos.

SANTOS, Sandra A. P. “O Livro e o Computador: Viagens por Labirintos de Palavras”. In: Digilitweb: http://www.uc.pt/diglit

SEIXAS, Lia. “Gêneros jornalísticos digitais: critérios para definir os produtos do webjornalismo”. In: MACHADO, E. e PALACIOS, M. Modelos de jornalismo digital. Salvador: Ed. GJOL, Calandra, 2003, pp: 79-100.

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O hipertexto
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sexta-feira, 4 de maio de 2007

Referências Bibliográficas

Diego Dacax
Tatiana Aoki
AQUINO, Maria Clara. Um Resgate Histórico do Hipertexto: O desvio da escrita hipertextual provocado pelo advento da Web e o retorno aos preceitos iniciais através de novos suportes. Acesso em 11/05/2007.

BARBOSA, Suzana. Banco de Dados como metáfora para o jornalismo digital de terceira geração. In: Ciências da Comunicação em Congresso na Covilhã. III Sopcom, VI Lusocom, II Ibérico, UBI (CDROM), 2004.

BRAGA, Daniela Bertocchi de. A tecnologia não é inimiga. Observatório da Imprensa. Disponível em: <http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=332eno002> Acesso em 15/05/2007.

Canavilhas, João Messias. A Internet como Memória. Disponível em: .Acesso em: 15/05/2007.

NUNES, Ricardo. Informação multimédia: quando os leitores são construtores de narrativas. Disponível em < http://www.bocc.ubi.pt/ > Acesso em 11/05/2007.

RIBAS, Beatriz. Características da notícia na Web - considerações sobre modelos narrativos. In: Comunicação Individual II Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo – SBPJor FACOM/UFBA – Salvador – BA . Acesso em 14/05/2007.

Considerações finais

O sistema hipermidiático permite um novo conceito de acessibilidade e interação na Internet, uma vez que o usuário consegue acessar dados e informações em maior quantidade e de maneira não-linear, diferente do que ocorria com os outros meios de comunicação. Dessa forma, diversos paradigmas, especialmente os comunicacionais, são modificados no mundo virtual.

Entretanto, vale destacar que todos esses conceitos – como a arquitetura do hiperlink e o banco de dados – já foram utilizados e estudados em outros momentos da história. Mas a grande modificação que a Internet proporcionou foi a ampliação e criação de novas resoluções no uso do hiperlink e do banco de dados. E é justamente esse aumento do potencial de uso dos aplicativos que justificam o diferencial da Internet.


Diego Dacax
Tatiana Aoki Cavalcanti



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A Informação e a Memória na Era Digital
As mudanças da Internet
O hipertexto
O texto jornalístico na web
O novo conceito: Banco de Dados
Internet e memória
Referências Bibliográficas

Internet e memória

Diferentemente dos outros meios de comunicação, a Internet possui várias características que a diverge dos outros mass media. Dentre as diferenças, Gordon Bell (cf. BELL, s/d) cita quatro como sendo as principais:

- longetividade do suporte: a Internet possui cada vez mais tecnologias que permite um maior armazenamento de informações com cada vez menos espaço. Dessa maneira, o acesso a arquivos documentais (webjornais, livros, filmes, revistas) de diversas partes do globo torna-se viável e sem custos com deslocamentos.

- acessibilidade: nos meios eletrônicos, o acesso do internauta a arquivos digitais é feito mais rapidamente do que em outro tipo de Banco de Dados. Além disso, o usuário tem uma maior privacidade ao acessar documentos confidenciais.

- ferramentas de pesquisa de informação não-textual: uma das áreas que ainda está em desenvolvimento na Internet, embora sua utilização já seja feita de modo amplo. Segundo Canavilhas (s/d), na informação não-textual o usuário ainda está sujeito a certas restrições: “A procura de fotos, por exemplo, está sujeita ao sistema de indexação estabelecido pelo arquivista. O que pesquisa é o nome do ficheiro e não o conteúdo dele” (p.2).

- usabilidade: a questão da usabilidade ainda precisa ser desenvolvida, uma vez que, como afirma Canvilhas (ibidem) “pouco adianta que a base de dados contenha muita informação se o utilizador não conseguir aceder a ela de uma forma amigável”. Cumpre ao programador desenvolver interfaces aprimoradas, com sequenciamento ordenado que facilite a navegação do internauta.

Ainda de acordo com Canavilhas (s/d), alguns aspectos permitem delimitar semelhanças e diferenças da Internet com a mente humana. Uma das semelhanças é a relação de esquecimento. O autor cita que “a memória, tal como a web, perde informação, embora acabe por manter sempre uma tênue ligação que poderá, em determinadas situações, permitir a recuperação da informação” (p.3).

No que concerne às diferenças entre a web e a memória humana, o autor cita como principal o fato de que, na Internet, a representação espacial de temporalidade possui contornos diferentes, posto que passado e presente “passam a compartilhar a mesma natureza, pois o passado assume também uma das propriedades do presente ao estar disponível na memória da web” (op. cit, p. 4).



Diego Dacax
Tatiana Aoki Cavalcanti




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O novo conceito: Banco de Dados

A evolução dos meios de comunicação e o advento das novas tecnologias modificaram o cenário dos chamados entornos sociais (BARBOSA, 2004, p.02), com estruturação de todo o ambiente, no qual as ações são mediadas pelas tecnologias digitais. As fronteiras diminuem, e o acesso à informação se dá de maneira instantânea.

E a Internet, que com sua instantaneidade aparenta ser perecível (principalmente no que se refere ao webjornalismo), possui uma estrutura que permite uma coleta imensa de informações – é o Banco de Dados (BD). Segundo Barbosa (2004), “um banco de dados ou base de dados (BD) é uma coleção de dados estruturados ou informações relacionadas entre si” (p. 04).

O banco de dados não nasceu na era virtual: surgiu nos anos 70 como suporte para os meios jornalísticos na obtenção de informações, somado à contextualização do texto a fim de obter maior profundidade. Com o advento da Internet e a possibilidade de armazenamento de dados cada vez maior no mundo virtual, o BD assumiu outra importância: tanto o usuário como o jornalista podem ter acesso a esses arquivos, o que gera ainda maior interatividade entre o emissor e o receptor.

Novas possibilidades surgem com o BD, pois há uma mudança drástica na maneira de se exercer o jornalismo na Internet. Dessa forma, o jornalista pode estruturar a notícia de uma forma não-linear e rizomática – uma vez que o próprio internauta tece sua rede de informações e acessa o BD assim como o jornalista. Como é uma área nova, grande parte das mídias digitais ainda faz uso da linearidade como um resquício do jornalismo impresso.

Barbosa (2004) enfatiza as possibilidades de uso do BD nas mídias digitais:

o uso das bases de dados aliado à melhor implementação dos recursos característicos do webjornalismo, é capaz de conduzir à exploração de novas tematizações, com potencial para originar novos gêneros ou híbridos entre gêneros, assim como remediações em relação aos gêneros jornalísticos tradicionais (p. 11).


Diego Dacax
Tatiana Aoki Cavalcanti



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O texto jornalístico na web

De acordo com Ramón Salaverría (2005), não é o estilo do texto jornalístico que muda com a Internet. O texto continua conciso, objetivo e preciso, como nos demais meios de informação jornalística. Para Salaverría, a mudança se dá no que diz respeito à estrutura textual: “O que muda no ciberjornalismo não é o estilo. A verdadeira mudança tem a ver com a estrutura do texto, do discurso, alterada por conta do hipertexto” (p.1).

O advento do hipertexto implicaria, entre outras coisas, numa mudança no conceito de autor, por proporcionar a possibilidade da escrita coletiva. A enciclopédia virtual Wikipedia é um exemplo disso. Neste sítio, o leitor participa do processo de construção da informação, ele pode editar o conteúdo das informações do sítio e inserir novos links na página. No entanto, ainda são poucos os sítios da Internet que proporcionam tamanha interatividade. Segundo Aquino (s/d), com a Internet de hoje “o usuário fica limitado a escolher entre uma quantidade de links e a simplesmente navegar por entre este mar de opções, porém incluir novos rumos, ou seja, novos links, isto não lhe é facultado” (p.8).

Mesmo assim, alguns estudiosos do tema, como Nunes (s/d), afirmam que, com o advento do hipertexto, “estamos perante um processo comunicativo baseado no diálogo permanente através da escolha deliberada, da circularidade e também da reciprocidade constante” (p.5). Ou seja, Apesar da web de hoje não proporcionar uma interação que possibilite a efetiva participação na construção do conteúdo, a possibilidade de interação é, de certa forma, proporcionada ao internauta.


Diego Dacax
Tatiana Aoki Cavalcanti


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O hipertexto

Para explicar a idéia de hipertexto, Aquino (s/d) usa uma metáfora. Segundo a autora, o hipertexto é um conjunto de nós, que podem ser “palavras, páginas, imagens, gráficos ou partes de gráficos, seqüências sonoras, documentos complexos que podem eles mesmos ser hipertextos” (p.2). Essas informações não são ligadas de forma linear, como numa corda com nós, mas a maioria deles estende suas conexões de modo reticular. “Navegar em um hipertexto significa, portanto, desenhar um percurso em uma rede que pode ser tão complicada quanto possível. Porque cada nó pode, por sua vez, conter uma rede inteira” (p.2).

Ao contrário do que se pensa comumente, o hipertexto não surgiu com a Internet. Segundo Aquino:

(...) a idéia de hipertexto não é de hoje, nem surgiu com o advento da Internet, ela vem desde os séculos XVI e XVII com as chamadas marginalia. Estas seriam como índices pessoais, citações de textos, remissões a outras partes ou outros textos feitas pelos leitores dos livros da época, anotadas nos cantos das páginas destes e depois transferidas para um caderno de “lugares comuns”, para que posteriormente pudessem ser consultadas. (p.2-3)

O conceito de hipertexto serve atualmente para exprimir a idéia de escritura/leitura não-linear em um sistema de informática (Lévy, 1993, In: Ribas, s/d). Neste sistema a narrativa é marcada pela fragmentação do discurso. A possibilidade de acessar rapidamente diferentes blocos de informação através de links traduz a dinâmica do webjornalismo. Um mosaico de informações permite acesso a diferentes ângulos e percepções sobre um mesmo tempo (Ribas, s/d).

Apesar dessas múltiplas possibilidades Ribas (s/d) pondera que o hipertexto não deve ser classificado como um texto não linear, mas como um texto multilinear, pois alguns leitores estabelecem certa linearidade em sua leitura.


Diego Dacax
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As mudanças da Internet
O texto jornalístico na web
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Internet e memória
Considerações Finais
Referências Bibliográficas

As mudanças da internet

Com o advento da internet, muito se tem pesquisado e especulado acerca do futuro do jornalismo e das mídias tradicionais como o rádio, a televisão, os jornais, as revistas e outros meios impressos. De acordo com Aquino (s/d):

A Internet. Ao contrário do que alguns entusiastas pensem, é apenas mais um meio de comunicação, que traz mudanças para a sociedade, vantagens e desvantagens, mas que não irá substituir os outros meios de comunicação. Ainda que venha a ganhar destaque, já que tem como característica a multimídia, a Internet ainda tem um pequeno alcance e mesmo vindo a abranger um grande público, será apenas mais uma forma de comunicar, com suas qualidades e defeitos. (p.16)

No entanto, é possível evidenciar que a internet traz consigo diversas mudanças no modo de construção da informação e no modo como esta informação é recebida pelo público. Segundo Nunes (s/d):

Navegar passa a significar construir uma narrativa, no caso concreto, uma narrativa não linear que permite novos horizontes à informação digital. A tecnologia hipertextual coloca profundos desafios no que toca aos efeitos, não apenas sobre a escrita, mas também sobre os mecanismos de leitura (...). Pelo exposto, entendemos que a cada sujeito se abre a perspectiva de trilhar os documentos hipertextuais, de uma forma singular, eventualmente irrepetivel. (p.6)

Em relação ao texto curto, conciso, das narrativas advindas da Internet, Nunes (s/d) aponta que este modelo, típico da rede, não se iniciou na web. Na década de 80, já se articulava um modelo de leitura rápida, que estivesse de acordo com os hábitos e demandas de seus leitores:

O caso concreto do (jornal) USA Today é revelador da importância da leitura e dos novos media, articulada com os conceitos de velocidade e tempo. Quando foi pensado na sua versão impressa, houve a intenção dos seus criadores em desenvolver um produto que pudesse satisfazer as necessidades de informação de um passageiro de aeroporto. (...) O modelo de sucesso, foi transportado para a Web e desde então serve de bandeira a quem tem a responsabilidade de apresentar informação on-line. (p.1-2)


Diego Dacax
Tatiana Aoki Cavalcanti


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Referências Bibliográficas

Percurso hipertextual e sua efetiva relação com o internauta

Guilherme Campos
Diego Castro

A disposição das matérias nos sites jornalísticos e o sistema de conexão aplicado aos seus conteúdos e seus possíveis desdobramentos permitem ao usuário estabelecer um processo autônomo de navegação e de interatividade pelos conteúdos hipertextuais. A opção manifestada pelo leitor revela suas motivações internas e influências circunstanciais ou ideológicas incidentes sobre ele.

Além dessa perspectiva cultural-antropológica, a estrutura e a conexão entre os links do hipertexto (documento digital composto por diferentes blocos de informações interconectadas) podem atordoar o leitor. No artigo O que é o hipertexto electrónico e de que forma altera a organização e a utilização dos textos?, Andréia Cordeiro minimiza o caráter prejudicial atribuído por especialistas ou usuários perdidos no emaranhado de opções. “Vejo esse tipo de dificuldade como algo facilmente resolúvel através de um bom sistema de janelas, que visíveis no ecrã, podem funcionar como um mapa orientador das nossas tarefas”.

Cordeiro insere o hipertexto eletrônico em um novo paradigma, distinto dos anteriores apenas pela tecnologia mais avançada de suas ferramentas. Os primeiros paradigmas atrelados ao hipertexto datam os séculos XVI e XVII. O primeiro suporte identificado por Maria Clara de Aquino é a versão impressa do livro. A conexão entre o texto regular e as observações dos leitores seria registrada nas notas de rodapé e nas margens das páginas.

Um dos itens do artigo de Aquino, Um Resgate Histórico do Hipertexto, estabelece a cronologia de precursores do hipertexto difundido no suporte eletrônico. O pioneiro, Vannevar Bush, esboçou o Memex, espécie de computador pessoal. Ted Nélson ganhou visibilidade com o Projeto Xanadu e a intenção de armazenar, conectar e oferecer de forma arbitrária todos os documentos da biblioteca de Alexandria.

Se o suporte dos primeiros modelos de hipertexto é o livro impresso, a estrutura de fundamentação pode também recorrer a mesma estrutura. Andréia Cordeiro levanta a possibilidade do mecanismo de memória humana constituir o fundamento preponderante na formação do sistema hipertextual. Tanto o hipertexto, como a mente do homem permitem a “fluência do conhecimento, como se tratasse de uma transmissão de um fio condutor sem destinatário ou destino fixo”. A ausência de elementos de interferência nas duas extremidades do fio condutor, o aproximam do rizoma, caule subterrâneo horizontal com ramificações oriundas de outras partes do corpo que não as extremidades.

A possibilidade de acessar o hipertexto a partir de qualquer um dos conteúdos disponíveis e a autonomia do leitor na escolha da continuidade de sua navegação, não necessariamente a pré-determinada pela disposição dos links, desfaz a autonomia do texto principal e a hierarquia de leitura. Quanto maior a liberdade de atuação e os mecanismos de feedback oferecidos ao usuário, maior o nível de interatividade proporcionada.

A adoção de um modelo de interatividade livre na internet, auxiliaria, segundo Primo, na diluição das barreiras existentes entre leitor e autor do hipertexto. Caracterizado pelo autor como mútuo, esse modelo permite ampliar a fusão entre o usuário e o programador, permitindo que ambos possam incluir e remover links, criando o seu próprio percurso de navegação. A aplicação dessas variáveis ao processo de produção jornalística na web, aproveita as peculiaridades desse meio, desde recursos interativos e multimídias, até a não dependência de suportes físicos de armazenagem e transporte dos conteúdos disponíveis.

Aplicação dos conceitos hipertextuais ao atual modelo de Webjornalismo

Guilherme Campos
Diego Castro

Com a sutil, porém constante elevação do número de receptores, a prática jornalística na internet começa a despertar a atenção dos principais veículos de comunicação. A possibilidade de conciliar, de modo simultâneo, som e imagem ao texto noticioso normalmente oferecido, justifica o interesse na promissora área. Naturalmente, a efetivação dessa realidade depende da adequação do sistema produtivo na redação e da necessidade do sistema de conexão com a internet, utilizado pelos receptores, ser de banda larga.

Apesar dos contornos do novo cenário, o estilo jornalístico adotado seria o mesmo empregado em qualquer outro suporte noticioso. Para Ramon Salaverria, diretor do Laboratório de Comunicação Multimídia da Universidade de Navarra, a mudança estaria no aproveitamento das possibilidades hipertextuais, interativas e multimídias que o novo formato oferece. Em entrevista concedida em junho de 2005 na Jornada de Dez Anos de Jornalismo Digital em Portugal, Salaverria enumerou parâmetros de atuação para esses profissionais.

Ele deve se preocupar com a linguagem, as técnicas, a ética dos procedimentos na hora de obter a informação na web, o tratamento informativo num ambiente que exige uma rapidez absoluta. Os jornalistas não devem ficar presos aos formatos narrativos tradicionais, podem experimentar. A verdadeira mudança tem a ver com a estrutura do texto, do discurso, alterada por conta do hipertexto.

Dentre os novos recursos associados à internet por Salaverria, o modelo hipertextual é empregado com maior incidência no webjornalismo. O termo é caracterizado no artigo Um resgate histórico do hipertexto, como um conjunto de nós ligados por conexões. A autora, Maria Clara de Aquino ainda especifica cada um dos termos. “Nós vão desde palavras e páginas até elementos não verbais e outros hipertextos. A conexão entre esses elementos é normalmente em estrela, em formato reticular”.

Ao caracterizar o hipertexto eletrônico e o processo de alteração e organização de seus conteúdos, Andréia Cordeiro compara a estrutura hipertextual aos processos associativos do pensamento humano, principalmente por ambos se caracterizarem por uma natureza não linear, sem hierarquia ou indicadores de início e fim.

Essas concepções assumem vínculos diretos com a relativa autonomia conferida ao usuário. Lúcia Leão se refere, em O Labirinto da Hipermídia, ao leitor como um arquiteto. A atualização de suas escolhas criaria o desenho de um labirinto. Além disso, ao comparar “a tecnologia hipertextual a uma malha de informações interligadas que levam a caminhos complexos e intermináveis”, a autora recupera proposições de Jorge Luis Borges no conto A Biblioteca de Babel e retoma a concepção de cultura de Clifford Geertz:

“O conceito de cultura que eu defendo [...] é essencialmente semiótico. Acreditando, como Max Webber, que o homem é um animal amarrado a teias de significados que ele mesmo teceu, assumo a cultura como sendo uma dessas teias e a sua análise, não como uma ciência experimental em busca de leis, mas como uma ciência interpretativa, à procura do significado.” (GEERTZ, 1978 p.15).

Tecnologia Wiki

Diego Castro
Guilherme Campos

A tecnologia wiki é um suporte onde é possível que se crie produtos cooperativos como páginas da internet, softwares e outros tipos mídias intertextuais, de caráter não-linear. O que diferencia os produtos wiki dos demais existentes na Internet é a possibilidade de edição coletiva dos conteúdos pelos próprios usuários da rede.

As páginas baseadas na tecnologia wiki possuem como atributo principal o caráter de interatividade entre os internautas.

Blogs

Diego Castro
Guilherme Campos

Blogs, de acordo com Blood, são páginas com entradas (posts) organizadas em ordem cronológica, inversamente ao tempo em que foram escritas.

Os blogs tiveram uma maior difusão com o surgimento de um novo paradigma da internet chamado de Web 2.0. Nesse novo padrão, os usuários se sobrepuseram aos programadores / produtores de conteúdo e a interatividade na rede ganhou destaque. Além da presença nos blogs, a Web 2.0 mostrou todo seu potencial no desenvolvimento de páginas sob a plataforma wiki.

Nos blogs ou weblogs, como foram inicialmente conhecidos, a interatividade se faz presente, sobretudo, na inserção de comentários sobre as entradas colocadas nas páginas. A rede tecida a partir dos comentários desemboca em diálogos entre os usuários e, inclusive, em novas entradas postadas .

Outra forma de manifestação da interatividade nos blogs, é através da formação de webrings – para Recuero, comunidades virtuais onde usuários da rede estabelecem relações através de comentários mútuos em blogs. Assim, tem-se que webrings são grupos organizados de blogs que interagem entre si.

Para Salaverria, os blogs são o sintoma de uma mudança do paradigma de unidirecionalidade no jornalismo. A estrutura rizomática, própria dos hiperdocumentos da web, propicia que todos os pontos (nós) da rede se interconectem, dando uma gama variada de caminhos pelos quais o usuário pode navegar. O sistema de comentários e webrings abre espaço para que se substitua a unidirecionalidade pela não-linearidade.

Níveis de Interatividade

Diego Castro
Guilherme Campos

Há diferentes níveis de interatividade na rede. Primo classificou a interatividade em dois níveis que sintetizam situações extremas. A interatividade reativa é fraca e limitada, enquanto a interatividade mútua é tida como plena. Este segundo nível é aquele existente quando a figura do usuário e do programador / produtor de conteúdo se misturam. A interatividade mútua é ainda uma realidade distante, já que apenas as páginas wiki se aproximam da aplicação de seu conceito.

Nas páginas que utilizam a tecnologia wiki qualquer usuário pode criar ou modificar conteúdos, mas não há uma troca direta de informação entre os usuários e desenvolvedores do site.

A interatividade reativa é utilizada amplamente em toda a web. Neste nível, o usuário pode escolher por caminhos pré-determinados pelo programador / produtor de conteúdo. Há um número restrito de hiperlinks que conduzem os usuários que não podem inserir novas informações ou alterar as já existentes.

Outros canais que se aproximam da interatividade mutua são os blogs e webrings, onde pelo sistema de comentários é possível se estabelecer relações mútuas entre usuários e programadores / produtores de conteúdo.